26 abril 2015

Faz-me falta uma amiga

Sabem aqueles desafios de tirar uma foto por dia? Tenho andado a fazer uma experiência do género. Por vários motivos, agora faço auto retratos. Dizem que nunca gostamos quando ouvimos a nossa voz gravada. Deve ser uma questão de hábito. Depois de me ouvir por horas e horas, apenas posso dizer que reconheço a minha voz. Quanto à imagem, a conversa é diferente. Eu não gosto de me ver fotografada. Perco a piada toda, a duas dimensões. Mesmo assim, vou tirando fotografias. À conta disto já descobri que vestir a primeira coisa que me vem à mão de manhã quando ainda estou meia a dormir pode não ser sempre a melhor das ideias. Mas também sei que não é por isso que vou escolher a roupa antes de ir dormir. Os auto-retratos podem servir para isso. Como não tenho uma amiga aqui à mão, uma daquelas amigas brutas que te diz as verdades sem lhe passar pela cabeça que podes não achar muita piada a certas verdades, tiro fotos. Brutais. Aquela camisola branca que eu adoro é um desastre com aquela saia azul e branca (a que fica um espetáculo com o top azul). Talvez a use com umas calças para a próxima. Os sapatos de vela podem ser muito confortáveis, mas ainda não sei se realmente ficam bem com alguma coisa.
Podia ver-me ao espelho. E acho que até vejo, mas não é a mesma coisa. Antes das dez da manhã não vejo bem, é um problema dos meus olhos, que ficam meios fechados até ao café. À hora do café finalmente acordo. E a essa hora não há tempo de olhar para espelhos, ou trocar de roupa.

As amigas que tenho por cá não ligam nada a essas coisas. E eu também não, a maior parte das vezes. No entanto, há alturas para tudo, incluindo recalibrar o guarda-roupa. Continuo a usar maquilhagem três vezes por ano. Nunca vi o fim a uma embalagem de base, um batom, uma sombra de olhos, um verniz. Mas tenho de me vestir todos os dias.


20 abril 2015

Troca palavras

Às vezes sai-me uma ou outra palavra em inglês no meio de conversas em português. Não é problema de tradução, de já não saber como se diz, de não me lembrar da palavra que queria dizer. Nada disso. Há palavras que me fogem pela boca sem que eu queira, escapam-se e pronto. Uns "if", uns "but" outras mais compridas e que me saem assim tão rapidamente como um "if" ou um "but". Não me consigo travar, fico chocadíssima comigo mesma ao mesmo tempo que me foge a palavra. Ainda consigo num microsegundo pensar se hei-de corrigir para o que realmente queria dizer, e no microsegundo seguinte decido fazer de conta que nem dei por nada, meia bola e força, continuo o discurso. É de falar depressa, com certeza. Pois se os até os anglicismos que se tornaram corriqueiros me continuam a arranhar os ouvidos. Não, não tenho dúvida nenhuma, é de pensar tão rapidamente em português como em inglês.

(Já o francês e o alemão só saem ponderados, por opção em utilizar uma determinada palavra que traduzida dificilmente tem o mesmo significado ou peso.)

15 abril 2015

Verão por dois dias

Dois dias de sol maravilhoso, quase verão, e no fim de semana vem o inverno outra vez. Não sei se sofra por antecipação, se por ter que trabalhar em dias assim.
Os alemães têm o "hitzfrei": quando está muito calor, as escolas fecham. Infelizmente não há hitzfrei para quem trabalha e não é professor, o que está mal, muito mal. Na minha terra tínhamos os dias de neve, se nevasse não havia escola, porque os autocarros e os carros dos professores que vinham de longe não passavam nas estradas.
Ao menos podemos tomar café na esplanada, ou almoçar ao sol.

