30 dezembro 2014
Isto está a acontecer depressa demais
Amanhã é o último dia do ano. Pensava que ainda tinha mais um dia de 2014. O fim de ano está a aproximar-se em passo acelerado. Amanhã por esta hora estou a preparar-me para ir dormir a pensar que ainda faltam mais de 24 horas para a passagem de ano...
24 dezembro 2014
Embrulhos na diagonal
Eu vi este vídeo há uns tempos, e pensei, isto não é para mim. Eu nem com o vídeo acertava com isto.
Depois, numa loja, embrulharam-me uma caixa dessa maneira. Quer dizer, aproximadamente. Isto de embrulhar na diagonal até quase pode parecer simples no vídeo, e a menina que me fez o embrulho já tinha, com certeza, imensa prática, mas mesmo assim não foi tão simples como no vídeo. E eu olhava para aquela quantidade de papel, e fiquei ali tempos infindos na dúvida: explico que isto usa muito mais papel que a maneira tradicional de embrulhar presentes?
Depois, numa loja, embrulharam-me uma caixa dessa maneira. Quer dizer, aproximadamente. Isto de embrulhar na diagonal até quase pode parecer simples no vídeo, e a menina que me fez o embrulho já tinha, com certeza, imensa prática, mas mesmo assim não foi tão simples como no vídeo. E eu olhava para aquela quantidade de papel, e fiquei ali tempos infindos na dúvida: explico que isto usa muito mais papel que a maneira tradicional de embrulhar presentes?
23 dezembro 2014
Há sempre uma primeira vez
Comprei uma prenda de Natal para mim própria. Não foi uma caixa de Lego.
(Agora que penso nisso, mas como é que isto é possível?! Espero que alguma alma caridosa colmate esta falha, e já agora, verifique que não estou gravemente doente. No pior dos casos, posso sempre roubar os Legos da minha filha. Temporariamente, claro.)
(Agora que penso nisso, mas como é que isto é possível?! Espero que alguma alma caridosa colmate esta falha, e já agora, verifique que não estou gravemente doente. No pior dos casos, posso sempre roubar os Legos da minha filha. Temporariamente, claro.)
As melhores compras de Natal de sempre
Dois dias, na verdade, hora e meia vezes dois dias, na terrinha. Senhores, há lá nada melhor que sair de casa a pé, sabendo que a volta à vila (cidade, mas pronto, no meu tempo isto era uma vila) demora 10 minutos em passo acelerado como o meu, e que as paragens nas lojas são verdadeiros "pit stops", com probabilidade de sucesso elevada porque isto é a minha terra, e eu sei muito bem onde é que vou encontrar alguma coisa. Ontem despachei a primeira metade, hoje a segunda metade, algumas coisas vieram embrulhadas sem sequer pedir, porque, afinal de contas, é Natal, é tudo para embrulhar (não era). Ainda tenho mais de vinte e quatro horas para terminar embrulhos, por debaixo da árvore, e o que mais não me estiver a lembrar de momento.Até encontrei coisas em promoção, nunca visto por aqui. Apanhei fila numa única loja - onde comprei a prenda do meu pai - e só fiquei à espera porque há pessoas que são chatas como tudo com as prendas se lhes dá.
A parte com mais piada fica para quando tiver oportunidade de copiar para aqui uma fotografia, da série "Portugal no seu melhor", que me custou uma limpeza dos sapatos antes de chegar a casa. Sim, apesar de tudo, teve graça, que eu por estes dias ando bem disposta e tenho o meu sentido de humor no nível mais elevado - quase tudo me faz, pelo menos, sorrir.
A parte com mais piada fica para quando tiver oportunidade de copiar para aqui uma fotografia, da série "Portugal no seu melhor", que me custou uma limpeza dos sapatos antes de chegar a casa. Sim, apesar de tudo, teve graça, que eu por estes dias ando bem disposta e tenho o meu sentido de humor no nível mais elevado - quase tudo me faz, pelo menos, sorrir.
16 dezembro 2014
Está quase
E se cá por baixo não se vê o sol, com certeza é apenas uma questão de altitude. Mais uns dias, as férias estão a chegar.
14 dezembro 2014
Os dias cinzentos
Três semanas disto. Branco sem neve, branco à frente do nariz todas as manhãs. Visibilidade quase nenhuma.
06 dezembro 2014
Sabor do ano
2014 foi o ano em que descobri o salted caramel. Caramelo e sal. E adorei, nas várias combinações possíveis. Em gelado (Häagen-Dazs por exemplo), em rebuçados (caramelos, várias marcas), no chocolate quente (Hotel Chocolat), e até no café (Starbucks nos States, o único que entrei noutro país não tinha).
Neste momento já marchava um chocolate quente com sabor a caramelo salgado. É pena aqui não haver.
Neste momento já marchava um chocolate quente com sabor a caramelo salgado. É pena aqui não haver.
04 dezembro 2014
Recuperando a magia
A miúda já tem 6 anos. Ainda não sabe ler, ainda não aprendeu as letras todas, mas isso não tem importância. Está na idade certa para sua primeira caça às prendas. Não é porque eu me tenha lembrado da tradição - perdida há uns dois ou três anos, quando achei que o rapaz já era crescido demais para estas coisas, que uma caça às prendas para um adolescente crescido ou dá demasiado trabalho ou é demasiado fácil. No outro dia ela é que se lembrou de me fazer uma caça ao tesouro. Fez uma data de folhinhas com desenhos, e mandou-me escrever as instruções. Escondeu os papelinhos dobrados, e mandou-me procurar. No final, o grande tesouro que fui encontrar, um desenho. Aos 6 anos, quase todas as coisas envolvem desenhos - na verdade, muitos deles giríssimos, emoldurados até passavam por arte, e olhem que não destoava nada nas paredes de certos museus (estou aqui a pensar no Pinakotheke der Moderne).
Como ao irmão, cedo lhe foi explicada a história do Pai Natal. A magia do Natal não obriga à existência de velhinhos de barbas e mentiras elaboradas. Pode escrever cartas ao Pai Natal na mesma, os miúdos hoje em dia são exímios na técnica de recortar catálogos e colar em papel. Sabe perfeitamente que lá porque recortou metade das coisas do catálogo não quer dizer que as vá receber. Afinal, o pai e a mãe (e o resto da família e amigos) não têm recursos ilimitados. Já o velhote de barbas... hum... E, se calhar, por isto mesmo, anda preocupada com as prendas de Natal que tem que fazer para a família. Desenhos para todos, pois claro. Ou telemóveis de papel. De onde lhe veio a ideia, não sei bem, mas acho óptimo. Até o peluche favorito tem direito a um desenho.
Pela minha parte, acho a caça às prendas simplesmente demasiado divertida. Dar a volta à casa à procura de mais pistas é muito mais interessante que retirar coisas de debaixo da árvore. Ou de um sapatinho. Ou de uma meia. E criar uma brincadeira destas para uma criança de seis anos é um prazer.
Como ao irmão, cedo lhe foi explicada a história do Pai Natal. A magia do Natal não obriga à existência de velhinhos de barbas e mentiras elaboradas. Pode escrever cartas ao Pai Natal na mesma, os miúdos hoje em dia são exímios na técnica de recortar catálogos e colar em papel. Sabe perfeitamente que lá porque recortou metade das coisas do catálogo não quer dizer que as vá receber. Afinal, o pai e a mãe (e o resto da família e amigos) não têm recursos ilimitados. Já o velhote de barbas... hum... E, se calhar, por isto mesmo, anda preocupada com as prendas de Natal que tem que fazer para a família. Desenhos para todos, pois claro. Ou telemóveis de papel. De onde lhe veio a ideia, não sei bem, mas acho óptimo. Até o peluche favorito tem direito a um desenho.
Pela minha parte, acho a caça às prendas simplesmente demasiado divertida. Dar a volta à casa à procura de mais pistas é muito mais interessante que retirar coisas de debaixo da árvore. Ou de um sapatinho. Ou de uma meia. E criar uma brincadeira destas para uma criança de seis anos é um prazer.
02 dezembro 2014
Yin-Yang
Hoje podia falar daquelas pessoas especiais, que não só lêem certo tipo de jornais, como também regurgitam o lixo que leram. Podia falar de como às vezes me parece muito má ideia continuar por aqui, em especial em dias como o de hoje, em que podia repetir as enormidades que ouvi só para confirmar que há por aí mais gente com um pingo de razão e que consegue ver ligeiramente mais longe que o seu próprio umbigo. Podia dizer que esta crise que nunca mais acaba continua com potencial para dar para o torto nesta Europa de ricos que se acham donos da moral, e pobres culpados de tudo e mais alguma coisa.
Hoje vou esquecer-me das barbaridades do dia, fazer rewind e mandar um beijinho à TAP. Foram uns queridos, em fazerem greve e cancelarem o meu vôo de regresso só para eu poder ficar mais um dia em casa. Foi um bocadinho inconveniente, sim, mas souberam-me tão bem aquelas 23 horas extra de mim.
Hoje vou esquecer-me das barbaridades do dia, fazer rewind e mandar um beijinho à TAP. Foram uns queridos, em fazerem greve e cancelarem o meu vôo de regresso só para eu poder ficar mais um dia em casa. Foi um bocadinho inconveniente, sim, mas souberam-me tão bem aquelas 23 horas extra de mim.
23 novembro 2014
Já cheira a Natal
Tenho horror a multidões. Não gosto de espaços com muita gente, de filas, de encontrões, de me sentir apertada, não gosto ter muitos desconhecidos demasiado perto de mim.
Por causa disto, ando aqui a brincar com uma ideia para as prendas de Natal. Podia comprar tudo na net, e evitar as lojas, o centro da cidade, os shoppings, as confusões. Seria simples, só que não tenho vontade nenhuma de o fazer. Nem sei bem porquê, mas não me apetece estar com o computador à frente a escolher coisas, esperar que venham, rezar para que o carteiro não fuja a toda a velocidade com a minha encomenda antes de eu ter tempo para lhe abrir a porta. (O carteiro toca sempre nas alturas mais inconvenientes.)
Há alguns Natais atrás, já nem sei bem quantos, deliciei-me a fazer algumas compras em vésperas do Natal, à última da hora, na minha terra. A paz, o sossego, as lojas quase vazias. O descanso. Sinto-me tão tentada a deixar tudo para os últimos dias, e dar uma ajudinha ao comércio tradicional... Não fora a minha ansiedade para deixar tudo e mais alguma coisa pronta antes do dia D, era mesmo isso que eu faria. Eu quero mesmo ir para casa, comer rabanadas da minha mãe, fazer bolos com as minhas irmãs, sair a meio do dia só com um casaco dos 0-10 graus, e passar no supermercado, nas lojas de roupa (meias para o pai, check), na loja de bijuteria (coisas para as amigas, check), na loja de prendas, daquelas que deixaram de existir noutros lugares (resto da malta, check), e talvez na loja de doces e enchidos tradicionais (quem faltar, check). E se precisar de alguma coisa - lojas das manas (pijamas - check); loja dos manos (atoalhados - check); loja da miúda que andou comigo na escola (roupa para a minha menina, check); loja da amiga da mãe (meias/boxers/camisolas para o meu rapagão, check), e por falar em mãe, estabelecimento comercial fabuloso para senhoras, da outra miúda que andou comigo na escola, check.
Tanta vontade de fazer isto. Dois dias e meio para o fazer. Compras nas calmas, mesmo antes do Natal, a pé. Sem pressa para ir embora, sem stress de estacionamento, dando-me ao luxo de passar brevemente em casa para pousar sacos se quiser. As pessoas a conversarem comigo porque me conhecem, e não apenas um quanto é, verde, código, verde. A minha piolha a ser estragada com mimos pelos meus conterrâneos.
Quanto mais penso nisto, mais certo me parece. E, se antigamente era impossível arranjar papel de embrulho e fitas giros na minha terra, hoje em dia é facílimo. O senhor que nos vendia bloquinhos e borrachinhas e canetas de cheiro abandonou a outra metade do seu negócio e agora vende todo o tipo de material de arts&crafts. Até os embrulhos vão ser giros, se seguir este plano.
Gosto tanto desta ideia.
Por causa disto, ando aqui a brincar com uma ideia para as prendas de Natal. Podia comprar tudo na net, e evitar as lojas, o centro da cidade, os shoppings, as confusões. Seria simples, só que não tenho vontade nenhuma de o fazer. Nem sei bem porquê, mas não me apetece estar com o computador à frente a escolher coisas, esperar que venham, rezar para que o carteiro não fuja a toda a velocidade com a minha encomenda antes de eu ter tempo para lhe abrir a porta. (O carteiro toca sempre nas alturas mais inconvenientes.)
Há alguns Natais atrás, já nem sei bem quantos, deliciei-me a fazer algumas compras em vésperas do Natal, à última da hora, na minha terra. A paz, o sossego, as lojas quase vazias. O descanso. Sinto-me tão tentada a deixar tudo para os últimos dias, e dar uma ajudinha ao comércio tradicional... Não fora a minha ansiedade para deixar tudo e mais alguma coisa pronta antes do dia D, era mesmo isso que eu faria. Eu quero mesmo ir para casa, comer rabanadas da minha mãe, fazer bolos com as minhas irmãs, sair a meio do dia só com um casaco dos 0-10 graus, e passar no supermercado, nas lojas de roupa (meias para o pai, check), na loja de bijuteria (coisas para as amigas, check), na loja de prendas, daquelas que deixaram de existir noutros lugares (resto da malta, check), e talvez na loja de doces e enchidos tradicionais (quem faltar, check). E se precisar de alguma coisa - lojas das manas (pijamas - check); loja dos manos (atoalhados - check); loja da miúda que andou comigo na escola (roupa para a minha menina, check); loja da amiga da mãe (meias/boxers/camisolas para o meu rapagão, check), e por falar em mãe, estabelecimento comercial fabuloso para senhoras, da outra miúda que andou comigo na escola, check.
Tanta vontade de fazer isto. Dois dias e meio para o fazer. Compras nas calmas, mesmo antes do Natal, a pé. Sem pressa para ir embora, sem stress de estacionamento, dando-me ao luxo de passar brevemente em casa para pousar sacos se quiser. As pessoas a conversarem comigo porque me conhecem, e não apenas um quanto é, verde, código, verde. A minha piolha a ser estragada com mimos pelos meus conterrâneos.
Quanto mais penso nisto, mais certo me parece. E, se antigamente era impossível arranjar papel de embrulho e fitas giros na minha terra, hoje em dia é facílimo. O senhor que nos vendia bloquinhos e borrachinhas e canetas de cheiro abandonou a outra metade do seu negócio e agora vende todo o tipo de material de arts&crafts. Até os embrulhos vão ser giros, se seguir este plano.
Gosto tanto desta ideia.
21 novembro 2014
O youtube e os direitos de autor
Bem sei que volta e meia volto à carga, e é mesmo assim, o youtube
persegue a minha vida, quer eu queira quer não. Ora são vídeos que não
consigo ver, ora são vídeos que as televisões colocam no ar. Agora uma
nova questão que já devia ter suscitado longos e apaixonados debates.
Sabemos que quando alguém coloca no youtube um vídeo ou música do qual
não detém o direito de autor, o youtube bloqueia o vídeo por questões
legais. Por vezes chega ao extremo de o próprio autor ter colocado o
vídeo nessa plataforma e ainda assim o youtube bloquear o acesso.
Mas a questão que coloco é da perspectiva oposta. Dada a quantidade de programas de televisão que parasitam o youtube, pois simplesmente se limitam a emitir vídeos dele retirados - não sei por que meio, porque os termos de utilização do youtube não permitem a cópia para o computador privado - com uns artistas da estação a comentar os tais vídeos, não há ninguém que se sinta também atingido no seu direito de autor? E o youtube, também não se queixa?
Fiz uma breve pesquisa sobre o assunto, e encontrei um exemplo caricato. Uns rapazes fizeram um vídeo - música e imagem originais - e colocaram no youtube. Alguém do programa do Jay Leno foi lá buscar o tal vídeo, que depois foi transmitido, sem autorização dos autores, durante o programa. Depois disso, o vídeo original passou a ser bloqueado pelo youtube, porque, no entender deles, o copyright tinha passado a pertencer à NBC. (Mais pormenores da história em An open letter to Jay Leno. O vídeo da polémica está aqui.)
Estou como o outro, mas como é que é possível?!
A resposta, em parte, está num algoritmo que corre automaticamente e inicialmente retirou este tal vídeo pelas questões citadas acima. No entanto, a utilização de vídeos por estações de televisão cai no uso comercial, provavelmente licenciada pelo youtube. Ainda assim, é no mínimo irónico, um controlo tão apertado do direito de autor da indústria do entretenimento, versus a utilização de material produzido pelo anónimo utilizador-autor. E, depois de uma olhadela cuidadosa aos termos e condições, mais um pormenor interessante.
"The above licenses granted by you in Content terminate when you remove or delete your Content from the Website"
Portanto, a eliminação do conteúdo leva ao fim da autorização dada ao youtube para utilizar e licenciar a terceiros o vosso conteúdo. O que, no caso dos programas de televisão, me faz colocar mais uma questão - o que é que acontece aos programas cuja emissão é repetida, quando utilizam vídeos colocados por terceiros no youtube, que entretanto os apagaram?
Mas a questão que coloco é da perspectiva oposta. Dada a quantidade de programas de televisão que parasitam o youtube, pois simplesmente se limitam a emitir vídeos dele retirados - não sei por que meio, porque os termos de utilização do youtube não permitem a cópia para o computador privado - com uns artistas da estação a comentar os tais vídeos, não há ninguém que se sinta também atingido no seu direito de autor? E o youtube, também não se queixa?
