21 junho 2007

#31

Sentados num banco, cheios de sono, no centro de uma cidade europeia a abarrotar de turistas (mas de onde é que vem tanta gente?), à hora da sesta, esperámos que os outros ocupantes se sentissem intimidados e fossem à vida deles. Depois - ahahah o banco é nosso! - deitámo-nos cada um de seu lado, a fazer lembrar um sem-abrigo, que naquele momento era o que éramos, sem tecto e sem quarto por umas horas e a precisar tanto de dormir que mesmo ali, ao lado de carros, motas, e autocarros que passavam, adormecemos. Acordámos passados uns bons quinze minutos - eu bem que podia ter dormido mais um bocado - porque uns vendedores ambulantes se tinham instalado mesmo ao nosso lado. E ficámos a observá-los durante mais de uma hora, pelo canto do olho, como quem está ainda meio a dormir e não quer saber daquilo para nada. Os rapazes vendiam malas de senhora. Dolce e Gabana e Prada, diziam eles. A 20 euros as mais pequenas, 30 as grandes, 20 se o cliente fosse duro de roer. O negócio estava fraquito, mas ainda assim conseguiram vender umas 5 ou 6 durante aquela hora em que os espiámos. E os clientes, surpresa das surpresas, eram na maioria homens.
A parte mais interessante disto tudo era a maneira como o sistema estava montado. O rapaz usava calças com uma data de bolsos, e em cada um havia uma surpresa. Num deles, sacos do Lidl, para enfiar as malas vendidas. O dinheiro que recebia, guardava na dobra das meias. Quando vendia uma mala, tirava outra de um saquito que tinha às costas, daqueles de desporto que os miúdos da primária usam. Podia vender uma mala por 30 euros sob o argumento de ser "única", ou talvez "a única", e minutos depois tirar outra, igualizinha, do saquito que trazia às costas. A área de exposição consistia num pano que teria pouco mais de um metro quadrado, cujas pontas estavam atadas a uma corda. Enquanto o rapaz tentava fazer negócio e atrair clientes, segurava as cordas o tempo todo, pronto para agarrar na trouxa e se por a fugir dali para fora enquanto o diabo começa a esfregar o olho. E o outro rapaz, ao lado do primeiro, fazia o mesmo. De vez em quando um dos rapazes concentrava-se mais no negócio, e o outro então observava a rua, acima e abaixo com atenção, à espera de um sinal de alerta.
O que eu queria ver era o que aconteceria se a polícia aparecesse. Mas não tive sorte. Lá nos fartámos de ali estar e fomos passear mais um bocado. Rua acima mais rapazes, o mesmo esquema, os mesmos panos, as mesmas cordas. Às tantas estavam organizados. E não, não comprei nada.

1 comentário:

  1. Nem compras nem direito a assistir a uma perseguição. Mas deu para apanhares a técnica toda! Terá alguma utilidade? :)

    Beijos

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