Há alguém que ainda veja anúncios? Que não responda instintivamente à subida repentina e sem aviso do som do televisor com a súbita mudança de canal, ou a pressão imediata sobre o botão "mute"? Se calhar sou só eu. É que se antigamente eu punha o som mais alto para que, enquanto ia à casa de banho ou à cozinha, fosse imediatamente avisada assim que o intervalo acabasse, essa função hoje em dia foi totalmente dizimada. Pois se é fácil apercebermo-nos de que o som aumenta quando começa a publicidade, enquanto um gajo está na casa de banho não se apercebe que o som baixou, e como tal, o programa que se estava a ver recomeçou. Para além disto, como o som dos anúncios sobe exponencialmente, não há maneira de deixar a televisão naquelas alturas, não vão os vizinhos mandar-me de volta para a pátria. Resumindo, os anúncios perderam a sua função de avisadores de início e fim de intervalo e consequentemente, de balizas do tempo que se podia dedicar a outras actividades sem correr o risco de perder o nosso programa favorito.
Claro que há duas versões (pelo menos) desta história. Pois se a função histórica do intervalo (pelo menos, na história da minha vida, acredito que a função inicial dos intervalos publicitários fosse outra, porventura a de informar as pessoas sobre os produtos que lhes facilitariam a vida) foi eliminada, outra utilidade para os ditos se revelou. Isto para quem a quis aproveitar. Ora vejamos, a malta dos computadores (assim dito de um modo muito geral) apercebeu-se que isto era uma oportunidade fantástica, nomeadamente para eliminar os anúncios quando o programa é gravado. Criaram então uns gravadores de DVD (maravilha das maravilhas) fantásticos, que têm um filtro que faz o seguinte: ao detectar que o som subiu bastante e subitamente, reconhecem que chegou o intervalo publicitário, e param de gravar*. Genial não?
Isto é o que já foi feito. Eu tenho outra ideia. Toda a gente recebe, por email, messenger, chat, and so on, vídeos de publicidade. Publicidade divertida, com piada, inteligente, em suma, anúncios que vale a pena ver. E as pessoas vêem essa publicidade de boa vontade, sem irem a correr para a casa de banho, ou irem ao frigorífico buscar uma cerveja, ou fugirem para a cozinha para fazer umas pipocas. Ou uma piza. O cúmulo dos cúmulos é haver pessoas que se dispõem a pagar bilhetes para passarem horas a ver publicidade (já ouviram falar na "noite da publicidade"?)
Então porque é que não esquecem os anúncios chatos, deprimentes, irritantes, e limitam-se a passar anúncios dos bons nos intervalos da televisão? Até podiam por um site na net com os anúncios para as pessoas verem e mostrarem aos amigos, e escolhiam só os melhores para passar na televisão. Já imaginaram uma televisão em que as pessoas aproveitassem os programas/filmes/séries para tratarem de coisas urgentes como ir à casa de banho, mas ficassem sentadinhas a apreciar a publicidade?
*para funcionar, o filtro não pode ser assim tão simples, senão iria cortar também os picos de som de um filme, por exemplo. mas a ideia básica, é esta
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