Fiz uma breve pesquisa sobre o assunto, e encontrei um exemplo caricato. Uns rapazes fizeram um vídeo - música e imagem originais - e colocaram no youtube. Alguém do programa do Jay Leno foi lá buscar o tal vídeo, que depois foi transmitido, sem autorização dos autores, durante o programa. Depois disso, o vídeo original passou a ser bloqueado pelo youtube, porque, no entender deles, o copyright tinha passado a pertencer à NBC. (Mais pormenores da história em An open letter to Jay Leno. O vídeo da polémica está aqui.)
Estou como o outro, mas como é que é possível?!
A resposta, em parte, está num algoritmo que corre automaticamente e inicialmente retirou este tal vídeo pelas questões citadas acima. No entanto, a utilização de vídeos por estações de televisão cai no uso comercial, provavelmente licenciada pelo youtube. Ainda assim, é no mínimo irónico, um controlo tão apertado do direito de autor da indústria do entretenimento, versus a utilização de material produzido pelo anónimo utilizador-autor. E, depois de uma olhadela cuidadosa aos termos e condições, mais um pormenor interessante.
"The above licenses granted by you in Content terminate when you remove or delete your Content from the Website"
Portanto, a eliminação do conteúdo leva ao fim da autorização dada ao youtube para utilizar e licenciar a terceiros o vosso conteúdo. O que, no caso dos programas de televisão, me faz colocar mais uma questão - o que é que acontece aos programas cuja emissão é repetida, quando utilizam vídeos colocados por terceiros no youtube, que entretanto os apagaram?
03 novembro 2014
Da organização
Há uns tempos, candidatei-me a um trabalho* que envolvia excelentes capacidades de organização. Enquanto avaliava os prós e os contras da candidatura, do trabalho, e dos requisitos, fui falar com alguém que já tinha estado na posição que eu almejava. Ah, e tal, é preciso uma grande capacidade de organização, saber onde como e quem vai estar num determinado sítio a falar de um determinado assunto, ou a escrever sobre ele, e tal. Enquanto o homem falava, eu ouvia, pensava na minha vida, e ainda lhe disse, se ele soubesse da missa a metade não enfatizaria tanto a tal capacidade de organização, para ele um palavrão, para mim, uma espécie de amigo. Ou amiga.
Por outros motivos que não vêm ao caso nesta história, decidi que aquilo não era para mim naquele momento, e segui a minha vida com outros projectos e outros desafios. Diverti-me a fazer outras coisas no trabalho, e deixei os grandes desafios organizatórios para a vida privada - digamos que os meus calendários anuais são um tratado. Agora, que tenho uma tarefa gigante entre mãos, lembro-me do homem e das suas advertências. Até gostava de lhe explicar o que é que para mim é relativamente complicado, tirar meças com ele, só para ver a cara dele.
(*perdoem a liberdade literária da expressão, a história toda dava um livro)
Por outros motivos que não vêm ao caso nesta história, decidi que aquilo não era para mim naquele momento, e segui a minha vida com outros projectos e outros desafios. Diverti-me a fazer outras coisas no trabalho, e deixei os grandes desafios organizatórios para a vida privada - digamos que os meus calendários anuais são um tratado. Agora, que tenho uma tarefa gigante entre mãos, lembro-me do homem e das suas advertências. Até gostava de lhe explicar o que é que para mim é relativamente complicado, tirar meças com ele, só para ver a cara dele.
(*perdoem a liberdade literária da expressão, a história toda dava um livro)
31 outubro 2014
O problema das ideias mesmo boas
(daquelas ideias de engenharia)
O problema daquelas ideias tão boas, e tão inovadoras, que por mais pesquisas que faças no google, não há nada que te ajude a concretizar, é que no momento de chamar a cavalaria, isto é, pedir ajuda aos amigos, tens que abdicar do factor surpresa. Não se pode ter tudo, dizem, mas caramba, há que tentar.
(as coisas que eu faço por uma boa gargalhada)
Só posso contar que envolve coisas a espalhar-se para o ar. E o problema é como tornar atirar coisas para o ar uma coisa elegante. Já pensei em todo o tipo de artefactos, incluindo coisas com ar comprimido. Há-de haver melhor que isso.
O problema daquelas ideias tão boas, e tão inovadoras, que por mais pesquisas que faças no google, não há nada que te ajude a concretizar, é que no momento de chamar a cavalaria, isto é, pedir ajuda aos amigos, tens que abdicar do factor surpresa. Não se pode ter tudo, dizem, mas caramba, há que tentar.
(as coisas que eu faço por uma boa gargalhada)
Só posso contar que envolve coisas a espalhar-se para o ar. E o problema é como tornar atirar coisas para o ar uma coisa elegante. Já pensei em todo o tipo de artefactos, incluindo coisas com ar comprimido. Há-de haver melhor que isso.
22 outubro 2014
Um dia, os deuses saem do Olimpo
E vêem visitar os mortais.
No meu caso, a o dono da mão que escreve textos que me fazem cócegas no cérebro, objectos da minha paixão assolapada (os textos, não o dono). O perigo de encontrar um senhor assim, descobrir que ele é de carne e osso, é esse mesmo, pois de carne e osso somos todos. Mas, caramba. Inteligência, sentido de humor, capacidade de análise, cultura... um mero mortal sente-se assim, pequenino. E depois, descobrimos que o autor da nossa paixão platónica até sabe que existimos, e até já leu alguma coisa nossa, e isso lhe suscita elogios. Aí crescemos meio milímetro, continuamos a sentir-nos pequenos, mas muito felizes.
Há homens inteligentes que não usam barba. Embora possam ser indefinidos no resto - nem bonitos nem feios, nem altos nem baixos, nem gordos nem magros. A minha parte favorita não se vê, está enfiada dentro da caixa craniana. E é absolutamente fabulosa, e inspiradora. Quando for grande quero ser assim.
No meu caso, a o dono da mão que escreve textos que me fazem cócegas no cérebro, objectos da minha paixão assolapada (os textos, não o dono). O perigo de encontrar um senhor assim, descobrir que ele é de carne e osso, é esse mesmo, pois de carne e osso somos todos. Mas, caramba. Inteligência, sentido de humor, capacidade de análise, cultura... um mero mortal sente-se assim, pequenino. E depois, descobrimos que o autor da nossa paixão platónica até sabe que existimos, e até já leu alguma coisa nossa, e isso lhe suscita elogios. Aí crescemos meio milímetro, continuamos a sentir-nos pequenos, mas muito felizes.
Há homens inteligentes que não usam barba. Embora possam ser indefinidos no resto - nem bonitos nem feios, nem altos nem baixos, nem gordos nem magros. A minha parte favorita não se vê, está enfiada dentro da caixa craniana. E é absolutamente fabulosa, e inspiradora. Quando for grande quero ser assim.
21 outubro 2014
O meu reino por um fotógrafo
Um dia uma amiga dá-nos a conhecer um fotógrafo como o Carlos Delicado. Uns dias depois, estamos apaixonadas pelo trabalho do fotógrafo (a sério, espreitem o facebook deste senhor, é de derreter o coração mais empedernido, como o meu), e a desesperar por não conseguir encontrar igual... ou parecido. Mais tarde, o pânico total, o parecido está tão disponível quanto o original - ou seja, não está.
Vou ali chorar para um canto. É capaz de demorar um bocadinho.
Vou ali chorar para um canto. É capaz de demorar um bocadinho.
15 outubro 2014
A parte má dos ratos sem fio...
...é quando ficamos sem pilhas. Experimentem fazer mais do que ligar e desligar o computador sem rato. Eu só sei alt+F4 e depois usar as setas. É quase mais difícil fazer seja o que for no computador sem rato - não estou a falar de portáteis - do que encontrar pilhas novas em casa.
08 outubro 2014
Não é para qualquer um
Uma coisa é adormecer ver um filme. Acontece a qualquer um, mais tarde ou mais cedo. Eu costumo adormecer a ver DVDs. É tiro e queda. Mal ponho o filme, eu sei que vou adormecer. Não importa a hora do dia. Manhã, tarde ou noite, a combinação sofá mais filme, dá uma bela soneca. Isto é tão frequente que desenvolvi uma técnica para não ter que ver sempre apenas o início do filme. Quando começo a fechar o olho, reparo em que parte do filme está (o leitor indica há quantas horas e minutos o filme começou). Na vez seguinte é só recomeçar a ver a partir do meu marcador mental.
Ultimamente este problema agudizou-se. Eu só costumava adormecer a ver filmes. Ou documentários. Programas longos, digamos. Mas agora até a ver séries adormeço. Mesmo aquelas em que os episódios duram vinte minutos. Mesmo a lembrar-me em que sítio adormeci e a recomeçar a partir daí, já adormeci três vezes a ver o mesmo episódio da teoria do Big Bang. E não são micro sestas, eu adormeço a ver isto a seguir ao jantar e quando acordo vou para a cama. Vamos lá ver se é hoje que acabo aquele episódio que já ando a ver desde o início da semana...
Ultimamente este problema agudizou-se. Eu só costumava adormecer a ver filmes. Ou documentários. Programas longos, digamos. Mas agora até a ver séries adormeço. Mesmo aquelas em que os episódios duram vinte minutos. Mesmo a lembrar-me em que sítio adormeci e a recomeçar a partir daí, já adormeci três vezes a ver o mesmo episódio da teoria do Big Bang. E não são micro sestas, eu adormeço a ver isto a seguir ao jantar e quando acordo vou para a cama. Vamos lá ver se é hoje que acabo aquele episódio que já ando a ver desde o início da semana...
03 outubro 2014
D'oh!
Uma pessoa compra uns vestidos giros, não por futilidade, mas porque andar na rua sem roupa é proibido, e afinal até estavam com um bom preço, e depois, vai a ver, e a pechincha sai-lhe muito cara. Como, perguntam vocês, admiradoras de liquidações substanciais (nada cá de 10 ou 15% de desconto, tem que ser pelo menos 50% ou não vale como pechincha). Não reparei na etiqueta. A do preço? Não. A das instruções de lavagem. Limpeza a seco.
Tão brilhante como um dia de sol
Em Munique, Porsches são mato. Há tantos, que ninguém liga. Pretos, cinzentos, amarelos. Na minha rua, os carros mais extravagantes são um bugatti azul (de um azul estranho, e que tem uma distância do chassi ao chão que é menos que a altura da minha mão. Eu testei.). E um lamborghini roxo, e outro de um verde alface metalizado. Mas a minha rua é especial, há um mecânico aqui perto onde vão parar carros de luxo para arranjar ou para transformações bizarras - é um mistério - e por isso tenho acesso visual privilegiado aos carros mais invulgares da cidade.
Este, encontrei-o na Califórnia. Não é um Porsche com uma pintura muito elaborada, é um Porsche espelhado.
Este, encontrei-o na Califórnia. Não é um Porsche com uma pintura muito elaborada, é um Porsche espelhado.
02 outubro 2014
Admirável mundo novo
Há sítios onde a gente vai trabalhar de havaianas (ou similar). Onde quase ninguém usa fatos. Onde o sol brilha quase sempre. Onde há bicicletas à disposição para circular de edifício em edifício.
Há dias em que se descobre mais um sítio onde se podia ser feliz.
Há dias em que se descobre mais um sítio onde se podia ser feliz.
01 outubro 2014
Setembro versão ping pong
Um mês. Cinco países. Três passagens de avião, ida e volta. Outra viagem de ida e volta, na mota, pelas estradas de montanha. Esta para não passar vergonha (outra vez) na inspecção, quando o mecânico vir que a azulinha só se mexeu meia dúzia de quilómetros em dois anos.
Passeios à beira mar, Atlântico e Pacífico.
Poucas noites em casa. Cada noite em sua cama.
Um miúdo a começar a universidade (como é que isto aconteceu?). Uma miúda a entrar para a escola (foi um instante!). Trabalho, muito trabalho. Antes assim. Isto agora acalma, um bocadinho. Na confusão dos dias, das semanas, já só me orientava com o calendário. Bendito smartfone.
Passeios à beira mar, Atlântico e Pacífico.
Poucas noites em casa. Cada noite em sua cama.
Um miúdo a começar a universidade (como é que isto aconteceu?). Uma miúda a entrar para a escola (foi um instante!). Trabalho, muito trabalho. Antes assim. Isto agora acalma, um bocadinho. Na confusão dos dias, das semanas, já só me orientava com o calendário. Bendito smartfone.
04 setembro 2014
Selfies
Apanhei um colega a tirar uma selfie a meio do dia. Perguntei-lhe se queria que lhe tirasse uma foto com o telemóvel dele. Não foi preciso. Ele estava só a provar que estava no trabalho. Acho que foi uma das conversas mais estranhas de sempre.
02 setembro 2014
O regresso
Perguntam-me, incrédulos, se vi o Verão. Pois não vi outra coisa, até que voltei.
A miúda pergunta se já é Inverno. Não, ainda é Verão. O Verão então deve ter trocado com o Outono. Pois, se calhar.
O amigo espanhol pergunta-me como estou. Estamos iguais, amigo, os anos começam a pesar e esta tradição de regressar directamente do verão como o conhecemos para o frio e chuva, é cada vez mais desagradável. Sim, daqui a umas semanas esquecemo-nos. Uma pessoa embrenha-se no trabalho e nas rotinas e o resto fica em segundo plano durante uns meses.
Almocei truta com batatas fritas. Nunca gostei de truta. Tinha muitas espinhas, quase me engasguei. Nem comi sobremesa, fruta ou o que fosse.
Despachei uma data de pendentes. Várias pilhas deles. Lembrei-me que tenho um blogue.
A miúda pergunta se já é Inverno. Não, ainda é Verão. O Verão então deve ter trocado com o Outono. Pois, se calhar.
O amigo espanhol pergunta-me como estou. Estamos iguais, amigo, os anos começam a pesar e esta tradição de regressar directamente do verão como o conhecemos para o frio e chuva, é cada vez mais desagradável. Sim, daqui a umas semanas esquecemo-nos. Uma pessoa embrenha-se no trabalho e nas rotinas e o resto fica em segundo plano durante uns meses.
Almocei truta com batatas fritas. Nunca gostei de truta. Tinha muitas espinhas, quase me engasguei. Nem comi sobremesa, fruta ou o que fosse.
Despachei uma data de pendentes. Várias pilhas deles. Lembrei-me que tenho um blogue.
29 agosto 2014
Está quase
Mais uns dias, e o único azul que vou ver é nos olhos das pessoas à minha volta.
Como dizia um emigrante num programa da SIC no outro dia, o que custa mais é a primeira semana. A mim, duas coisas. A mais imediata, o levantar cedo. A outra é o almoço.
Como dizia um emigrante num programa da SIC no outro dia, o que custa mais é a primeira semana. A mim, duas coisas. A mais imediata, o levantar cedo. A outra é o almoço.
12 agosto 2014
11 agosto 2014
Não prima pela beleza
Deu com muita gente em doida, e por causa dele estou a ler um livro genial. Daqueles que deviam ser obrigatórios para toda a gente. Na minha humilde opinião de fanática por números. O que eu gostava de conseguir viver de ar, e passar o resto da vida a resolver problemas matemáticos. (Ainda tentei, numa vida passada. Era feliz, mas muito magrinha.)
"Pierre de Fermat" by This file is lacking author information. - http://www-groups.dcs.st-and.ac.uk/~history/PictDisplay/Fermat.html. Licensed under Public domain via Wikimedia Commons. |
27 julho 2014
A minha praia
Encaro as férias como morar temporariamente noutro sítio - porque não gosto de mudanças. Ficar mais que alguns dias num lugar tem que ter uma aparência de permanência. Crio rapidamente hábitos, gosto da familiariedade. Não sinto necessidade de estar sempre a experimentar coisas novas. Sei que gosto muito do meu café com leite, sumo de laranja e torrada de manhã, não quero trocar por salmão fumado, champanhe e tostas. Ou outra coisa qualquer. Se experimentar um restaurante novo e gostar, volto lá vezes sem conta. Gosto da minha praia. Conheço muitas outras, já fui frequentadora habitual, ano após ano, de mais que uma, ao longo da costa, mas agora, esta é a minha. Escolhida por mim, mesmo nos anos em que ia de férias para outros lados, era a esta que eu vinha parar uma e outra vez. Há coisas a que não há como escapar.
Dou um passeio ao longo de outras praias, observo a quantidade de gente, os comportamentos dos frequentadores, as ondas, as rochas, o tipo de pedras e conchinhas, se e quando tem algas. A minha praia é melhor, fico por lá. Sei quem é o nadador salvador, converso com a senhora do bar, conheço todos os vendedores de bolas de berlim e os seus pregões e forma de andar. Os vizinhos das manhãs, são sempre os mesmos, ano após ano. Reformados, compraram apartamentos à beira-mar, e voltam à terra deles só quando precisam de tratar de alguma burocracia. Ou então de uma consulta, sintoma do estado do país, quando se têm que fazer 300 quilómetros para ir ao médico. Abro a tabela de marés religiosamente, gosto de estar a par das marés, alta e baixa, e das alturas respectivas. Interesso-me pela previsão da actividade piscícola. Sei até onde vai a água quando a maré alta chega aos 3,4m e que, quando chega aos 3,9m, quase não há espaço para toalhas. Quando a maré baixa até aos 0,4m as rochas estão o mais descobertas possível, e isto acontece, no máximo dois dias por mês. Pela lua cheia os peixes ficam doidos, andam em cardumes quase à superfície, vêem-se-lhes as bocas a tentar apanhar não sei bem quê. Os maiores, mais sagazes, nadam mais fundo. As gaivotas deliciam-se com a pescaria fácil. As mais jovens comem até não conseguirem levantar vôo.
Há falésias lindas, em risco de cair, sinais que indicam perigo, olimpicamente ignorados por algumas pessoas. Numa zona, fazem quase um círculo, onde adolescentes jogam vólei ao fim da tarde. Noutra zona, as falésias desenham uma baía, cortam as ondas, criam uma zona de calmaria, quase um lago. Aí ancoram veleiros e barcos a motor dias inteiros, tornando-se parte da paisagem.
