23 março 2016

Não é medo

Não é medo, é surpresa. É um fds, podia ter sido eu e a minha filha. Estive no aeroporto de Bruxelas no sábado, num vôo de ligação. Apanhei um vôo dali para o Porto, da Portugália, cheio de portugueses, lugares enormes (pude ir à casa de banho sem obrigar o vizinho a levantar-se, de tão espaçosos), famílias com crianças da idade da minha. A miúda jogou matraquilhos com os compatriotas da mesma faixa etária. Conversei com os pais deles. Esperámos pelo avião, aguentámos lá dentro um atraso de uma hora por causa de problemas nas malas. Por alguma razão, foi-nos dito que havia 20 malas a mais no porão, os passageiros tiveram que identificar as suas malas para deixar para trás as outras. Talvez tenha sido mesmo esse o motivo. Talvez isso tenha sido apenas a versão oficial.
Não é medo, é uma euforia estranha, a surpresa de ter tido a sorte de não ter sido no sábado. É o choque de que poderia ter sido nesse dia. É a lembrança daquelas famílias todas, porque são férias de Páscoa.
Apenas estive no aeroporto de Bruxelas duas vezes. Não é uma ligação frequente, é um hub que me calha na sorte raramente, quando preciso de fazer uma viagem mais esquisita. Não tenho nenhuma viagem marcada que passe por lá outra vez, por um acaso, não por escolha.
Aquela malta nem tinha bilhete. Não fez check-in, não mostrou identificação. Não me teriam apanhado, eu não saí da zona de segurança. Mas foi perto demais.
Se vou deixar de voar por ali? Não sei. Provavelmente não. Lembro-me de apanhar um avião em Boston antes do 11 de Setembro e pensar que os americanos eram muito mais flexíveis com as regras de segurança. Hoje, com tantas regras e proibições, os explosivos rebentam na zona que não é segura. O que virá a seguir. Identificação de todos os que entram num aeroporto, bilhete obrigatório para todos os que passam a porta de entrada? Proibir bagagens de qualquer tipo? Um polícia em cada esquina, claramente, não resolve o problema.
Sinto-me tão segura como me sentia no sábado. No ano passado (foi no ano passado?) um piloto suicidou-se e levou consigo um avião cheio de gente. Na semana seguinte voei - todos os passageiros deitavam uma olhadela ao cockpit antes de se dirigirem aos seus lugares.
Aviões, comboios, autocarros, metro. Meios de transporte que levam muita gente de cada vez, espaços fechados com uma grande concentração de pessoas, nenhum sítio é "seguro". A vida continua - como noutros lugares do mundo, mais habituados a estes fenómenos.
Há sítios onde não espero que nada de mal me aconteça, nunca. Mesmo nesses sítios, sei que a segurança é uma ilusão.