07 julho 2014

Se eu morrer, espero não ter deixado a diversão para o fim

Quando andava na primária, a professora dava-nos os testes (as provas!) de matemática e meio físico ao mesmo tempo. Metade da turma (classe!) fazia o de matemática, a outra metade fazia o de meio físico, assim na mesma mesa (carteira!) que dava para dois alunos podiam-se fazer dois testes simultaneamente sem haver grandes riscos de copianço. Que era coisa que nem passava pela cabeça daquelas criancinhas inocentíssimas, mesmo os mais mafarricos, a ideia de alguma vez copiar só apareceu muito mais tarde, sob influência de ter muita gente debaixo do mesmo tecto, no ciclo preparatório, isto se não foi já no ensino secundário.
Na primária, dizia eu, tínhamos que escolher entre fazer primeiro a prova de meio físico ou de matemática, e isto em acordo com o nosso colega de carteira, que faria a outra prova. Eu e a minha colega nunca tínhamos discussões sobre o assunto. Ambas gostávamos mais de matemática, e menos de meio físico, mas tínhamos atitudes diametralmente opostas sobre o que deveria vir primeiro. Eu preferia começar pela matemática, a minha colega pelo meio físico. Para mim vinha primeiro o prazer, para ela, vinha primeiro a chatice (ia escrever obrigação, mas na verdade, ambas as provas eram uma obrigação, não havia como escapar a nenhuma delas).

Mais tarde, numas férias de verão daquelas mesmo antes de me começar a interessar por rapazes (se bem que isto nem venha ao caso), a minha família combinou com uma família amiga irmos juntos para o Algarve. Em chegando lá, eu e a filha destes amigos demos um passeio de reconhecimento e catalogámos minuciosamente todas as coisas que queríamos fazer durante as férias. Tínhamos combinado fazer uma coisa da lista por dia. Infelizmente para mim, logo num dos primeiros dias fiquei doente, e em vez de ir riscando os items já completados da lista de diversões, passei o resto das férias no hospital ou na cama, fechada debaixo de tecto. Jurei que nunca mais deixava nada divertido para amanhã.

Entretanto, com a idade adulta, vou riscando cada vez mais as coisas que não gosto ou não me interesso das listas de coisas a fazer - sendo que este tipo de coisas só aparece como sugestão de outras pessoas. A vida é curta para desperdiçar com coisas que não valem a pena.

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