Na época balnear, os serviços de praia fecham às sete da tarde. Na verdade, tudo tem horário, e nem é preciso relógio para saber as horas na minha praia. Perto do meio dia a maioria das pessoas vai embora. Pelas quatro chegam outras. Há poucos que venham de manhã e regressem à tarde. Alguns chegam pelo meio dia e abalam pelas quatro ou cinco horas. Pelas seis, a praia começa a esvaziar, e às sete já fica muito pouca gente. Depois das sete, por vezes, aparece um ou outro cão, apesar de proibido. Às oito e meia, quando a praia já está toda à sombra e o sol prestes a pôr-se, vão embora os últimos entusiastas. Amanhã há mais.
25 julho 2014
hummm
A miúda está a passar as melhores férias de sempre - tem a amiga com ela.
Já a mãe, não consegue perceber porque é que isto é muito mais cansativo que as férias normais. Tem dias em que se lembra do trabalho com nostalgia. Não fora a chuva - eu gosto do meu verão sem ela - arrumava a tralha e ia embora.
Já a mãe, não consegue perceber porque é que isto é muito mais cansativo que as férias normais. Tem dias em que se lembra do trabalho com nostalgia. Não fora a chuva - eu gosto do meu verão sem ela - arrumava a tralha e ia embora.
21 julho 2014
A admirar a curvatura da terra
Daqui até ao horizonte, há terra e mar. Ao fundo, a curvatura azul, uma linha de horizonte quase perfeitamente definida. Compreende-se que os antigos pensassem que depois não havia nada, apenas um abismo, morte certa, uma enorme cascata talvez. Barcos de pesca e veleiros, andorinhas e gaivotas. Queria apanhar o barco para aquele ponto entre o céu e a terra, lá ao fundo, certa que nunca o alcançarei. No entanto, em cobrindo esta distância que vai daqui a esse ponto, chegarei a um sítio onde o horizonte em volta é um círculo perfeito. Um perfeito círculo azul.
19 julho 2014
Como as cerejas
Morreu João Ubaldo Ribeiro, membro da Academia Brasileira de Letras. O Globo, publica aqui a sua última crónica, intitulada "o correto uso do papel higiênico". Ia escrever que era sobre o papel higiénico, mas detive-me, nada mais longe da realidade. É sim um grito contra o controlo e limitação das liberdades individuais. Não vou fingir que sei quem foi João Ubaldo Ribeiro. Provavelmente, hoje foi a primeira vez que li alguma coisa escrita por ele. Felizmente, quando um escritor morre, os seus escritos não se vão com ele. Por isso, hoje pode ter sido o primeiro dia em que li palavras escritas por este senhor, mas não será, com certeza, o último. O que eu gostei de uns parágrafos desta crónica. Do jogo de palavras, da sonoridade, da revolta expressa na hipotética regulamentação do uso do papel higiénico. E mais que isso, há tantos anos que não ouvia ou lia a palavra piparote. Palavra esta que me levou à minha infância imediatamente, à música de José Barata Moura, "o rabanete saltitão". Não encontrei nenhum vídeo no youtube, apenas a letra, que ainda sabia de cor ("...veio um burro aos trambolhões e mandou-lhe um piparote...").
Voltando à crónica, o outro ponto alto, de regresso à infância, é quando o autor utiliza oito adjectivos para caracterizar o espírito desta mania de controlar e limitar as liberdades individuais. E ao ler essa lista de adjectivos saltam-me à memória dois ou três livros da colecção que está no quarto da minha filha. A musicalidade que tem a leitura de uma boa quantidade de adjectivos seguidos, a graça que traz a um texto.
Esta crónica, escrita para adultos, desperta a criança que há em mim. Há pouca gente a escrever assim.
Voltando à crónica, o outro ponto alto, de regresso à infância, é quando o autor utiliza oito adjectivos para caracterizar o espírito desta mania de controlar e limitar as liberdades individuais. E ao ler essa lista de adjectivos saltam-me à memória dois ou três livros da colecção que está no quarto da minha filha. A musicalidade que tem a leitura de uma boa quantidade de adjectivos seguidos, a graça que traz a um texto.
Esta crónica, escrita para adultos, desperta a criança que há em mim. Há pouca gente a escrever assim.
16 julho 2014
A mosca na sopa
Fui ver um apartamento de férias para alugar. Não era para mim. A senhora da imobiliária combinou tudo tintim por tintim, e mais tarde, quando o interessado telefonou, já não se lembrava de nada. Nem de onde era o apartamento, nem para quando, nem que eu lá tinha ido. "São tantos, eu já não me lembro, tenho que ir ver os meus apontamentos." Mais tarde, referi o interessado à minha visita. Que lembrasse a senhora da imobiliária do meu acompanhante, que falou pelos cotovelos. Reconhecimento instantâneo. Não é que funcionou?
13 julho 2014
Quantas vezes toca o carteiro
Em Munique, há vários serviços de entrega de correspondência. Por isso mesmo, há vários carteiros, cada qual com as suas tarefas, e as suas manias.
O que traz cartas costuma passa normalmente de manhã, antes de eu ir trabalhar. Vem na sua bicicleta amarela com um espaço gigante para a correspondência na frente e um apoio para a bicicleta se aguentar de pé quando ele sai para meter as cartas na caixa do correio. Não toca à campainha, e não costuma dar sequer os bons dias se uma pessoa se cruza com ele à porta. Mesmo nos dias de sol.
Durante o dia, se houver encomendas a receber, um dos outros aparece. Pode ser a qualquer hora, de segunda a sábado, uma carrinha da DHL ou outras, conforme. A maior parte destes condutores-carteiros devem ser parentes do Speedy Gonzalez. Até conduzem relativamente devagar, embora estacionem sempre mesmo em frente à porta onde vão fazer a entrega, mesmo que seja em segunda fila e estejam a empatar o trânsito. Mas não tocam duas vezes à campainha. Tocam uma vez (alguns desconfio que nem tocam), e começam logo a preencher o aviso para se ir recolher a encomenda à estação.
Agora imaginem que estão em casa, e é sábado de manhã. Ainda estão na cama porque a semana de trabalho foi comprida, cansativa, e se calhar ontem ainda tiveram um jantar de amigos, ou foram a um concerto, ou para os copos. Toca a campainha. A primeira reacção é "que se lixe, vão chatear outro", porque ainda estão ensonados e só pensam nas testemunhas de jeová que têm por hábito bater à porta nas alturas mais inconvenientes. Mas passados uns segundos lembram-se daquela coisa que encomendaram e pela qual têm estado ansiosamente à espera. E saltam da cama porque as filas na estação de correios são sempre tão longas, e os correios são longe, e depois só a partir de segunda é que poderiam ir buscar a encomenda. Ao saltar da cama, olham para o que trazem (ou não) vestido. Correm para o roupão, embrulham-se a ele, e dirigem-se a toda a velocidade para a porta. Um aviso de encomenda é uma coisa que um carteiro experiente preenche em muito poucos segundos. Eles nem sequer se preocupam em escrever correctamente o nome do destinatário, põem a hora e está a andar. Chegam à porta, trancada, gritam "espere aí!", procuram a chave, abrem a porta, e saem, descalços e tudo. Ufa. Uma ida aos correios evitada. Voltam para dentro e olham-se ao espelho. É por isto que é só nos filmes que as mulheres abrem a porta ao carteiro em lingerie .
O que traz cartas costuma passa normalmente de manhã, antes de eu ir trabalhar. Vem na sua bicicleta amarela com um espaço gigante para a correspondência na frente e um apoio para a bicicleta se aguentar de pé quando ele sai para meter as cartas na caixa do correio. Não toca à campainha, e não costuma dar sequer os bons dias se uma pessoa se cruza com ele à porta. Mesmo nos dias de sol.
Durante o dia, se houver encomendas a receber, um dos outros aparece. Pode ser a qualquer hora, de segunda a sábado, uma carrinha da DHL ou outras, conforme. A maior parte destes condutores-carteiros devem ser parentes do Speedy Gonzalez. Até conduzem relativamente devagar, embora estacionem sempre mesmo em frente à porta onde vão fazer a entrega, mesmo que seja em segunda fila e estejam a empatar o trânsito. Mas não tocam duas vezes à campainha. Tocam uma vez (alguns desconfio que nem tocam), e começam logo a preencher o aviso para se ir recolher a encomenda à estação.
Agora imaginem que estão em casa, e é sábado de manhã. Ainda estão na cama porque a semana de trabalho foi comprida, cansativa, e se calhar ontem ainda tiveram um jantar de amigos, ou foram a um concerto, ou para os copos. Toca a campainha. A primeira reacção é "que se lixe, vão chatear outro", porque ainda estão ensonados e só pensam nas testemunhas de jeová que têm por hábito bater à porta nas alturas mais inconvenientes. Mas passados uns segundos lembram-se daquela coisa que encomendaram e pela qual têm estado ansiosamente à espera. E saltam da cama porque as filas na estação de correios são sempre tão longas, e os correios são longe, e depois só a partir de segunda é que poderiam ir buscar a encomenda. Ao saltar da cama, olham para o que trazem (ou não) vestido. Correm para o roupão, embrulham-se a ele, e dirigem-se a toda a velocidade para a porta. Um aviso de encomenda é uma coisa que um carteiro experiente preenche em muito poucos segundos. Eles nem sequer se preocupam em escrever correctamente o nome do destinatário, põem a hora e está a andar. Chegam à porta, trancada, gritam "espere aí!", procuram a chave, abrem a porta, e saem, descalços e tudo. Ufa. Uma ida aos correios evitada. Voltam para dentro e olham-se ao espelho. É por isto que é só nos filmes que as mulheres abrem a porta ao carteiro em lingerie .
11 julho 2014
Optimismo é
Ver a repetição do Brasil-Alemanha, e voltar a torcer pelo Brasil.
(Mas como é que o Brasil não marcou uns 4 ou 5 golos???)
(Mas como é que o Brasil não marcou uns 4 ou 5 golos???)
07 julho 2014
Se eu morrer, espero não ter deixado a diversão para o fim
Quando andava na primária, a professora dava-nos os testes (as provas!) de matemática e meio físico ao mesmo tempo. Metade da turma (classe!) fazia o de matemática, a outra metade fazia o de meio físico, assim na mesma mesa (carteira!) que dava para dois alunos podiam-se fazer dois testes simultaneamente sem haver grandes riscos de copianço. Que era coisa que nem passava pela cabeça daquelas criancinhas inocentíssimas, mesmo os mais mafarricos, a ideia de alguma vez copiar só apareceu muito mais tarde, sob influência de ter muita gente debaixo do mesmo tecto, no ciclo preparatório, isto se não foi já no ensino secundário.
Na primária, dizia eu, tínhamos que escolher entre fazer primeiro a prova de meio físico ou de matemática, e isto em acordo com o nosso colega de carteira, que faria a outra prova. Eu e a minha colega nunca tínhamos discussões sobre o assunto. Ambas gostávamos mais de matemática, e menos de meio físico, mas tínhamos atitudes diametralmente opostas sobre o que deveria vir primeiro. Eu preferia começar pela matemática, a minha colega pelo meio físico. Para mim vinha primeiro o prazer, para ela, vinha primeiro a chatice (ia escrever obrigação, mas na verdade, ambas as provas eram uma obrigação, não havia como escapar a nenhuma delas).
Mais tarde, numas férias de verão daquelas mesmo antes de me começar a interessar por rapazes (se bem que isto nem venha ao caso), a minha família combinou com uma família amiga irmos juntos para o Algarve. Em chegando lá, eu e a filha destes amigos demos um passeio de reconhecimento e catalogámos minuciosamente todas as coisas que queríamos fazer durante as férias. Tínhamos combinado fazer uma coisa da lista por dia. Infelizmente para mim, logo num dos primeiros dias fiquei doente, e em vez de ir riscando os items já completados da lista de diversões, passei o resto das férias no hospital ou na cama, fechada debaixo de tecto. Jurei que nunca mais deixava nada divertido para amanhã.
Entretanto, com a idade adulta, vou riscando cada vez mais as coisas que não gosto ou não me interesso das listas de coisas a fazer - sendo que este tipo de coisas só aparece como sugestão de outras pessoas. A vida é curta para desperdiçar com coisas que não valem a pena.
Na primária, dizia eu, tínhamos que escolher entre fazer primeiro a prova de meio físico ou de matemática, e isto em acordo com o nosso colega de carteira, que faria a outra prova. Eu e a minha colega nunca tínhamos discussões sobre o assunto. Ambas gostávamos mais de matemática, e menos de meio físico, mas tínhamos atitudes diametralmente opostas sobre o que deveria vir primeiro. Eu preferia começar pela matemática, a minha colega pelo meio físico. Para mim vinha primeiro o prazer, para ela, vinha primeiro a chatice (ia escrever obrigação, mas na verdade, ambas as provas eram uma obrigação, não havia como escapar a nenhuma delas).
Mais tarde, numas férias de verão daquelas mesmo antes de me começar a interessar por rapazes (se bem que isto nem venha ao caso), a minha família combinou com uma família amiga irmos juntos para o Algarve. Em chegando lá, eu e a filha destes amigos demos um passeio de reconhecimento e catalogámos minuciosamente todas as coisas que queríamos fazer durante as férias. Tínhamos combinado fazer uma coisa da lista por dia. Infelizmente para mim, logo num dos primeiros dias fiquei doente, e em vez de ir riscando os items já completados da lista de diversões, passei o resto das férias no hospital ou na cama, fechada debaixo de tecto. Jurei que nunca mais deixava nada divertido para amanhã.
Entretanto, com a idade adulta, vou riscando cada vez mais as coisas que não gosto ou não me interesso das listas de coisas a fazer - sendo que este tipo de coisas só aparece como sugestão de outras pessoas. A vida é curta para desperdiçar com coisas que não valem a pena.
06 julho 2014
É o caraças pá
O que é que se faz quando a via verde não apita nas SCUT?
1- Pânico
2- Pesadelos
3- Esperar que algum serviço de atendimento abra (dia e meio), para perguntar
4- Pesquisas na net - resultado inconclusivo
5- aaaaaaaaaaaaaaaaaarghhhhhhhhhhhhhh
6- Culpar o governo pelo estado da Nação
7- Tirar conclusões sobre o país, perguntar-se mas como é que isto é possível - sendo que "isto" cobre múltiplas situações, como o estado as coisas, o país não estar às moscas, a falta de justiça, o como é possível viver com o jugo da culpa de tudo e mais alguma coisa sempre às costas (sim, culpa de ter eleito ou não ter votado nesta gente ou noutra, culpa porque aconteça o que acontecer a filosofia é de que se é culpado até prova em contrário, e mesmo aí, ainda haverá dúvidas, culpa de o dispositivo que comprámos e apitou noutros locais, de repente ter decidido não funcionar e a injustiça que é comprarmos uma porcaria de um aparelho que quando não funciona, sem aviso, nos caia em cima o custo da portagem mais taxas de tudo e mais alguma coisa. E taxas sobre a venda de porcarias que nos deviam facilitar a vida e acabam por nos dar ainda mais dores de cabeça? Nada.
8- Variar entre as alternativas 1 a 7.
1- Pânico
2- Pesadelos
3- Esperar que algum serviço de atendimento abra (dia e meio), para perguntar
4- Pesquisas na net - resultado inconclusivo
5- aaaaaaaaaaaaaaaaaarghhhhhhhhhhhhhh
6- Culpar o governo pelo estado da Nação
7- Tirar conclusões sobre o país, perguntar-se mas como é que isto é possível - sendo que "isto" cobre múltiplas situações, como o estado as coisas, o país não estar às moscas, a falta de justiça, o como é possível viver com o jugo da culpa de tudo e mais alguma coisa sempre às costas (sim, culpa de ter eleito ou não ter votado nesta gente ou noutra, culpa porque aconteça o que acontecer a filosofia é de que se é culpado até prova em contrário, e mesmo aí, ainda haverá dúvidas, culpa de o dispositivo que comprámos e apitou noutros locais, de repente ter decidido não funcionar e a injustiça que é comprarmos uma porcaria de um aparelho que quando não funciona, sem aviso, nos caia em cima o custo da portagem mais taxas de tudo e mais alguma coisa. E taxas sobre a venda de porcarias que nos deviam facilitar a vida e acabam por nos dar ainda mais dores de cabeça? Nada.
8- Variar entre as alternativas 1 a 7.
28 junho 2014
É a história da minha vida
A miúda sabia que tinha que ir. Estava na hora, não valia a pena demorar, pedinchar, choramingar, entreter. Deixei-a naquilo, por um bocado. Depois disse-lhe: vá, pára de engonhar, estão à tua espera e à minha também.
Quem ouviu, riu-se. Compreendo, pelo factor supresa, além de que a palavra tem alguma graça onomatopeica. Na verdade, também não é algo que se diga muitas vezes. Engonhar, aplicava-se ali tão bem, era a palavra perfeita. Se esta causa sorrisos, o que teria causado um "chapar a reca". Ora aí está uma expressão que até a mim me faz rir, de tão raras vezes que ainda faz parte do vocabulário.
Quem ouviu, riu-se. Compreendo, pelo factor supresa, além de que a palavra tem alguma graça onomatopeica. Na verdade, também não é algo que se diga muitas vezes. Engonhar, aplicava-se ali tão bem, era a palavra perfeita. Se esta causa sorrisos, o que teria causado um "chapar a reca". Ora aí está uma expressão que até a mim me faz rir, de tão raras vezes que ainda faz parte do vocabulário.
