Quando eu era pequena, muito pequena mesmo, devia ter bem menos de 6 anos, ia a Chaves frequentemente. Os meus pais tinham lá que fazer, e não tendo com quem deixar as filhas, lá íamos por arrasto. Lembro-me de poucas coisas. De brincar com um disco de plástico verde com uma ranhura do lado, onde enfiava uma palheta também verde que impulsionava o disco a voar. De fazer contas e mais contas na calculadora do meu pai, aquela à qual ele nunca mudou a pilha, em tantos anos com que brinquei com ela. De brincar com balões e rebentar alguns numa lâmpada. De esperar no carro enquanto o meu pai ia comprar cavacas, e o polícia a mandar vir porque ali não se podia estacionar. E dos rebuçados noivos, que por algum motivo só mos davam ali.
Este Natal, apeteceu-me ir a Chaves. Já não ia lá há muito muito tempo, mais de 20 anos, com toda a certeza, e não me lembrava de nada. Provavelmente o tempo invernoso, a forte geada e nevoeiro, não ajudaram a relembrar nenhum pormenor. Em tantos anos, também é muito provável que tudo tenha mudado muito. E em tudo o que vi neste passeio, só uma coisa me chamou a atenção, ainda lá estava, igualzinha, tão invulgar como sempre deve ter sido, um ponto de referência privado mas acessível à vista de toda a gente que ali passa. Não, não era uma igreja, uma capela, ou um monumento, uma estátua, uma rotunda, nem um semáforo. É a avioneta presa a um poste que desde sempre fez parte do jardim de uma casa, mesmo ao chegar a Chaves. A indicação de que se está mesmo quase a chegar ao destino. O momento a partir do qual podíamos sossegar, já não faltava quase nada. O elemento agora que faz a ligação entre o passado e o presente.
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