Segunda procurei desesperadamente um relógio de pulso analógico. Encontrei alguns guardados numa gaveta - ofertas ao longo dos anos, os mais recentes do ano passado. Nenhum deles tinha pilhas. Precisava de poder ver as horas num relógio de pulso. Analógico. Não tinha como. Estou habituada a não usar relógio. Desde que trabalho que ou vejo as horas no computador, ou no telefone, se estiver num local sem computador ou telefone provavelmente há um relógio de parede que eu possa consultar. E no fundo, a maior parte do tempo não preciso de saber que horas são.
Fui à gaveta dos monos, no meu cérebro, onde guardo informações relativamente inúteis mas que nunca se sabe quando poderei voltar a precisar delas. Encontrei o "algoritmo para saber as horas" desenvolvido quando andava na faculdade, precisava de saber as horas muitas vezes ao dia - para chegar aos sítios convenientemente atrasada ou simplesmente para saber quanto mais tinha que aguentar até a aula acabar - e o meu relógio avariou. Na altura só tinha um. Desenvolvi uma especial habilidade para espreitar o relógio de pulso do humano mais próximo, e um sexto sentido para identificar relógios de parede e outros relógios de maior ou menor dimensão em locais públicos, e ainda a aptidão para rapidamente me aperceber das horas através de reflexos em superfícies espelhadas.
Munida do algoritmo, relaxei. Podia não ter um relógio de pulso (analógico), mas havia de me desenrascar. E lá consegui, relógios de pulso dos vizinhos mais próximos devidamente identificados para utilização futura, todos os relógios de parede visíveis referenciados, e no fim até consegui acordar utilizando apenas o meu relógio interno, uns minutos antes do alarme tocar. Que o meu relógio interno funciona, mas nunca fiando.
Assim que deixei de precisar do relógio de pulso analógico, voltei a por o "algoritmo para saber as horas" na gaveta das coisas relativamente inúteis. Mal terminei essa tarefa, encontrei um. A funcionar. Com pilhas. Giro. A rir-se de mim, ao pé do telefone. Sacana.
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