17 junho 2014
Saudades do VHS
DVD novo, uma série qualquer. A meio, um dos discos empanca. Tenta repetir, tenta voltar atrás. Parou. Desliga e volta a ligar. Eject (podia ser eejit desta vez, seria apropriado). Recomeça. Chega à frente, onde é que a gente ia. Pronto, desta vez decidiu funcionar. As memórias devem ser traiçoeiras. Não me lembro de um VHS alguma vez simplesmente decidir deixar de funcionar a meio. Ou de algum problema que não se resolvesse com fita cola. O que é que faria o McGyver?
13 junho 2014
Lista
1. O feedly já está a funcionar outra vez. Fiz um update à barra lateral para o próximo azar que aconteça, e bem que precisava, estava por lá uma lista imensa de links para lugar nenhum. Lembrei-me que já ando nisto dos blogues há uns 10 anos, e alguns dos meus favoritos, também. Por falar em 10 anos, à conta de não perder tempo no feedly, fiz uma limpeza ao disco onde guardo fotos, e cheguei há conclusão que há 10 anos atrás era bem gira. Uma vez ouvi alguém dizer que nunca vamos ficar mais bonitos do que o que somos hoje, e, provavelmente, é bem verdade. (Mas assim de repente, a minha avó com 84 anos tem uma pele bem macia, e não me parece nada mais feia que quando eu era pequena.)
2. Esta semana de trabalho foi curta, e a próxima também vai ser - na quinta, mais um feriado, olarila, e vem mesmo a calhar. Ainda assim, tive tanta coisa para fazer que hoje ao chegar do trabalho só pensava que estava a precisar de um dia de férias - e só passado um bom bocado é que me lembrei que amanhã é sábado, pelo que não tenho que meter férias nenhumas, e respirei de alívio.
3. Ouvi falar em transformadas de Laplace e entrei em quase pânico por praticamente não me lembrar como funcionam, nem ter um livro à mão para consultar. Esta geração de miúdos, engenheiros no forno, não usa livros, tem os apontamentos todos no computador, depois perguntam coisas e esperam que uma pessoa vá automaticamente à secção do cérebro correcta, limpe as teias de aranha em menos que nada, e comece a debitar a matéria. Nada mais longe da verdade. Nas últimas férias encontrei uns apontamentos meus da faculdade, velhinhos velhinhos, mas perfeitamente legíveis, comecei a folhear, constatei que alguns deles eram de uma das minhas cadeiras favoritas (e do meu professor favorito), e não me lembrava de nada daquilo - embora ainda tenha na memória, a maneira como o professor dava as aulas,os acetatos as transparências, a primeira aula em que nos falou do primeiro computador, o eniac, e da arpanet, e outras coisas mais. Microprocessadores e programação a tão baixo nível que eu já nem me lembrava que aquilo sequer existia, quanto mais como se faz. Às vezes apetecia-me voltar para a faculdade e fazer o curso outra vez. Ou pelo menos, uma parte dele. (E depois passa-me que isto de trabalhar também tem as suas vantagens, e sempre posso comprar os livros e relembrar tudo o que me apetecer.) Suponho que também seja para isso que servem os filhos, para fazerem perguntas das boas, e nós podermos dizer que devíamos saber a resposta, mas como já não nos lembramos, vamos ter que investigar também, e depois ficamos todos a saber.
2. Esta semana de trabalho foi curta, e a próxima também vai ser - na quinta, mais um feriado, olarila, e vem mesmo a calhar. Ainda assim, tive tanta coisa para fazer que hoje ao chegar do trabalho só pensava que estava a precisar de um dia de férias - e só passado um bom bocado é que me lembrei que amanhã é sábado, pelo que não tenho que meter férias nenhumas, e respirei de alívio.
3. Ouvi falar em transformadas de Laplace e entrei em quase pânico por praticamente não me lembrar como funcionam, nem ter um livro à mão para consultar. Esta geração de miúdos, engenheiros no forno, não usa livros, tem os apontamentos todos no computador, depois perguntam coisas e esperam que uma pessoa vá automaticamente à secção do cérebro correcta, limpe as teias de aranha em menos que nada, e comece a debitar a matéria. Nada mais longe da verdade. Nas últimas férias encontrei uns apontamentos meus da faculdade, velhinhos velhinhos, mas perfeitamente legíveis, comecei a folhear, constatei que alguns deles eram de uma das minhas cadeiras favoritas (e do meu professor favorito), e não me lembrava de nada daquilo - embora ainda tenha na memória, a maneira como o professor dava as aulas,
12 junho 2014
09 junho 2014
A melhor coisa da Alemanha, ou, pelo menos, da Baviera
Nesta altura do ano, são os morangos. Apanhados nos campos, em redor da cidade (mas a pagantes, não há cá borlas para ninguém), ou então comprados num quiosques especiais que só vendem produtos da época, na época - morangos por estes dias, espargos até há pouco tempo, em breve virão as framboesas e os mirtilos.
Os outros morangos, os dos supermercados, já há muito que chegaram de Espanha, vermelhos, vermelhos e verdes, grandes, rijos, com pouco ou nenhum sabor. Suspeito que Huelva fornece morangos à Europa toda. Os espanhóis chamam fresas aos morangos, mas a estes gigantes andaluzes chamam freson.
Gosto muito destes morangos bávaros, doces e saborosos, apanhados apenas quando estão maduros. Os pés retiram-se puxando e rodando, com o polegar e indicador. Sabem, surpreendentemente, a morango, e o espanto é a sensação que se tem quando se come um, que é a de se sentir que isto, sim, sabe a morango, tudo o resto é uma reles imitação. Apanhados hoje, para vender hoje, dizem no quiosque. Enquanto durarem, não se come outra fruta cá por casa. Deliciosos.
Os outros morangos, os dos supermercados, já há muito que chegaram de Espanha, vermelhos, vermelhos e verdes, grandes, rijos, com pouco ou nenhum sabor. Suspeito que Huelva fornece morangos à Europa toda. Os espanhóis chamam fresas aos morangos, mas a estes gigantes andaluzes chamam freson.
Gosto muito destes morangos bávaros, doces e saborosos, apanhados apenas quando estão maduros. Os pés retiram-se puxando e rodando, com o polegar e indicador. Sabem, surpreendentemente, a morango, e o espanto é a sensação que se tem quando se come um, que é a de se sentir que isto, sim, sabe a morango, tudo o resto é uma reles imitação. Apanhados hoje, para vender hoje, dizem no quiosque. Enquanto durarem, não se come outra fruta cá por casa. Deliciosos.
Da comida e do calor
Vamos no terceiro dia com 30 graus. Sol, calor, sossego, porque calhou num fim de semana, prolongado ainda para mais. Pela terceira vez, a dúvida, o que é que se come ao almoço com este calor? Não me apetece comer nada, mas tenho fome. O fogão é Satanás encarnado (hihi), não quero comida quente. Apetecia-me pão com chouriço - não sei porquê - mas a única maneira de comer uma iguaria destas é fazê-lo e isso, além de envolver utilizar o forno, o que é impensável, implica paciência que eu não tenho. Adoro pão com chouriço, que cá não há, e nem me importo de o fazer, mas o pão precisa sempre de tempo em repouso para levedar, e isso não tenho em abundância. Eu queria pão com chouriço, mas era já, não daqui a três horas.
Portanto sobram as alternativas: gelado, iogurte, fruta, salada. Salada nem pensar, almoço salada quase todos os dias, estou farta de salada. Mesmo que vá a um restaurante o problema mantém-se e as alternativas não são melhores. O que vale é que há uns italianos ao fundo da rua, por assim dizer, que têm gelados e batidos. E piza, e massa, também. Pão com chouriço é que nada.
Portanto sobram as alternativas: gelado, iogurte, fruta, salada. Salada nem pensar, almoço salada quase todos os dias, estou farta de salada. Mesmo que vá a um restaurante o problema mantém-se e as alternativas não são melhores. O que vale é que há uns italianos ao fundo da rua, por assim dizer, que têm gelados e batidos. E piza, e massa, também. Pão com chouriço é que nada.
07 junho 2014
O que não se sabe
Convivo diariamente com gente que, de cada vez que há uma discussão sobre um assunto qualquer, ou só abre a boca para dizer seja o que for se tiver mesmo a certeza, ou fica caladinha até poder ir confirmar, e mais tarde dá a sua opinião. Pergunto-me se as pessoas normais ainda discutem entusiasticamente algum assunto que possa ser rapidamente resolvido com uma pesquisa no google. Ainda que o google não seja o supra-sumo das certezas, nesta era de telefones inteligentes, em que andamos todos (ou quase) de internet no bolso, haverá ainda discussões que não sejam rapidamente rematadas com "a resposta é isto", seguida da solução. Admito que haja questões sem solução nenhuma, para as quais qualquer motor de pesquisa apenas possa juntar mais uns pontos de vista, mas para as outras (quando é que Portugal ganhou à Alemanha da última vez), ainda há quem pense que ganhou uma discussão só porque falou mais alto, ou mais tempo?
Não posso estar no campo
Descobri que sou alérgica ao trabalho. Manual. No jardim. Há lá coisas que crescem e picam braços, e pernas. Umas são plantas, outras animais pequenos, que quase nem se vêem, mas que se sentem. As pernas e os braços ficam vermelhos, com pintas e riscos, e fazem comichão.
Dentro de casa, as orquídeas apanharam bicho. Ainda andam a ver quem ganha, se as flores, se os bichos. O parasita é minúsculo mas com patinhas a espreitar, branco, e deixa uma espécie de pó pelas folhas. Vou aguardar a ver quem ganha. Aposto no bicho.
Dentro de casa, as orquídeas apanharam bicho. Ainda andam a ver quem ganha, se as flores, se os bichos. O parasita é minúsculo mas com patinhas a espreitar, branco, e deixa uma espécie de pó pelas folhas. Vou aguardar a ver quem ganha. Aposto no bicho.
04 junho 2014
Almas gémeas
Por amor aos filhos (à filha) por pouco que me metia em algo pior que uma aula de trabalhos manuais. Um "façam lá isto, é fácil, só precisam de arame, e mais isto, e aquilo, e aqueloutro, e com um bocado de azar também agulha e linha para tornar as coisas ainda mais complicadas". Eu já estava a ver a vidinha a andar para trás, agora sem professores para me darem a pior nota de sempre, quando alguém, com certeza com o mesmo terror que eu, nos safou a todos. Eu faço muitas coisas bem com as mãos, por exemplo escrever no computador, mas trabalhos manuais é que nem pensar. Felizmente há quem faça as coisas por nós, e as venda por preços que, sinceramente, me parecem equivalentes ao custo do material. Gente dotada de mãozinhas de ouro, parabéns, mas alguns de nós não nasceram assim prendados.
03 junho 2014
E a boa notícia do dia
Na segunda é feriado. Fim de semana prolongado, yay. A minha semana, de repente, tornou-se espetacular.
Da liberdade
Tenho uma regra de ouro, não discutir com gente estúpida. É aquela coisa do arrastarem-te até ao nível deles e ganharem-te por terem muita experiência.
Ainda assim, hoje encontrei um anormal que andava a evitar há anos. E quando ele se saiu com uma asneira, não pude ficar calada. Se ninguém diz nada, e eu estou ali, vai ouvir, nem que seja só para que fique a saber que há mais opiniões. É aquela coisa de a liberdade dos outros terminar onde a minha começa (e vice-versa), que nos ensinam na escola, mas pelos vistos não faz parte do programa noutros países. Parece-me que o homem não é estúpido - o desfecho teria sido diferente. Mas, apre, que a intolerância, com muita missinha em cima, é difícil de aturar.
Ainda assim, hoje encontrei um anormal que andava a evitar há anos. E quando ele se saiu com uma asneira, não pude ficar calada. Se ninguém diz nada, e eu estou ali, vai ouvir, nem que seja só para que fique a saber que há mais opiniões. É aquela coisa de a liberdade dos outros terminar onde a minha começa (e vice-versa), que nos ensinam na escola, mas pelos vistos não faz parte do programa noutros países. Parece-me que o homem não é estúpido - o desfecho teria sido diferente. Mas, apre, que a intolerância, com muita missinha em cima, é difícil de aturar.
30 maio 2014
O paraíso também é isto
(da série "o interior esquecido e ostracizado")
Sair à rua à hora do almoço, atravessar a "cidade" a pé. Poucos carros, ouve-se bem a gente nas conversas no meio da rua, todos se cumprimentam. Mais à frente uns homens falam sobre um outro, alguns palavrões a colorir a linguagem. Tenho uma teoria que ando a testar, de qualquer rua dá sempre para ver os montes. Azuis, os montes são azuis ao longe, e há muito monte por onde escolher.
O jardim - é "o jardim", não um jardim - está cheio de flores, sente-se o aroma ao passar, e só depois se repara nas flores. O jardim tem muito mais área cimentada que jardim propriamente dito, mas tem bancos, e há sempre quem aproveite para se sentar um bocadinho.
As lojas fecham daqui a bocadinho, para todos almoçarem, reabrem pelas duas e meia. Antigamente só os cafés e os restaurantes ficavam abertos ao meio dia, hoje em dia fazem-lhes companhia as lojas chinesas que vieram substituir a loja dos trezentos, e o supermercados das cadeias nacionais. E a farmácia de serviço.
Queria atravessar a rua, mas o semáforo está vermelho e um GNR mesmo colado a ele. É melhor esperar, embora o sinta como a coisa errada a fazer. Aquele cruzamento não devia ter semáforos, umas passadeiras e um sinal de stop, como havia dantes, serviam bem e não gastavam electricidade. Um ou outro carro vão passando, deslocados, perdidos, surpreendidos pelos sinais de controlo.
Quase só se ouve gente e pássaros. Nos ninhos, os jovens passarinhos chamam pelos pais, para que não se esqueçam de lhes trazer que comer.
Depois do almoço, dorme-se a sesta.
Sair à rua à hora do almoço, atravessar a "cidade" a pé. Poucos carros, ouve-se bem a gente nas conversas no meio da rua, todos se cumprimentam. Mais à frente uns homens falam sobre um outro, alguns palavrões a colorir a linguagem. Tenho uma teoria que ando a testar, de qualquer rua dá sempre para ver os montes. Azuis, os montes são azuis ao longe, e há muito monte por onde escolher.
O jardim - é "o jardim", não um jardim - está cheio de flores, sente-se o aroma ao passar, e só depois se repara nas flores. O jardim tem muito mais área cimentada que jardim propriamente dito, mas tem bancos, e há sempre quem aproveite para se sentar um bocadinho.
As lojas fecham daqui a bocadinho, para todos almoçarem, reabrem pelas duas e meia. Antigamente só os cafés e os restaurantes ficavam abertos ao meio dia, hoje em dia fazem-lhes companhia as lojas chinesas que vieram substituir a loja dos trezentos, e o supermercados das cadeias nacionais. E a farmácia de serviço.
Queria atravessar a rua, mas o semáforo está vermelho e um GNR mesmo colado a ele. É melhor esperar, embora o sinta como a coisa errada a fazer. Aquele cruzamento não devia ter semáforos, umas passadeiras e um sinal de stop, como havia dantes, serviam bem e não gastavam electricidade. Um ou outro carro vão passando, deslocados, perdidos, surpreendidos pelos sinais de controlo.
Quase só se ouve gente e pássaros. Nos ninhos, os jovens passarinhos chamam pelos pais, para que não se esqueçam de lhes trazer que comer.
Depois do almoço, dorme-se a sesta.
23 maio 2014
Podcasts
Deve haver podcasts há uns 10 anos, mais coisa menos coisa. Nunca atinei com eles, os de áudio, tenho dificuldades em concentrar-me no som quando estou no computador, e nunca aderi aos produtos da maçã. Até que chegou o dia. Com os telefones inteligentes, de repente passei a ter um pequeno computador nas mãos a toda a hora, com acesso à net permanente (viva a flat rate), e inúmeras possibilidades à distância da imaginação - ou da pesquisa nos tops da loja de apps.
Nas últimas férias na pátria, andava eu sem telefone esperto mas de rádio ligado, a apanhar os bocadinhos cómicos das rádios todas, e ouço alguém a dizer que de manhã estava sempre a mudar de rádio para apanhar as rubricas todas. Aquelas do homem que mordeu o cão, mixórdia de temáticas, nilton, e os outros rapazes que já não me lembro o nome. E depois, não sei bem porque motivo, cheguei a casa, e lembrei-me que isto dos podcasts era engraçado, se desse para ouvir estes bocadinhos de rádio, à hora que me desse jeito, tantos quantos fosse possível ouvir enquanto tivesse tempo livre. Instalei tudo, mandei o telefone fazer downloads, e manter a lista do que já ouvi, que o tempo é curto para repetições, e agora os podcasts acompanham-me a fazer as coisas mais estranhas. No carro, no ginásio, nos tempos mortos. Só me falta lembrar-me de andar com os auscultadores para a lista dos não ouvidos diminuir, em vez de aumentar. Há quem ouça música enquanto corre. Eu ouço podcasts no ginásio.
Nas últimas férias na pátria, andava eu sem telefone esperto mas de rádio ligado, a apanhar os bocadinhos cómicos das rádios todas, e ouço alguém a dizer que de manhã estava sempre a mudar de rádio para apanhar as rubricas todas. Aquelas do homem que mordeu o cão, mixórdia de temáticas, nilton, e os outros rapazes que já não me lembro o nome. E depois, não sei bem porque motivo, cheguei a casa, e lembrei-me que isto dos podcasts era engraçado, se desse para ouvir estes bocadinhos de rádio, à hora que me desse jeito, tantos quantos fosse possível ouvir enquanto tivesse tempo livre. Instalei tudo, mandei o telefone fazer downloads, e manter a lista do que já ouvi, que o tempo é curto para repetições, e agora os podcasts acompanham-me a fazer as coisas mais estranhas. No carro, no ginásio, nos tempos mortos. Só me falta lembrar-me de andar com os auscultadores para a lista dos não ouvidos diminuir, em vez de aumentar. Há quem ouça música enquanto corre. Eu ouço podcasts no ginásio.
