21 março 2010

Sabemos que a loja é mesmo boa quando...

Ora anda uma pessoa sossegadinha às compras, a pensar nas camisolas que precisa e calças que já não servem e coisas assim, lá escolhe umas coisitas para experimentar, e quando chega ao provador, vê o casaco perfeito pousado em cima de uma mesa, daquelas onde o pessoal deixa a roupa que não quer, para que alguém depois arrume no lugar. O casaco era feito do material certo, tinha o tamanho (que não estava fácil de encontrar) certo, a cor perfeita para combinar com quase tudo o que já se encontrava no roupeiro em casa... E quando a pessoa resolve experimentar o casaco, leva as mãos ao bolso e encontra um maço de tabaco e um isqueiro. E rapidamente volta a pôr o casaco onde estava, que pelos vistos os casacos perfeitos já têm dono. ;)

14 março 2010

vrrummm...

Fui comprar o equipamento para a mota. (A tal que ainda não tenho.) Eu quero andar de mota mas parece que toda a gente tem acidentes, pelo que de repente tomei consciência de que não se pode andar com roupa normal e um simples capacete num brinquedo destes, porque de vez em quando cai-se. Ou a mota cai em cima de nós. O mínimo obrigatório (capacete) não chega. Casaco, calças, protectores, luvas, botas. Se um dia cair, quero poder levantar-me logo a seguir.
A loja era o máximo. Todos os vendedores são motoqueiros. Alguns há 20 anos, outros menos. Todos já tiveram acidentes, e continuaram a andar de mota, pelo que alguma coisa andam a fazer bem ;). Os melhores conselhos vieram das gajas :D, porque afinal os problemas que eu tenho são os mesmos que elas têm. E comprei umas botas com sola mais grossa, para ficar mais alta, que às vezes pode fazer a diferença entre ficar de pé ou deixar-me cair. É que as motas são umas maquinas pesadotas. Na loja tinham a mota que eu tenciono comprar, pelo que deu para experimentar o equipamento em cima dela. Para ver se os protectores ficam no sítio certo (nem todas as calças são feitas para pernas com o comprimento das minhas ;)) e se o casaco não aperta demais nos braços. Foi fixe. E saí de lá cheia de pressa para tirar a carta (já falta pouco) e dar umas voltas por aí.

Melhores histórias? O rapaz que foi andar de mota para o Alasca por 3 semanas. 2/3 do tempo debaixo de chuva, e ainda assim veio todo contente. O rapaz que teve um acidente e deu cabo da mota, mas saiu ileso. A mulher que anda de mota há 20 anos e teve alguns acidentes, e ainda está aí para as curvas. A miúda que ficou toda excitada com o fato que eu comprei (sim, é tão fixe) e que foi logo buscar as luvas que ficam melhor (sim, com os protectores nos sítios certos) e que ela também vai comprar. ;) Ah, e eu, que já tinha ido a várias lojas só para ver, fiquei mesmo impressionada com a quantidade de mulheres que ali andavam às compras - capacetes, calças, botas. E ao mesmo tempo, percebo, nas outras lojas não havia quase nada para senhoras...

(não tenciono cair. não tenciono andar a velocidades malucas. só dar uns passeios. ainda assim, acredito que mais vale prevenir que remediar...)

06 março 2010

Isto anda assim... ;)
Não vou por aí!

Cântico negro

José Régio


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!