06 abril 2015

Ai, o Porto

Uma semana de férias, volta a Portugal em 2000km. Mais coisa menos coisa. É sina de emigrante, o tempo nunca chega para tudo o que se quer fazer - não cheguei a ir à minha sapataria favorita, nem à minha esteticista amiga, não fui à loja de tecidos, nem ao meu pedaço de rio - e o pouco que se tem é vivido intensamente. Uma semana depois, preciso de férias das férias.
Trás-os-Montes, Porto, Coimbra, Lisboa, foi para o que deu. Sinto-me em casa em praticamente todo o lado em Portugal, mas por mais que os anos passem, por mais que a visite, Lisboa não é a minha praia. Do país inteiro, é o único sítio onde não tenho vontade nenhuma de viver. E, ironicamente, talvez seja a cidade onde mais provavelmente teria que viver se de repente decidisse arrumar a tralha e voltar.
O sol a brilhar o tempo todo, a família, os amigos que deu para ver, gente nova, dias maravilhosos. Um único dia que soube a férias, apenas a isso, sem correrias para lado nenhum, no meio dos meus montes (ai, também não fui ao meu café favorito no meio da serra, e não tive tempo de ir buscar um jesuíta à pastelaria, nem comer um bolo de côco dos da minha infância, que só há numa única padaria).
Uns dias no Porto, ao sol, a baixa, a Foz, os turistas. Tantas lojas novas, tantos cafés, bares e restaurantes novos, o Porto está tão diferente, para melhor, mais novo, renovado. Sim, também mais caro, aliás bem mais caro, está-se a tornar uma cidade de turistas. Ainda assim, ainda há espaço para todos, sem que nos sintamos invadidos. Para já, pelo menos. Isto em Março, Abril, talvez no verão a coisa mude completamente.
A baixa está resplandecente, os tripeiros, na mesma. Tão depressa de uma simpatia extrema, como de repente de uma sinceridade desarmante. Queria uns vestidos em tons de vermelho, para as minhas meninas das flores "vermelho não é cor para casamento!" anunciam-me alto e bom som. Oh minha gente, mas eu pedi a opinião sobre as cores a alguém? "Vermelho é uma cor muito agressiva, não pode ser!", e já agora, para que não sobrem dúvidas, "preto também não dá!". Na minha mente passeiam cadeiras pretas com laços vermelhos a enfeitar. Esta malta é incrível. O vermelho pode ser agressivo para alguns, mas é a minha cor preferida, o casamento é meu, eu é que sei. Engraçado, no entanto, que não apliquem a lógica até ao fim, pois se eu escolhi uma cor agressiva é provável que me esteja nas tintas para a opinião de terceiros. Não levo a mal, as pessoas falam antes de pensar, sem intenção de insultar ou magoar - ainda sei interpretar a diferença.
A foz, maravilhosa, como sempre, cheia de cor, cheiro a mar, ondas a bater nas rochas, continua a ser um dos meus sítios favoritos. Nada como sentar à beira mar a olhar para as ondas, sentir o sol no corpo... e apanhar um escaldão de inverno. Bolas, eu já devia saber, acontece-me sempre isto. Almoço na Casa Vasco, um sítio novo super simpático, comida pouco tradicional, sobremesa divinal. Tinha visto a dica no casal mistério, e não podia deixar escapar a oportunidade, estando ali tão perto. Já agora, a minha impressão: a minha tarte de maçã veio com gelado de morango e menta, ambos maravilhosos, e a limonada sem açúcar tinha um intenso sabor a limão. Podia parar lá só por estas duas coisas.
Tão pouco tempo, tão aproveitado. Ainda deu para escolher e comer laranjas do algarve, e trazer pão e miniaturas da pastelaria à beira de casa, tudo tão bom. No final, sempre a mesma pergunta, tenho mesmo de ir embora?


05 abril 2015

Dias de sol

Na minha terra, passeio de calções e t-shirt pela rua. Ficam todos a olhar com ar de espanto. Estão 24 graus. Eu uso o método científico para me vestir: acima dos 20 graus é t-shirt e pernas ao léu, com um casaco se me parecer necessário. Para lá do Marão, o ano divide-se em nove meses de inverno e três de inferno. Se o inferno ainda não chegou, deve ser inverno. Anda tudo de camisolas e sobretudo. Menos eu. Fui para fora, agora, quando venho, é só para ver a bola. É como se tivesse vindo do estrangeiro, o ar com que olham para mim. Quero lá saber. O sol está quentinho, e o céu azul. Paraíso.