20 maio 2014
Newsletter
A educadora bem intencionada manda dois ou três emails por mês a contar o plano para as semanas seguintes. Se vão falar de animais, ou fazer experiências com ovos, se vão dar um passeio e é necessário levar lanche. A mensagem vem sempre em Word. Encriptada numa fonte qualquer, daquelas que imitam a letra manuscrita, até na ilegibilidade. Podia ser wingdings que ia dar ao mesmo. Um ano lectivo disto. De todas as vezes, antes de conseguir ler os documentos, tive que mudar para Arial. Porque é que ninguém lhe diz?
(Eu sei, eu sei, podia ser eu... mas só a vejo logo de manhã e ainda vou a dormir, a essa hora não sou capaz de pensar em nada. A não ser em como estava quentinha no vale dos lençóis.)
(Eu sei, eu sei, podia ser eu... mas só a vejo logo de manhã e ainda vou a dormir, a essa hora não sou capaz de pensar em nada. A não ser em como estava quentinha no vale dos lençóis.)
Não sou uma rapariga da cidade
Não sendo uma rapariga da aldeia - não sou amiga da bicharada, e as plantas não se dão bem comigo - descubro, ao fim de tantos anos, que também não sou uma rapariga da cidade.
Hoje esteve um dia de sol. Um dia quente, quase verão, t-shirt e saia, miúdas de calções, pernas ao léu. Munique inteira saiu à rua, em êxtase, e também com medo que isto dure pouco, já que terminou agora mesmo mais de uma semana de tempo cinzento e frio. Munique tem 1,4 milhões de habitantes. E muitos turistas - prato do dia: irlandeses, austríacos, e mix de asiáticos. Todos na rua, ao mesmo tempo. Sendo Munique uma cidade com uma área relativamente grande, ainda assim, isto dá muita gente por metro quadrado. Muita gente a atropelar-se na fila para os gelados (a sério, e nem faz sentido, os gelados são bons nas gelatarias quase todas). As esplanadas cheias. O rio, ou melhor, a praia de seixos ao longo do rio, também.
Falta-me a paz e sossego. Chego ao fim do dia de trabalho cansada, e já não me apetece fazer nada. Os dias são curtos, e há sempre alguém a querer alguma coisa. Podia dizer que preciso de férias, mas o que eu queria mesmo é de uma densidade populacional inferior a 100 habitantes por quilómetro quadrado.
Hoje esteve um dia de sol. Um dia quente, quase verão, t-shirt e saia, miúdas de calções, pernas ao léu. Munique inteira saiu à rua, em êxtase, e também com medo que isto dure pouco, já que terminou agora mesmo mais de uma semana de tempo cinzento e frio. Munique tem 1,4 milhões de habitantes. E muitos turistas - prato do dia: irlandeses, austríacos, e mix de asiáticos. Todos na rua, ao mesmo tempo. Sendo Munique uma cidade com uma área relativamente grande, ainda assim, isto dá muita gente por metro quadrado. Muita gente a atropelar-se na fila para os gelados (a sério, e nem faz sentido, os gelados são bons nas gelatarias quase todas). As esplanadas cheias. O rio, ou melhor, a praia de seixos ao longo do rio, também.
Falta-me a paz e sossego. Chego ao fim do dia de trabalho cansada, e já não me apetece fazer nada. Os dias são curtos, e há sempre alguém a querer alguma coisa. Podia dizer que preciso de férias, mas o que eu queria mesmo é de uma densidade populacional inferior a 100 habitantes por quilómetro quadrado.
18 maio 2014
Às vezes é preciso ostracizar a família
Apanhei a minha mãe ao telefone, para me dar os parabéns. O meu pai, que andava perto mas não o suficiente para eu ouvir, ia metendo a sua colherada à distância, e perguntava se eu já sabia o que é a minha prenda. Prenda essa que só vou ter nas mãos daqui a uns dias.
Há pessoas que gostam de surpresas. E há o meu pai, que não só abomina surpresas, mas também não consegue conceber que se surpreenda alguém, em tempo algum. E eu, embora não seja a maior fã de surpresas, gosto de só saber o que são as minhas prendas quando as tenho na mão, depois de as desembrulhar.Vou ter que evitar o meu pai até esse momento. E arranjar uns tampões para os ouvidos para os últimos minutos.
Há pessoas que gostam de surpresas. E há o meu pai, que não só abomina surpresas, mas também não consegue conceber que se surpreenda alguém, em tempo algum. E eu, embora não seja a maior fã de surpresas, gosto de só saber o que são as minhas prendas quando as tenho na mão, depois de as desembrulhar.Vou ter que evitar o meu pai até esse momento. E arranjar uns tampões para os ouvidos para os últimos minutos.
Dos miúdos
As primeiras palavras são uma fofura.
Quando eles começam a conhecer os números, genial.
A identificação das letras e as primeiras palavras escritas, um ponto alto.
Aprendem a escrever o nome, maravilha.
Vão para a escola, que grandes.
E depois uma sucessão de coisas mais ou menos ao mesmo nível, intercaladas com um e outro momento genial, que é quando vamos descobrindo a que é que eles são mesmo bons, até ao dia. Aquele que, não sei bem porquê, nunca me tinha apercebido que um dia, com certeza, iria chegar. O momento alto na vida de uma mãe geek.
O dia em que nos sentamos à mesa a discutir programação. De software.
(O puto escreveu - codificou - um jogo. Daqueles básicos e viciantes. Precisava de ajuda com a lista dos highscores. Tanta baba...)
Quando eles começam a conhecer os números, genial.
A identificação das letras e as primeiras palavras escritas, um ponto alto.
Aprendem a escrever o nome, maravilha.
Vão para a escola, que grandes.
E depois uma sucessão de coisas mais ou menos ao mesmo nível, intercaladas com um e outro momento genial, que é quando vamos descobrindo a que é que eles são mesmo bons, até ao dia. Aquele que, não sei bem porquê, nunca me tinha apercebido que um dia, com certeza, iria chegar. O momento alto na vida de uma mãe geek.
O dia em que nos sentamos à mesa a discutir programação. De software.
(O puto escreveu - codificou - um jogo. Daqueles básicos e viciantes. Precisava de ajuda com a lista dos highscores. Tanta baba...)
11 maio 2014
Trava-língua
Na estação central de Munique, encontro o meu maior problema linguístico desde que me mudei para esta cidade. Para enquadrar a minha dificuldade, devo dizer que, apesar de viver na Alemanha, a língua que eu falo 90% do tempo é inglês. Depois vem o português e só depois o alemão.
Em Hauptbanhof há um quiosque "Brioche Dorée"(imagem aqui). Ora, o brioche dourado é uma cadeia, que se encontra por França - e desde há algum tempo em Munique, na estação central, também - que vende produtos de pastelaria/padaria/café. Tem algumas coisas de que eu gosto muito: macarrons, brioches, croissants, pain au chocolat, tartes de morango e tarte de limão merengada. Assim de repente, é o que me lembro que tem de melhor. Ora, a primeira vez na vida que eu entrei num Brioche Dorée foi em França - nem me lembro o que é que andava lá a fazer, se turismo, se trabalho, se qualquer outra coisa. E entrei em vários, onde comi bolos, pão, croissants. De todas as vezes, antes de passar pela porta, ensaiava mentalmente o diálogo. O que é que vou querer hoje? "Bonjour. Je voudrais une tarte aux fraises." "Je voudrais deux brioches." "Merci. Bonne journée, au revoir." Coisas assim, melhor ou pior, com mais ou menos erros, mas o importante era que eu ia conseguir comer exactamente aquilo que queria.
Chegamos a Hauptbanhof. Da primeira vez que vi que havia um brioche dourado na estação central, embora em versão quiosque em vez do café, o meu estômago saltou de contente. Brioches! Croissants! Macarrons! Fui logo ver o que tinha na montra, debatendo comigo própria por uns minuto o que é que eu ia experimentar, para começar. E em chegando ao momento de abrir a boca e falar, para pedir o que eu queria, só me saía francês. Pois estando ali todas as etiquetas à minha frente a gritar "tarte aux fraises", "macarrons pistache", "macarrons chocolat", "tarte au citron", como é que eu podia dizer "Ich hätte gern eine tarte aux fraises."? Pura e simplesmente, não saía. Pior, eu começo a fazer o meu pedido em francês, e o empregado não percebia nadinha. O que é irónico, afinal de contas, ele tinha as etiquetas com os nomes à frente dele o dia todo. Mas nada, lá tive que convencer os meus neurónios a trocar para alemão, pelo menos um bocadinho, e, com muito esforço, lá consegui.
Isto foi há alguns meses, pouco mais de um ano. Entretanto, por mais tempo que passe, de cada vez que vou ao Brioche Dorée já sei que me vou debater com as línguas. Por mais que me esforce, qualquer diálogo que não tenha sido previamente ensaiado em alemão na minha cabeça, vai sair em francês. Pelo menos, entretanto, os funcionários já dominam o "oui". E riem-se, quando lhes explico que isto de encomendar em alemão comida francesa, é mesmo difícil para mim.
Em Hauptbanhof há um quiosque "Brioche Dorée"(imagem aqui). Ora, o brioche dourado é uma cadeia, que se encontra por França - e desde há algum tempo em Munique, na estação central, também - que vende produtos de pastelaria/padaria/café. Tem algumas coisas de que eu gosto muito: macarrons, brioches, croissants, pain au chocolat, tartes de morango e tarte de limão merengada. Assim de repente, é o que me lembro que tem de melhor. Ora, a primeira vez na vida que eu entrei num Brioche Dorée foi em França - nem me lembro o que é que andava lá a fazer, se turismo, se trabalho, se qualquer outra coisa. E entrei em vários, onde comi bolos, pão, croissants. De todas as vezes, antes de passar pela porta, ensaiava mentalmente o diálogo. O que é que vou querer hoje? "Bonjour. Je voudrais une tarte aux fraises." "Je voudrais deux brioches." "Merci. Bonne journée, au revoir." Coisas assim, melhor ou pior, com mais ou menos erros, mas o importante era que eu ia conseguir comer exactamente aquilo que queria.
Chegamos a Hauptbanhof. Da primeira vez que vi que havia um brioche dourado na estação central, embora em versão quiosque em vez do café, o meu estômago saltou de contente. Brioches! Croissants! Macarrons! Fui logo ver o que tinha na montra, debatendo comigo própria por uns minuto o que é que eu ia experimentar, para começar. E em chegando ao momento de abrir a boca e falar, para pedir o que eu queria, só me saía francês. Pois estando ali todas as etiquetas à minha frente a gritar "tarte aux fraises", "macarrons pistache", "macarrons chocolat", "tarte au citron", como é que eu podia dizer "Ich hätte gern eine tarte aux fraises."? Pura e simplesmente, não saía. Pior, eu começo a fazer o meu pedido em francês, e o empregado não percebia nadinha. O que é irónico, afinal de contas, ele tinha as etiquetas com os nomes à frente dele o dia todo. Mas nada, lá tive que convencer os meus neurónios a trocar para alemão, pelo menos um bocadinho, e, com muito esforço, lá consegui.
Isto foi há alguns meses, pouco mais de um ano. Entretanto, por mais tempo que passe, de cada vez que vou ao Brioche Dorée já sei que me vou debater com as línguas. Por mais que me esforce, qualquer diálogo que não tenha sido previamente ensaiado em alemão na minha cabeça, vai sair em francês. Pelo menos, entretanto, os funcionários já dominam o "oui". E riem-se, quando lhes explico que isto de encomendar em alemão comida francesa, é mesmo difícil para mim.
04 maio 2014
Não gosto nada de planear esta parte das viagens
Naquela meia hora que intercede verificar preços de bilhetes de avião para determinadas datas, ver se bate tudo certo para toda a gente chegar ao mesmo sítio no mesmo dia, da maneira mais poupadinha possível (como se poupar se conjugasse com viagens de avião), o preço de todos os troços aumenta entre 10 e 100%. Nem a limpar o histório, mudar de browser ou de computador a coisa melhorou, ou agora o aumento de preço na segunda tentativa está indexada ao IP, ou simplesmente só havia um ou dois bilhetes àqueles preços e entretanto alguém os comprou. O stress que isto dá, méne. Agora vou precisar de umas semanas para recuperar do choque, para depois planear tudo o resto. Que os bilhetes são só o primeiro passo.
Uma pessoa pensa que à medida que os putos crescem a coisa se vai simplificando, mas na verdade, enquanto umas partes se tornam extremamente simples, outras partes vão-se tornando extremamente complicadas.
Uma pessoa pensa que à medida que os putos crescem a coisa se vai simplificando, mas na verdade, enquanto umas partes se tornam extremamente simples, outras partes vão-se tornando extremamente complicadas.
01 maio 2014
30 abril 2014
É uma questão de vida
Cheguei a casa, depois do trabalho, estafada mas com alguma energia ainda, certamente devida ao sol que voltou a aparecer depois de vários dias cinzentos. Por causa do sol, lembrei-me de abrir as janelas para arejar a casa. Felizmente reparei a tempo nas melgas gigantes do lado de fora. Antes abafada que picada.
Fica para amanhã, antes do fim do dia que é a hora dos mosquitos. Sendo feriado, a janela de oportunidade tem uma folga imensa.
Fica para amanhã, antes do fim do dia que é a hora dos mosquitos. Sendo feriado, a janela de oportunidade tem uma folga imensa.
Dúvidas existenciais
Relativas à existência das minhas orquídeas, nada mais, nunca tive mais nenhuma planta que desse flor e não me morresse em menos de quinze dias, quanto mais durar anos e anos e anos e até reproduzir-se, as orquídeas adoram-me e eu nem percebo porquê.
A dúvida é, se alguém souber a resposta, ora se as orquídeas normalmente se dão em cascas de pinheiro, posso ir ali ao pinheiro mais próximo tirar um bocado de casca para acrescentar aos vasos das orquídeas? Ou será que assim que as raízes entrarem em contacto com o pinheiro estranho, elas se irão suicidar?
Eu podia perguntar à minha mãe, mas ela é o oposto de mim, com ela todas as flores se dão bem, excepto as orquídeas.
A dúvida é, se alguém souber a resposta, ora se as orquídeas normalmente se dão em cascas de pinheiro, posso ir ali ao pinheiro mais próximo tirar um bocado de casca para acrescentar aos vasos das orquídeas? Ou será que assim que as raízes entrarem em contacto com o pinheiro estranho, elas se irão suicidar?
Eu podia perguntar à minha mãe, mas ela é o oposto de mim, com ela todas as flores se dão bem, excepto as orquídeas.
Isto só a mim
Tenho uma receita de bolo de cenoura para experimentar há séculos (obrigada, Rita!).
Hoje vi uma de lemon berry swirl cheesecake que também tenho que fazer em breve - uma colega fez e eu não cheguei a tempo de provar, mas sei que foi um sucesso e a receita tem muito bom ar.
As minhas cobaias estão todas a dieta. E são gajos! O que é que se passa com esta malta? Voluntários para comer bolo em Munique? Estou quase a fazer anos e quero comer bolo, mas só consigo comer uma ou duas fatias por dia...
Hoje vi uma de lemon berry swirl cheesecake que também tenho que fazer em breve - uma colega fez e eu não cheguei a tempo de provar, mas sei que foi um sucesso e a receita tem muito bom ar.
As minhas cobaias estão todas a dieta. E são gajos! O que é que se passa com esta malta? Voluntários para comer bolo em Munique? Estou quase a fazer anos e quero comer bolo, mas só consigo comer uma ou duas fatias por dia...
18 abril 2014
EDO*
(título roubado à Wallis)
Antes era esquecido e ostracizado, mas agora parece-me que já só é ostracizado. Os geradores eólicos a lixar a paisagem toda, a juntar aos postes de electricidade - nunca tinha reparado na quantidade de postes de electricidade que há pelos montes fora, bem sei que é assim que transportamos a electricidade das barragens limpas e ecológicas para o resto do país, mas caramba, será que era mesmo necessário tantos postes gigantes e cabos de diâmetro com potencial para estragar qualquer fotografia. Os tractores fazem barulho de dia, de noite são os cães, que o meu receio de cães vem destas matilhas de cães sem dono, cães sem raça arraçados de lobos, mais os cães de guarda que mordem a quem lhes dá de comer, quanto mais a quem nem conhecem. Comunicam uns com os outros à noite, os cães, têm conversas à distância, ouvem-se a centenas de metros uns dos outros.
As maravilhas outrora desconhecidas agora aparecem na televisão como se fossem a melhor coisa desde sempre, e são invadidas por gente que fala de maneira esquisita e anda pelos caminhos do circuito de manutenção que antigamente era um eufemismo para "fizemos um trilho à volta da barragem a ver se cola, mas ninguém liga nenhuma" e hoje em dia é o grande objectivo da malta que faz 200 quilómetros de carro para chegar ao interior esquecido e depois salta do jipe com botas de caminhada e vai dar um passeio. Ouvem-se as suas conversas a umas largas dezenas de metros, alto e bom som, esta malta não percebe que sem paredes a voz se propaga e toda a gente fica a saber as fofoquices, mesmo que não queira.
Gelados só no tempo deles, lá para fim de Junho, mesmo que estejam 27 graus (real feel 30ºC) e vento quente, mas nas tascas há sumol, cerveja e até ice tea e fanta, apesar de lá dentro cheirar a lareira e a madeira queimada, às tantas andaram a fazer alguma coisa com porco, eu pensava que a época disso era lá para Novembro, mas eu não sou bem uma rapariga da aldeia, nunca vi a matança do porco, só ouvi uma vez e fiquei para nunca mais - coitado do porco, guinchava que se desunhava, e continuou a guinchar por horas, pelo menos pareceram horas. Já não sei como são as tascas, mas ao fim da tarde há meia dúzia de gatos pingados - nem tanto - que as frequentam, café ao balcão, cerveja na esplanada - se é que se pode chamar esplanada a 3 mesas em frente à porta. Há uns anos provavelmente ninguém bebia a cerveja na rua, mas nem as tascas escapam à lei do tabaco, e os homens rudes do campo também são forçados a fumar lá fora. Levam a cerveja com eles. Numa das mesas ficou um papel, com tracinhos e bolinhas, sinal que houve ali jogatana mais cedo. Depois do almoço, talvez. A tasca tem um cão, sem trela, que não dá confiança a ninguém, por vezes porta-se como um gato.
O rio continua no sítio, com corrente forte, sinal de que choveu, bicharada de todo o tamanho e feitio, aranhões de água, peixinhos, cobras, rãs a apanhar sol e aos saltos para a água, formigas gigantes, abelhas, zangões, vespas e moscardos, e as plantas que lhe dão aquele cheiro que só há ali, a verão e calor do meu. Estão a fazer uma ponte nova e nem assim passa por ali ninguém, um camião das obras de vez em quando, em terminando a construção com certeza haverá meia dúzia de carros por dia a a travessá-la, mas dizem-me que tinham que fazer uma nova, que a velha está quase a cair e era perigoso mantê-la. Preferia que tivessem restaurado a ponte velha, mas não se faz disso por cá, que desde os anos 80 que o que os políticos querem é betão em todo o lado, e as pontes antigas levavam muita pedra e isso não pode ser. Deve ser por causa do amor ao betão que temos aqueles geradores eólicos horríveis, aquele cinzento todo deve levar muito cimento. Betão e alcatrão, agora há para aí umas estradas (às moscas, óptimas para quem gosta de conduzir) que rasgam literalmente a paisagem, os campos, os montes, e se vêem ao longe. Deve ser o progresso, mas para a gente que por cá anda, cada vez menos, para os serviços públicos que vão desaparecendo - para dar lugar aos mesmos serviços fornecidos por privados, pois que os serviços fazem falta - é difícil encontrar áreas que ainda não tenham sido corrompidas pelo homem. Nem falo da agricultura, só de que gostava de ainda encontrar alguns sítios onde as estradas não poluíssem visualmente a paisagem, nem cabos eléctricos, nem postes, nem geradores eólicos. Não é fácil. Mais fácil é sentar-me num ermo e não ver ninguém durante horas, porque a verdade é que o interior é esquecido por isso mesmo, tem pouca gente, e a que tem também tem tendência a concentrar-se em cidades.
Vai haver morangos em breve, há imensas tiras de plástico preto a cobrir filas de morangueiros nos campos. Cerejeiras crescem à beira da estrada, como se tivessem nascido ali por acaso, consequência talvez de caroços atirados por quem passa. Lindas. Haverá cerejas em Junho, as primeiras, daquelas que vendem ainda com o pauzinho e às vezes as folhas.
Estamos em Abril e é quase Verão. Ainda agora cheguei e estou quase a ir embora.
Antes era esquecido e ostracizado, mas agora parece-me que já só é ostracizado. Os geradores eólicos a lixar a paisagem toda, a juntar aos postes de electricidade - nunca tinha reparado na quantidade de postes de electricidade que há pelos montes fora, bem sei que é assim que transportamos a electricidade das barragens limpas e ecológicas para o resto do país, mas caramba, será que era mesmo necessário tantos postes gigantes e cabos de diâmetro com potencial para estragar qualquer fotografia. Os tractores fazem barulho de dia, de noite são os cães, que o meu receio de cães vem destas matilhas de cães sem dono, cães sem raça arraçados de lobos, mais os cães de guarda que mordem a quem lhes dá de comer, quanto mais a quem nem conhecem. Comunicam uns com os outros à noite, os cães, têm conversas à distância, ouvem-se a centenas de metros uns dos outros.
As maravilhas outrora desconhecidas agora aparecem na televisão como se fossem a melhor coisa desde sempre, e são invadidas por gente que fala de maneira esquisita e anda pelos caminhos do circuito de manutenção que antigamente era um eufemismo para "fizemos um trilho à volta da barragem a ver se cola, mas ninguém liga nenhuma" e hoje em dia é o grande objectivo da malta que faz 200 quilómetros de carro para chegar ao interior esquecido e depois salta do jipe com botas de caminhada e vai dar um passeio. Ouvem-se as suas conversas a umas largas dezenas de metros, alto e bom som, esta malta não percebe que sem paredes a voz se propaga e toda a gente fica a saber as fofoquices, mesmo que não queira.
Gelados só no tempo deles, lá para fim de Junho, mesmo que estejam 27 graus (real feel 30ºC) e vento quente, mas nas tascas há sumol, cerveja e até ice tea e fanta, apesar de lá dentro cheirar a lareira e a madeira queimada, às tantas andaram a fazer alguma coisa com porco, eu pensava que a época disso era lá para Novembro, mas eu não sou bem uma rapariga da aldeia, nunca vi a matança do porco, só ouvi uma vez e fiquei para nunca mais - coitado do porco, guinchava que se desunhava, e continuou a guinchar por horas, pelo menos pareceram horas. Já não sei como são as tascas, mas ao fim da tarde há meia dúzia de gatos pingados - nem tanto - que as frequentam, café ao balcão, cerveja na esplanada - se é que se pode chamar esplanada a 3 mesas em frente à porta. Há uns anos provavelmente ninguém bebia a cerveja na rua, mas nem as tascas escapam à lei do tabaco, e os homens rudes do campo também são forçados a fumar lá fora. Levam a cerveja com eles. Numa das mesas ficou um papel, com tracinhos e bolinhas, sinal que houve ali jogatana mais cedo. Depois do almoço, talvez. A tasca tem um cão, sem trela, que não dá confiança a ninguém, por vezes porta-se como um gato.
O rio continua no sítio, com corrente forte, sinal de que choveu, bicharada de todo o tamanho e feitio, aranhões de água, peixinhos, cobras, rãs a apanhar sol e aos saltos para a água, formigas gigantes, abelhas, zangões, vespas e moscardos, e as plantas que lhe dão aquele cheiro que só há ali, a verão e calor do meu. Estão a fazer uma ponte nova e nem assim passa por ali ninguém, um camião das obras de vez em quando, em terminando a construção com certeza haverá meia dúzia de carros por dia a a travessá-la, mas dizem-me que tinham que fazer uma nova, que a velha está quase a cair e era perigoso mantê-la. Preferia que tivessem restaurado a ponte velha, mas não se faz disso por cá, que desde os anos 80 que o que os políticos querem é betão em todo o lado, e as pontes antigas levavam muita pedra e isso não pode ser. Deve ser por causa do amor ao betão que temos aqueles geradores eólicos horríveis, aquele cinzento todo deve levar muito cimento. Betão e alcatrão, agora há para aí umas estradas (às moscas, óptimas para quem gosta de conduzir) que rasgam literalmente a paisagem, os campos, os montes, e se vêem ao longe. Deve ser o progresso, mas para a gente que por cá anda, cada vez menos, para os serviços públicos que vão desaparecendo - para dar lugar aos mesmos serviços fornecidos por privados, pois que os serviços fazem falta - é difícil encontrar áreas que ainda não tenham sido corrompidas pelo homem. Nem falo da agricultura, só de que gostava de ainda encontrar alguns sítios onde as estradas não poluíssem visualmente a paisagem, nem cabos eléctricos, nem postes, nem geradores eólicos. Não é fácil. Mais fácil é sentar-me num ermo e não ver ninguém durante horas, porque a verdade é que o interior é esquecido por isso mesmo, tem pouca gente, e a que tem também tem tendência a concentrar-se em cidades.
Vai haver morangos em breve, há imensas tiras de plástico preto a cobrir filas de morangueiros nos campos. Cerejeiras crescem à beira da estrada, como se tivessem nascido ali por acaso, consequência talvez de caroços atirados por quem passa. Lindas. Haverá cerejas em Junho, as primeiras, daquelas que vendem ainda com o pauzinho e às vezes as folhas.
Estamos em Abril e é quase Verão. Ainda agora cheguei e estou quase a ir embora.
07 abril 2014
Os animais são nossos amigos
Há uns dias, estava sozinha em casa, saio pela porta , e momentos depois, atrás de mim, sai um tigre gato. Eu não tenho animais de estimação, não abro a porta aos monstros gatos dos vizinhos, e não faço a menor ideia de onde é que aquele gatarrão saiu, ou melhor, entrou, para depois voltar a sair. Só sei que quando o vi, apanhei um susto - os gatos da vizinhança têm o triplo do tamanho de um gato normal, não sei se é da espécie se é da comida que lhes dão - dei um gritinho, e olhei-o nos olhos. O gato olhou para mim com ar de quem sabia muito bem que tinha feito asneira, hesitou por um instante com medo de apanhar, e fugiu. Por uns momentos fiquei um bocado atarantada - o meu lar tinha sido violado por um intruso. Depois, procurei por vestígios do animal, não encontrei nada, acalmei. Foi só um gato, um felino do tamanho de um monstrinho, mas apenas um gato.
Quando contei ao doglover cá de casa, arrependi-me imediatamente. A proposta foi de arranjar um cão. Eu não sou muito amiga de cães, quando era pequena tive uma má experiência, e, apesar de eles me adorarem (devo cheirar a comida de cão, só pode), eu prefiro uma distância mínima. Digamos que não me agrada ter um focinho molhado a tocar-me nas pernas. E, acima de tudo, nunca poderia ter um cão a mandar em mim. A obrigar-me a ir à rua, mesmo que me apeteça ficar fechada em casa durante dias, ou esteja a chover, ou frio, ou calor, ou vento. Cada vez que o assunto cão é mencionado, só me vem à cabeça uma piada do Seinfeld: se os extraterrestres viessem à terra, pensariam que quem manda são os cães. Os humanos andam atrás dos cães e apanham a porcaria que os cães fazem. Certamente que o ser vivo mais inteligente é o cão. Os extraterrestres diriam ao primeiro cão que encontrassem, "leva-me ao teu líder".
Bem, pelo lado positivo, se quisessem testar alguém em laboratório provavelmente levariam um cão. Se calhar não é tão má ideia assim.
Quando contei ao doglover cá de casa, arrependi-me imediatamente. A proposta foi de arranjar um cão. Eu não sou muito amiga de cães, quando era pequena tive uma má experiência, e, apesar de eles me adorarem (devo cheirar a comida de cão, só pode), eu prefiro uma distância mínima. Digamos que não me agrada ter um focinho molhado a tocar-me nas pernas. E, acima de tudo, nunca poderia ter um cão a mandar em mim. A obrigar-me a ir à rua, mesmo que me apeteça ficar fechada em casa durante dias, ou esteja a chover, ou frio, ou calor, ou vento. Cada vez que o assunto cão é mencionado, só me vem à cabeça uma piada do Seinfeld: se os extraterrestres viessem à terra, pensariam que quem manda são os cães. Os humanos andam atrás dos cães e apanham a porcaria que os cães fazem. Certamente que o ser vivo mais inteligente é o cão. Os extraterrestres diriam ao primeiro cão que encontrassem, "leva-me ao teu líder".
Bem, pelo lado positivo, se quisessem testar alguém em laboratório provavelmente levariam um cão. Se calhar não é tão má ideia assim.
03 abril 2014
Chegou!
Há quem aprecie as temperaturas agradáveis, o bom tempo, o céu azul, e se alegre com o início da Primavera.
Eu olho para estas flores todas e esfrego os olhos. Chegaram as alergias.
Doutor Infante
Ia ao médico do costume, pensava eu. Cheguei lá, e aparece-me um rapazote com idade para ser o meu irmão mais novo, a dizer que o meu médico se ia reformar, e como lá para o fim do ano ele - o rapazito - iria tomar conta do consultório, ia aproveitando para dar umas consultas e se dar a conhecer aos pacientes. Fiquei em choque. Então, mas eu ia àquele médico porque tinha idade para ser meu avô (vá, entre pai e avô). Eu gostava daquele consultório porque estava cheio de velhotes, daqueles que apareciam religiosamente todos os dias pela fresquinha para fazer análises. Eu estava convencida que o motivo pelo qual aquele consultório não fechava era a confiança que os velhotes tinham no senhor doutor avozinho, com anos de experiência e sabedoria da que não vem nos livros, que os ouvia e respondia às suas dúvidas, e que só estava aberto de manhã, porque de tarde os velhotes não precisam de consultas, as tardes são para cafés e bolos. Agora o consultório funciona ao dobro da velocidade, até que o médico mais velho se reforme, no fim do ano. A sala de espera está às moscas, até as análises devem ser despachadas ao dobro da velocidade. O rapaz, filho de outro médico, idade para ser meu irmão mais novo, vai ser um bom médico, com certeza. O que mais lhe vai custar vai ser ganhar a confiança dos velhotes.
31 março 2014
Lápis azul
Como cidadã da união europeia, deixam-me votar nas eleições municipais. Desta vez era uma eleição de desempate, para decidir quem será o novo presidente da câmara. O boletim de voto, em vez de quadrados, tinha dois círculos, um para cada candidato. Perguntei se era suposto pôr uma cruz ou preencher o círculo. A resposta foi que qualquer opção serviria, desde que se conseguisse identificar qual o candidato escolhido. A segunda coisa mais estranha, é que na câmara de voto, em vez de canetas, tinham um lápis azul, daqueles mais grossos que os miúdos usam na escola para pintar. Talvez a razão para o lápis tenha tido algo a ver com o local de voto ser numa escola primária. Talvez tenham apenas escolhido o instrumento de escrita que havia em maior abundância. Apeteceu-me pintar uns raios de sol no círculo do meu candidato, mas desisti da ideia. Não porque amarelo fosse mais apropriado para o sol, mas apenas para que não houvesse dúvidas. Por um instante, quase tive pena de não estar a votar em protesto.
Há um ano atrás nevava
Por estes dias, faz sol e calor, ando de mangas curtas na rua, os miúdos brincam no parque perto da minha casa. É engraçado, fazem sempre muito mais barulho quando têm adultos a fazer-lhes companhia. Não me incomodam. Gosto que haja gente bem disposta na vizinhança, e enquanto jogam basquetebol ou futebol não andam a fazer asneiras. Os mais mafarricos sobem às árvores, os pequenitos cavam buracos na areia, usam o escorrega ou trepam à casinha de bonecas. Com o sol, vem a boa disposição e alegria.
29 março 2014
25 março 2014
Novos passageiros
(Isto nunca tinha visto. )
Porta de embarque no aeroporto de Frankfurt. Um rato, vindo não sei de onde, atravessa a zona de espera a grande velocidade. Provavelmente vai apanhar o mesmo vôo.
23 março 2014
Memórias de uma cozinha
Há muitos anos atrás - há várias vidas atrás - vivi num apartamento algo peculiar. Era um bom apartamento, espaçoso, luminoso, tinha sido recentemente renovado, tudo nele gritava "novo começo". Trouxe as minhas tralhas todas quando me mudei, que não eram muitas, espalhei-as pela casa por forma a parecer mais ocupada do que realmente estava, e em breve descobri o problema. A cozinha, gira, com focos de halogénio que eu achava o máximo (nunca tinha tido nada do género), azulejos brancos que ainda tinham pó aquando da mudança, espaço para refeições - o que no Porto era uma raridade - lavandaria (marquise, vá), equipada, o que me dava imenso jeito porque não podia estar a investir numa cozinha, tinha um problema relativamente grave. Não era o facto de o isolamento não ser grande coisa e mesmo com a marquise fechada e a porta de acesso fechada ainda assim entrar ar pelas frestas, pelo que no inverno estava sempre um bocado frio. Era o fogão. O senhorio tinha posto um fogão a gás, novo, que, por sorte, tinha um disco eléctrico. Ora isto em si não teria nada de especial, se o fogão funcionasse. No entanto, o artista que se lembrou de pôr ali um fogão a gás não reparou que o dito estava preparado para ligação a gás natural (quer era uma novidade na altura) e não tinha possibilidade de ser ligado a gás de botija. E o prédio não tinha gás natural.
O tempo todo que vivi naquela casa, especializei-me em cozinhar fosse o que fosse recorrendo a uma panela, e um microondas. Também não tinha forno. Carne estufada (vaca, perú ou frango) com acompanhamento de legumes (cenoura, ervilhas, feijão verde, tomate) e hidratos de carbono (arroz, batata ou massa). Parecendo que não, isto dava uma data de variações da mesma coisa. Não me lembro como, mas sei que também fazia douradinhos com arroz (provavelmente arroz de sobras aquecido no microondas e douradinhos no disco eléctrico). E atum com salada russa ou salada de grão de bico. De sobremesa havia fruta, pois, ou salada de frutas, ou iogurtes. Só na vida seguinte comecei a fazer bolos e outros doces. Às vezes, também fazia sopa - podia fazer a sopa primeiro e depois usar o disco para o que mais viesse, ou simplesmente fazer sopa quando já tivesse para jantar sobras de outra refeição.
Tantos anos depois, sempre que faço "tudo numa panela" lembro-me daquele apartamento. Do cheiro a renovação, do início de uma vida nova. Dentro de tantas limitações que tinha, o tanto de bom que tive ali. O sol a bater-me na cara ao acordar todas as manhãs, causando-me uma boa disposição irritante. Dos jantares com os amigos, os sofás insufláveis do clix.pt (eu tinha lá dinheiro para um sofá a sério) o ventilador e uma mantinha. O jogo do astérix no computador com o puto, com joysticks que eram uma porcaria e que tinham que ser periodicamente abertos para reposicionar os contactos de metal com fita cola. A vez que meti gasóleo no carro a gasolina - a tragédia - a caminho do aeroporto para ir buscar um dinamarquês que nos trouxe os melhores bombons de sempre. Os meses que esticavam para lá do dinheiro, a ginástica financeira que fiz enquanto vivi ali. O puto a pedir um Winnie Pooh grande, e eu a ter que lhe explicar que não tinha dinheiro para lho comprar, e ele que nunca fazia cenas, lágrimas a escorrer pela cara abaixo.
A vizinhança, não muito recomendável, apesar da avenida larga e o colégio "bem" mesmo ali ao lado. O assalto ao meu carro uma noite, o estrago na porta, nada roubado. A cena de faca e alguidar, da vez que os vizinhos andaram à pancada e a polícia teve que intervir. A vizinha que ficou com o dinheiro do condomínio e nem passou recibo nem entregou o dinheiro. Soube mais tarde que tinha problemas financeiros. Teríamos todos, possivelmente.
Os dias de sol. Tantos dias de sol, e como tudo resplandecia durante o dia, a árvore do pátio, o passeio, o sorriso do puto. A outra vizinha, que se ofereceu para tomar conta dele se algum dia precisasse - nunca pedi, não tinha forças para tanto.
Hoje pedi a uma amiga para usar o forno dela. Fiz bolos, ela fez-me o jantar. Ela ficou felicíssima por poder ajudar. Eu ainda estou a aprender a aceitar. Há umas vidas atrás, não teria sido capaz sequer de pedir ajuda.
O tempo todo que vivi naquela casa, especializei-me em cozinhar fosse o que fosse recorrendo a uma panela, e um microondas. Também não tinha forno. Carne estufada (vaca, perú ou frango) com acompanhamento de legumes (cenoura, ervilhas, feijão verde, tomate) e hidratos de carbono (arroz, batata ou massa). Parecendo que não, isto dava uma data de variações da mesma coisa. Não me lembro como, mas sei que também fazia douradinhos com arroz (provavelmente arroz de sobras aquecido no microondas e douradinhos no disco eléctrico). E atum com salada russa ou salada de grão de bico. De sobremesa havia fruta, pois, ou salada de frutas, ou iogurtes. Só na vida seguinte comecei a fazer bolos e outros doces. Às vezes, também fazia sopa - podia fazer a sopa primeiro e depois usar o disco para o que mais viesse, ou simplesmente fazer sopa quando já tivesse para jantar sobras de outra refeição.
Tantos anos depois, sempre que faço "tudo numa panela" lembro-me daquele apartamento. Do cheiro a renovação, do início de uma vida nova. Dentro de tantas limitações que tinha, o tanto de bom que tive ali. O sol a bater-me na cara ao acordar todas as manhãs, causando-me uma boa disposição irritante. Dos jantares com os amigos, os sofás insufláveis do clix.pt (eu tinha lá dinheiro para um sofá a sério) o ventilador e uma mantinha. O jogo do astérix no computador com o puto, com joysticks que eram uma porcaria e que tinham que ser periodicamente abertos para reposicionar os contactos de metal com fita cola. A vez que meti gasóleo no carro a gasolina - a tragédia - a caminho do aeroporto para ir buscar um dinamarquês que nos trouxe os melhores bombons de sempre. Os meses que esticavam para lá do dinheiro, a ginástica financeira que fiz enquanto vivi ali. O puto a pedir um Winnie Pooh grande, e eu a ter que lhe explicar que não tinha dinheiro para lho comprar, e ele que nunca fazia cenas, lágrimas a escorrer pela cara abaixo.
A vizinhança, não muito recomendável, apesar da avenida larga e o colégio "bem" mesmo ali ao lado. O assalto ao meu carro uma noite, o estrago na porta, nada roubado. A cena de faca e alguidar, da vez que os vizinhos andaram à pancada e a polícia teve que intervir. A vizinha que ficou com o dinheiro do condomínio e nem passou recibo nem entregou o dinheiro. Soube mais tarde que tinha problemas financeiros. Teríamos todos, possivelmente.
Os dias de sol. Tantos dias de sol, e como tudo resplandecia durante o dia, a árvore do pátio, o passeio, o sorriso do puto. A outra vizinha, que se ofereceu para tomar conta dele se algum dia precisasse - nunca pedi, não tinha forças para tanto.
Hoje pedi a uma amiga para usar o forno dela. Fiz bolos, ela fez-me o jantar. Ela ficou felicíssima por poder ajudar. Eu ainda estou a aprender a aceitar. Há umas vidas atrás, não teria sido capaz sequer de pedir ajuda.
E por falar em póneis
Este vídeo é genial. Acho que não é o original, embora parecido. O original era um anúncio a uma operadora de telecomunicações.
Um pónei a fazer o moonwalking... :-) Reparem no pormenor à ovelha Choné: no instante que passa o tractor, o pónei pára.
Um pónei a fazer o moonwalking... :-) Reparem no pormenor à ovelha Choné: no instante que passa o tractor, o pónei pára.
21 março 2014
Cavalos anões
Quatro destes, num espaço que eu diria apropriado para um cão de médio porte. Pois são póneis, cavalitos minúsculos, sendo que o mais alto não devia ter um metro e meio de altura, não devem precisar de muito espaço, e o que tinham até dava para se rebolarem, que eu vi, e até para andarem às marradas uns aos outros, que é como quem diz, o maior aos mais pequenos, que isto do reino animal é mesmo assim e o maior é que manda, e impõe as regras à força.
Provavelmente vão passear todos os dias, e têm um celeiro onde ficam quando chove e tal, mas mesmo assim fiquei com pena deles. Ali mesmo ao lado dos campos verdejantes, podiam deixá-los ir lá estrumar directamente (hoje fiquei traumatizada, e eu até sou uma rapariga do campo).
Tinham uma casota, assim uma daquelas casotas de jardim em grande, mas da maneira que se portavam, a casa era do maior, e ainda assim, uma casota não é lugar para póneis.
Engraçaditos e tal, para observar por uns minutos, provavelmente bons para crianças, mas para gente grande, não me parece que tenham grande serventia nos dias de hoje.
Fez-me lembrar um episódio dos Simpsons em que a Lisa quer à viva força ter um pónei. Concedo que realmente cabem num jardim, e arrependo-me de não ter perguntado quanta comida comem por dia, só por curiosidade que eu não tenho vida compatível com ter animais. Mas estes moram perto da estrada panorâmica em direcção aos Alpes, mesmo ao lado de uma tasca maravilhosa, como que uma taberna à antiga que serve de mercearia, de talho e de fast-food (a sande de schnitzel estava maravilhosa), e até tem Biergarten e tudo. Claro que o Biergarten é à escala dos póneis, ou seja, 3 ou 4 mesas e bancos corridos, em puro estilo bávaro, mas estava vazio e os clientes que entravam e saíam cumprimentavam toda a gente. Mesmo os motoqueiros. Sendo assim, é provável que volte a visitá-los, e eventualmente a perguntar sobre os hábitos destas criaturas, embora corra o risco de não entender as respostas, que isto é longe da cidade cosmopolita e como tal não se fala alemão, mas um dialecto quase incompreensível. Se calhar com tempo, aprende-se.
(Eu não sei bem como ou porquê, mas no campo as casas são enormes, gigantescas, dão para a família toda incluindo avós e netos, bed and breakfast e animais no rés do chão ou num celeiro ao lado. Impressionante.)
Fez-me lembrar um episódio dos Simpsons em que a Lisa quer à viva força ter um pónei. Concedo que realmente cabem num jardim, e arrependo-me de não ter perguntado quanta comida comem por dia, só por curiosidade que eu não tenho vida compatível com ter animais. Mas estes moram perto da estrada panorâmica em direcção aos Alpes, mesmo ao lado de uma tasca maravilhosa, como que uma taberna à antiga que serve de mercearia, de talho e de fast-food (a sande de schnitzel estava maravilhosa), e até tem Biergarten e tudo. Claro que o Biergarten é à escala dos póneis, ou seja, 3 ou 4 mesas e bancos corridos, em puro estilo bávaro, mas estava vazio e os clientes que entravam e saíam cumprimentavam toda a gente. Mesmo os motoqueiros. Sendo assim, é provável que volte a visitá-los, e eventualmente a perguntar sobre os hábitos destas criaturas, embora corra o risco de não entender as respostas, que isto é longe da cidade cosmopolita e como tal não se fala alemão, mas um dialecto quase incompreensível. Se calhar com tempo, aprende-se.
(Eu não sei bem como ou porquê, mas no campo as casas são enormes, gigantescas, dão para a família toda incluindo avós e netos, bed and breakfast e animais no rés do chão ou num celeiro ao lado. Impressionante.)
Ai, o cheiro da Primavera
Um dia de sol maravilhoso, os montes verdejantes, os Alpes no horizonte, o céu azul. O campo, os tractores, as casas enormes, as vistas. Absolutamente paradisíaco, não fosse o cheiro a estrume.
19 março 2014
Como fazer um bolo sem forno
Ora aí esta uma questão que nunca me tinha ocorrido. Infelizmente tenho que encontrar a resposta rapidamente. Tenho uma festa de miúdos à porta e o forno avariou.
Para já só consigo pensar em:
Bolo de panquecas - feito de panquecas empilhadas, coladas por creme à escolha (chocolate, ou queijo creme aromatizado)
Bolo de bolacha - alguma versão alterada sem o café - mas como é que um bolo de bolacha poderá funcionar sem café?
Queques de chocolate de microondas - não é propriamente um bolo, mas serve...
Podia ir a uma pastelaria e encomendar. Mas isso era fugir ao desafio. Há-de haver maneira de fazer bolos sem utilizar o forno.
Cheesecake!
Para já só consigo pensar em:
Bolo de panquecas - feito de panquecas empilhadas, coladas por creme à escolha (chocolate, ou queijo creme aromatizado)
Bolo de bolacha - alguma versão alterada sem o café - mas como é que um bolo de bolacha poderá funcionar sem café?
Queques de chocolate de microondas - não é propriamente um bolo, mas serve...
Podia ir a uma pastelaria e encomendar. Mas isso era fugir ao desafio. Há-de haver maneira de fazer bolos sem utilizar o forno.
Cheesecake!
13 março 2014
Sabes que já não vais a Portugal há imenso demasiado tempo quando...
Não chegou a haver Inverno a sério. A primavera aproxima-se a passos largos e já não há razão nenhuma para usar botas altas. Quinze ou dezasseis graus durante o dia já não são (apenas) uma agradável surpresa, são uma constante, e como tal, está na hora de mudar de calçado. Infelizmente, o calçado de primavera precisa de um sapateiro habilidoso, ou substituição urgente. Passo as noites a surfar a net a ver montras virtuais, mas o que eu queria mesmo era ir à minha sapataria, e ao meu sapateiro.
Tive que cortar o cabelo cá. Estou que nem posso, cada vez que me olho ao espelho penso na minha cabeleireira, a quem tenho que ser infiel mais vezes do que gostaria. Quanto tempo é que demorará a passar o efeito deste corte esquisito que à frente ficou demasiado curto e direito. A tortura que é encontrar uma cabeleireira nova que faça um corte que me agrade, já corri não sei quantas em Munique e ainda não acertei.
Apesar do Inverno ter sido muito ameno, tenho saudades do sol e do céu azul. É difícil explicar, porque tem estado imenso sol, mas não é a mesma coisa. Estou com saudades de "casa".
Tive que cortar o cabelo cá. Estou que nem posso, cada vez que me olho ao espelho penso na minha cabeleireira, a quem tenho que ser infiel mais vezes do que gostaria. Quanto tempo é que demorará a passar o efeito deste corte esquisito que à frente ficou demasiado curto e direito. A tortura que é encontrar uma cabeleireira nova que faça um corte que me agrade, já corri não sei quantas em Munique e ainda não acertei.
Apesar do Inverno ter sido muito ameno, tenho saudades do sol e do céu azul. É difícil explicar, porque tem estado imenso sol, mas não é a mesma coisa. Estou com saudades de "casa".
Não é justo
Almocei uma das minhas comidas favoritas. Apanhei uma intoxicação alimentar. Leve, não fui parar ao hospital.
11 março 2014
Platão, esse grande homem
Tenho uma paixão assolapada pelos escritos de um homem. Não, não estou a falar de Platão, é outro, um cujo coração ainda bate. Ora, estando apaixonada pela inteligência e sentido de humor combinados, capacidade de análise e eloquência, da expressão escrita deste ser humano, confronto-me de vez em quando com a dúvida: ver ou não ver. Assistir de camarote, ou simplesmente continuar a acompanhar apenas a palavra escrita, sem nunca deturpar a imagem imaginada pela minha cabeça. Que não é sequer uma imagem. Para mim o homem não é gordo, nem magro, nem alto, nem baixo, nem bonito nem feio, embora provavelmente tenha barba. É mais provável que um homem eloquente e inteligente tenha barba, quanto mais não seja para não perder tempo a fazê-la, que os escritos não se auto-produzem.
Claro que se me atrever a conhecer esta musa inspiradora - pois, eu sei, é grave - o maior risco que corro não é a decepção de descobrir que mesmo uma pessoa inteligente, eloquente, e com um sentido de humor fora do comum, é apenas um mero mortal. Ou a surpresa de o homem ser isto tudo e muito mais, e ficar viciada na observação de um génio em acção. O risco é nunca mais voltar a olhar para aqueles textos com os mesmos olhos.
Claro que se me atrever a conhecer esta musa inspiradora - pois, eu sei, é grave - o maior risco que corro não é a decepção de descobrir que mesmo uma pessoa inteligente, eloquente, e com um sentido de humor fora do comum, é apenas um mero mortal. Ou a surpresa de o homem ser isto tudo e muito mais, e ficar viciada na observação de um génio em acção. O risco é nunca mais voltar a olhar para aqueles textos com os mesmos olhos.
09 março 2014
Eu sei que há livros e tal
A televisão não dá nada de jeito. Tantos canais e não há nada que se aproveite.Não gosto de filmes, e os canais onde costumava seguir séries, passaram a dar só filmes à noite. Estou farta de programas de culinária - principalmente daqueles em que nem sequer cozinham nada que eu comesse. Há bocado estava a dar um sobre doces - bolos e assim - que não só era culturalmente terrível, era nutricionalmente péssimo, para lá de mau. (Suponho que fazer bolos sem bater claras em castelo e usar quantidades de manteiga que ultrapassam um pacote por bolo, antes de sequer chegar às "coberturas" desclassifica, aos meus olhos, qualquer bolo.)
Os canais de documentários deviam ter algo como um bbc vida selvagem para eu adormecer, e as séries pseudo-cómicas deviam dispensar os risos entalados que me perturbam a paz. De modos que acabo, com os miúdos na cama e portanto sem desculpa plausível, a ver os desenhos animados. Do cartoon network que é o único que não tem publicidade (vá, tem, mas muito pouca), e não aumenta o som durante o intervalo, que é algo para acordar a minha pessoa. E infelizmente deixou de transmitir apenas em inglês - alguns personagens ficaram com umas vozes esganiçadas que também não funcionam como soporífero. Há quem vá dormir para a cama por mais cedo que seja, mas eu estou convencida que perco a nacionalidade se me for deitar antes da meia-noite, e prefiro dormir um bocadinho no sofá.
Os canais de documentários deviam ter algo como um bbc vida selvagem para eu adormecer, e as séries pseudo-cómicas deviam dispensar os risos entalados que me perturbam a paz. De modos que acabo, com os miúdos na cama e portanto sem desculpa plausível, a ver os desenhos animados. Do cartoon network que é o único que não tem publicidade (vá, tem, mas muito pouca), e não aumenta o som durante o intervalo, que é algo para acordar a minha pessoa. E infelizmente deixou de transmitir apenas em inglês - alguns personagens ficaram com umas vozes esganiçadas que também não funcionam como soporífero. Há quem vá dormir para a cama por mais cedo que seja, mas eu estou convencida que perco a nacionalidade se me for deitar antes da meia-noite, e prefiro dormir um bocadinho no sofá.
02 março 2014
Tudo é um jogo
Para quem não segue o lourencobray (sonhos do tipo D), um post sobre jogos, realidade virtual, e a realidade. Muito bom, vale a pena ler.
28 fevereiro 2014
Para quem gosta de séries que não encaixam na fórmula de sempre
Veio parar cá a casa uma série de DVDs intitulada "Black Mirror". Esquisita qb, intrigante, estranha. Não é holywood, é mais sci-fi relativamente plausível, que nos deixa a pensar. Não se antecipa facilmente o que irá acontecer a seguir, e depois de ver as duas séries, quer-se mais. Muito bom. Vejam os bocadinhos que estão no youtube, vale a pena.
27 fevereiro 2014
Não encontrando o cão, caçando com gato
Segunda procurei desesperadamente um relógio de pulso analógico. Encontrei alguns guardados numa gaveta - ofertas ao longo dos anos, os mais recentes do ano passado. Nenhum deles tinha pilhas. Precisava de poder ver as horas num relógio de pulso. Analógico. Não tinha como. Estou habituada a não usar relógio. Desde que trabalho que ou vejo as horas no computador, ou no telefone, se estiver num local sem computador ou telefone provavelmente há um relógio de parede que eu possa consultar. E no fundo, a maior parte do tempo não preciso de saber que horas são.
Fui à gaveta dos monos, no meu cérebro, onde guardo informações relativamente inúteis mas que nunca se sabe quando poderei voltar a precisar delas. Encontrei o "algoritmo para saber as horas" desenvolvido quando andava na faculdade, precisava de saber as horas muitas vezes ao dia - para chegar aos sítios convenientemente atrasada ou simplesmente para saber quanto mais tinha que aguentar até a aula acabar - e o meu relógio avariou. Na altura só tinha um. Desenvolvi uma especial habilidade para espreitar o relógio de pulso do humano mais próximo, e um sexto sentido para identificar relógios de parede e outros relógios de maior ou menor dimensão em locais públicos, e ainda a aptidão para rapidamente me aperceber das horas através de reflexos em superfícies espelhadas.
Munida do algoritmo, relaxei. Podia não ter um relógio de pulso (analógico), mas havia de me desenrascar. E lá consegui, relógios de pulso dos vizinhos mais próximos devidamente identificados para utilização futura, todos os relógios de parede visíveis referenciados, e no fim até consegui acordar utilizando apenas o meu relógio interno, uns minutos antes do alarme tocar. Que o meu relógio interno funciona, mas nunca fiando.
Assim que deixei de precisar do relógio de pulso analógico, voltei a por o "algoritmo para saber as horas" na gaveta das coisas relativamente inúteis. Mal terminei essa tarefa, encontrei um. A funcionar. Com pilhas. Giro. A rir-se de mim, ao pé do telefone. Sacana.
Fui à gaveta dos monos, no meu cérebro, onde guardo informações relativamente inúteis mas que nunca se sabe quando poderei voltar a precisar delas. Encontrei o "algoritmo para saber as horas" desenvolvido quando andava na faculdade, precisava de saber as horas muitas vezes ao dia - para chegar aos sítios convenientemente atrasada ou simplesmente para saber quanto mais tinha que aguentar até a aula acabar - e o meu relógio avariou. Na altura só tinha um. Desenvolvi uma especial habilidade para espreitar o relógio de pulso do humano mais próximo, e um sexto sentido para identificar relógios de parede e outros relógios de maior ou menor dimensão em locais públicos, e ainda a aptidão para rapidamente me aperceber das horas através de reflexos em superfícies espelhadas.
Munida do algoritmo, relaxei. Podia não ter um relógio de pulso (analógico), mas havia de me desenrascar. E lá consegui, relógios de pulso dos vizinhos mais próximos devidamente identificados para utilização futura, todos os relógios de parede visíveis referenciados, e no fim até consegui acordar utilizando apenas o meu relógio interno, uns minutos antes do alarme tocar. Que o meu relógio interno funciona, mas nunca fiando.
Assim que deixei de precisar do relógio de pulso analógico, voltei a por o "algoritmo para saber as horas" na gaveta das coisas relativamente inúteis. Mal terminei essa tarefa, encontrei um. A funcionar. Com pilhas. Giro. A rir-se de mim, ao pé do telefone. Sacana.
Livre Livre!
Acabou a maratona. Uma daquelas em que se correm 42 quilómetros e depois ainda faltam duas centenas de metros? Não, uma daquelas em que se escrevem 42 quilómetro e no fim se falha por faltarem duas centenas de metros.
Tenho um calo no dedo. Mas estou contente. Já posso arrumar as resmas de papel.
Tenho um calo no dedo. Mas estou contente. Já posso arrumar as resmas de papel.
22 fevereiro 2014
19 fevereiro 2014
O rio mais famoso do Egipto
Enquanto crescia, nunca vi a minha mãe fazer dieta. Ou preocupar-se com o peso. Aos 18 anos as minhas amigas achavam-me uma sortuda porque não precisava de fazer dietas (pesava 52 kilos), e eu achava que elas eram extra-terrestres por sequer pensarem em dietas - eu sabia lá o que era isso.
Eu nunca me apercebi que a minha mãe se preocupasse com a linha. E se calhar é por isso que nem sequer penso em dietas, gosto do meu corpo e de mim. Se podia perder uns quilitos? Podia. Mas também os podia ganhar. E desde que possa continuar a jogar futebol, e não tenha problemas de saúde, o que como não será nunca uma obsessão. Vejo gente à minha volta a fazer dietas de todos os tipos e nem sequer parecem contentes. Perdem peso, mas não ganham felicidade. Eu era lá capaz de comer tanta verdura. Eu é que algum dia passava, um dia que fosse, sem hidratos de carbono. Eu podia lá ser feliz a passar fome.
Eu nunca me apercebi que a minha mãe se preocupasse com a linha. E se calhar é por isso que nem sequer penso em dietas, gosto do meu corpo e de mim. Se podia perder uns quilitos? Podia. Mas também os podia ganhar. E desde que possa continuar a jogar futebol, e não tenha problemas de saúde, o que como não será nunca uma obsessão. Vejo gente à minha volta a fazer dietas de todos os tipos e nem sequer parecem contentes. Perdem peso, mas não ganham felicidade. Eu era lá capaz de comer tanta verdura. Eu é que algum dia passava, um dia que fosse, sem hidratos de carbono. Eu podia lá ser feliz a passar fome.
18 fevereiro 2014
A coisa mais romântica de sempre
Não inclui corações, a não ser os que batem dentro do coração, não inclui chocolate, nem flores, nem luz das velas, nem cenas nenhumas à filme.
A coisa mais romântica de sempre, para a pessoa menos romântica do mundo, é perguntar, perguntar, perguntar sempre, até que um dia a pergunta é feita a sério. Sim, percebemos que dessa vez é que é, pelas borboletas no estômago e o arrepio na espinha. E pronto.
A coisa mais romântica de sempre, para a pessoa menos romântica do mundo, é perguntar, perguntar, perguntar sempre, até que um dia a pergunta é feita a sério. Sim, percebemos que dessa vez é que é, pelas borboletas no estômago e o arrepio na espinha. E pronto.
10 fevereiro 2014
O Inverno do meu contentamento
Para quem gosta de neve, tem sido terrível. Nem frio, nem neve, pouquíssimas ocorrências de temperaturas negativas. Até agora tivemos passeios com neve uma vez. Uma maravilha para quem não gosta de ter que os limpar. Um desgosto para a malta com máquinas XPTO que limpam a neve do passeio em menos de um ai. Pergunto-me como será para os limpa-neves profissionais, se recebem por contrato independentemente da quantidade de trabalho que vierem a ter, ou se, pelo contrário, são contratados ad-hoc conforme as necessidades. Suponho que haja dos dois.
Nas estâncias de ski há alguma neve, muito à conta das máquinas que produzem neve artificial (blhéc), é melhor que nada. Nos picos há sempre neve, nem que esteja congelada ao ponto de parecer gelo, o que não é para todos.
Mas na cidade, tem sido o melhor Inverno de sempre. Alguns dias cinzentos, sim, alguns, poucos, dias de chuva, muitos dias de sol. Temperaturas quase sempre nos graus positivos, quase Primavera para esta zona. Nada daquela porcaria castanha em que se transforma a neve depois do manto branco inicial. (Ainda) nem tirei as camisolas mais quentes do armário, tenho andado sempre de t-shirt e casaco. E os gorros também têm ficado esquecidos na gaveta.
A cereja em cima do bolo seria poder aproveitar este Inverno tão ameno passando o máximo tempo possível fora de quatro paredes. Não se pode ter tudo, parece-me, mas também não me queixo, mesmo do lado de dentro da janela gosto de ver o sol e saber que posso ir lá fora sem congelar o nariz. E, em podendo escolher, prefiro trabalhar com o sol a bater-me na cara.
Nas estâncias de ski há alguma neve, muito à conta das máquinas que produzem neve artificial (blhéc), é melhor que nada. Nos picos há sempre neve, nem que esteja congelada ao ponto de parecer gelo, o que não é para todos.
Mas na cidade, tem sido o melhor Inverno de sempre. Alguns dias cinzentos, sim, alguns, poucos, dias de chuva, muitos dias de sol. Temperaturas quase sempre nos graus positivos, quase Primavera para esta zona. Nada daquela porcaria castanha em que se transforma a neve depois do manto branco inicial. (Ainda) nem tirei as camisolas mais quentes do armário, tenho andado sempre de t-shirt e casaco. E os gorros também têm ficado esquecidos na gaveta.
A cereja em cima do bolo seria poder aproveitar este Inverno tão ameno passando o máximo tempo possível fora de quatro paredes. Não se pode ter tudo, parece-me, mas também não me queixo, mesmo do lado de dentro da janela gosto de ver o sol e saber que posso ir lá fora sem congelar o nariz. E, em podendo escolher, prefiro trabalhar com o sol a bater-me na cara.
01 fevereiro 2014
Era uma corrida, sff
Às vezes olho para os corredores do meu local de trabalho, penso nas cadeiras com rodinhas, e começo a planear mentalmente uma corrida de cadeiras de escritório. Qual o melhor percurso, versão contra-relógio ou várias pistas alinhadas, volta ao andar completo, ou ainda uma versão avançada incluindo utilização de elevadores para aumentar a distância total a percorrer. Pares - um sentado, outro a empurrar -, estafeta, individual (dar ao pé). E, claro, a que hora é se poderia fazer uma coisa destas. Depois a bolha faz pop, uma coisa destas só com autorização e não me parece que haja sentido de humor suficiente para deixar a malta descontrair desta maneira, tudo a voltar para as secretárias, cadeirinhas sossegaditas, podem girar mas não dêem muito uso às rodinhas para não gastar que o material é caro.
O meu vizinho entretanto anda a preparar uma partida relativamente inofensiva. Trocar o papel higiénico na casa de banho por um que não tem ponta e é impossível de rasgar (acho que é este aqui). Felizmente as casas de banho são antiquadas (homens para um lado, senhoras para outro), e como tal estou a salvo, mas agora que já pensei nisto melhor não sei se é uma partida engraçada ou de mau gosto. Alguém devia avisar a rapaziada para levar o jornal quando for usar a sanita.
O meu vizinho entretanto anda a preparar uma partida relativamente inofensiva. Trocar o papel higiénico na casa de banho por um que não tem ponta e é impossível de rasgar (acho que é este aqui). Felizmente as casas de banho são antiquadas (homens para um lado, senhoras para outro), e como tal estou a salvo, mas agora que já pensei nisto melhor não sei se é uma partida engraçada ou de mau gosto. Alguém devia avisar a rapaziada para levar o jornal quando for usar a sanita.
30 janeiro 2014
Eu fui à praxe
Podia dizer que eu fui à praxe e sobrevivi, mas não é verdade.
Eu vi a "minha" praxe ao longe das primeiras vezes, e achei aquilo uma brincadeira divertidíssima, e depois também quis entrar. Eu era para não me ter lá ido meter, mas isso foi antes de saber como era na minha faculdade.
E as primeiras coisas que eram anunciadas aos caloiros era que ali não se ia pintar a cara a ninguém, nem fazer a malta andar de fraldas ou parvoíces dessas. Isso era para as outras praxes. A minha praxe foi uma festa. Pronto, nem tanto, teve tardes em que foi uma seca - um ou dois veteranos a falar durante muito tempo, e algumas coisas eram interessantes e outras menos- mas também teve tardes e noites de morrer a rir. Tive aulas fantasma - em que um dos mais velhos nos apareceu a fazer de professor e nos deu uma lista de bibliografia que nunca mais acabava (o Pisconov, o famoso livro de matemática, era seguido do Piscodez, obviamente - para quem não era caloiro - inventado). Rimo-nos muito, muitas vezes, eu se calhar mais do que os outros. Fizemos casco-paper, latada (com latas, e sem mais adereços), noitadas, sessões solenes, cantorias, jantaradas, almoços nas cantinas e nas tascas da cidade, e sim, fomos felizes juntos. O pessoal do segundo ano estava proibido de praxar - para não haver excessos - e a praxe mais organizada, dia sim dia sim durante muitas semanas, estava entregue a alguns alunos do terceiro ano. Os veteranos apareciam para fazer número, mandar bocas, discursar, ensinar algumas coisas pois. Em público, quando se praxava primeiro fazia-se uma parede de capas pretas, para que os estranhos não assistissem . Ok, dentro do possível. Mas ninguém foi mandado comer porcarias, ou teve que rastejar pelo chão. E os "doutores" levavam-nos às aulas. E depois iam-nos buscar. :o)
Nunca me senti obrigada a ir à praxe, e tive pena dos dias em que não pude ir. Nunca me senti maltratada, ou humilhada. E parcialmente terá sido porque era caloira, e as caloiras eram tratadas com mais cuidado, ninguém nos punha um dedo em cima. Vantagens da faculdade estar cheinha de homens. Se calhar a parte mais chocante da minha praxe foi a quantidade de asneiras que dissemos... mas eu sou transmontana, e na minha terra usa-se uma linguagem ainda mais colorida do que a que ouvi na praxe.
Havia um grupo de três colegas que nunca foram à praxe. E usaram traje, e foram ao cortejo e à queima. E não, não eram iguais aos outros. Não é que não tivessem amigos. Ninguém os tratava mal. Davam-se bem com um número menor de pessoas, penso que era aí que residia a maior diferença. Demoraram mais tempo a criar laços. Bom ou mau, não sei, eu até me dava com eles, mas não era como com os outros, com que tinha rido e partilhado horas e horas a fazer as mesmas coisas. Nunca, nos anos todos em que convivemos quase diariamente, aqueles três se tornaram tão próximos como alguns outros que estiveram na praxe comigo. Provavelmente foram dos poucos alunos do meu curso que não tiveram explicações de desenho técnico com um "doutor" que adorava a cadeira e ajudou praticamente todos os caloiros a compreender a matéria.
A minha melhor amiga de sempre conheci-a na praxe. Ficávamos uma ao lado da outra, literalmente e figurativamente, e assim continuamos, tantos anos depois, mesmo que em países diferentes.
Se a praxe é uma coisa boa? Para mim foi. O que é certo é que desde sempre que ouço relatos de coisas terríveis que aconteceram em praxes, e felizmente nunca tive uma experiência que se assemelhasse. Nem ao que aparece nos jornais, nem ao que se vê nas ruas. Nunca me pintaram a cara. Nunca me puseram um dedo em cima. Nunca me tentaram obrigar a fazer nada. O medo que eu tinha à praxe passou quando vi a praxe ao vivo na minha faculdade, e transformou-se num prazer. Sim, eu gostei da praxe. E porquê?Porque sou masoquista. Porque foi divertida. Porque conheci quase toda a gente em alguns dias. Porque criei cumplicidades que na ausência da praxe não teriam acontecido. E por causa da praxe envolvi-me em imensas coisas que não tinham nada a ver com a praxe - mas que apenas se proporcionaram por ter conhecido aquela gente toda durante a praxe. E a minha praxe foi um espectáculo dos bons.
Eu vi a "minha" praxe ao longe das primeiras vezes, e achei aquilo uma brincadeira divertidíssima, e depois também quis entrar. Eu era para não me ter lá ido meter, mas isso foi antes de saber como era na minha faculdade.
E as primeiras coisas que eram anunciadas aos caloiros era que ali não se ia pintar a cara a ninguém, nem fazer a malta andar de fraldas ou parvoíces dessas. Isso era para as outras praxes. A minha praxe foi uma festa. Pronto, nem tanto, teve tardes em que foi uma seca - um ou dois veteranos a falar durante muito tempo, e algumas coisas eram interessantes e outras menos- mas também teve tardes e noites de morrer a rir. Tive aulas fantasma - em que um dos mais velhos nos apareceu a fazer de professor e nos deu uma lista de bibliografia que nunca mais acabava (o Pisconov, o famoso livro de matemática, era seguido do Piscodez, obviamente - para quem não era caloiro - inventado). Rimo-nos muito, muitas vezes, eu se calhar mais do que os outros. Fizemos casco-paper, latada (com latas, e sem mais adereços), noitadas, sessões solenes, cantorias, jantaradas, almoços nas cantinas e nas tascas da cidade, e sim, fomos felizes juntos. O pessoal do segundo ano estava proibido de praxar - para não haver excessos - e a praxe mais organizada, dia sim dia sim durante muitas semanas, estava entregue a alguns alunos do terceiro ano. Os veteranos apareciam para fazer número, mandar bocas, discursar, ensinar algumas coisas pois. Em público, quando se praxava primeiro fazia-se uma parede de capas pretas, para que os estranhos não assistissem . Ok, dentro do possível. Mas ninguém foi mandado comer porcarias, ou teve que rastejar pelo chão. E os "doutores" levavam-nos às aulas. E depois iam-nos buscar. :o)
Nunca me senti obrigada a ir à praxe, e tive pena dos dias em que não pude ir. Nunca me senti maltratada, ou humilhada. E parcialmente terá sido porque era caloira, e as caloiras eram tratadas com mais cuidado, ninguém nos punha um dedo em cima. Vantagens da faculdade estar cheinha de homens. Se calhar a parte mais chocante da minha praxe foi a quantidade de asneiras que dissemos... mas eu sou transmontana, e na minha terra usa-se uma linguagem ainda mais colorida do que a que ouvi na praxe.
Havia um grupo de três colegas que nunca foram à praxe. E usaram traje, e foram ao cortejo e à queima. E não, não eram iguais aos outros. Não é que não tivessem amigos. Ninguém os tratava mal. Davam-se bem com um número menor de pessoas, penso que era aí que residia a maior diferença. Demoraram mais tempo a criar laços. Bom ou mau, não sei, eu até me dava com eles, mas não era como com os outros, com que tinha rido e partilhado horas e horas a fazer as mesmas coisas. Nunca, nos anos todos em que convivemos quase diariamente, aqueles três se tornaram tão próximos como alguns outros que estiveram na praxe comigo. Provavelmente foram dos poucos alunos do meu curso que não tiveram explicações de desenho técnico com um "doutor" que adorava a cadeira e ajudou praticamente todos os caloiros a compreender a matéria.
A minha melhor amiga de sempre conheci-a na praxe. Ficávamos uma ao lado da outra, literalmente e figurativamente, e assim continuamos, tantos anos depois, mesmo que em países diferentes.
Se a praxe é uma coisa boa? Para mim foi. O que é certo é que desde sempre que ouço relatos de coisas terríveis que aconteceram em praxes, e felizmente nunca tive uma experiência que se assemelhasse. Nem ao que aparece nos jornais, nem ao que se vê nas ruas. Nunca me pintaram a cara. Nunca me puseram um dedo em cima. Nunca me tentaram obrigar a fazer nada. O medo que eu tinha à praxe passou quando vi a praxe ao vivo na minha faculdade, e transformou-se num prazer. Sim, eu gostei da praxe. E porquê?
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