20 novembro 2013

Das preocupações

(inspirado pela Rita, o post que ela refere e o artigo do NYT referido, do qual só li a parte disponível a quem não se registou)

Acho que nunca se deixa completamente de ter preocupações. Aos 20, aos 30, aos 50, aos 70. Sim, mesmo aos 70 ainda se têm preocupações. Se a nossa vida corre bem, preocupamo-nos com os filhos. Ou com os netos. Ou com os pais. Ou com o resto da família.
Se temos um bom emprego, pensamos se deveríamos ser mais ambiciosos. Se até temos ainda alguma ambição, preocupamo-nos em descobrir onde chegar aonde queremos chegar. Se estamos reformados, preocupamo-nos em como passar o tempo.

O cabelo? Eu tenho um cabelo bom - de um modo geral posso acordar e sair de casa sem sequer me pentear, que vou com bom aspecto. Ou acho que vou com bom aspecto, o que pode não ser assim tão positivo. Mas não domino o secador. Eu não sei para que servem as escovas redondas e não entendo como é que alguém as consegue usar para secar o cabelo da parte de trás. O secador é um mistério. E eu já tenho mais que idade para conhecer o secador mesmo muito bem. Prática é que nem por isso - é raro usar o secador.

O creme dos olhos faz-me bolhinhas brancas na zona onde se deveria por o creme. Quando tenho algum, normalmente porque veio de oferta com alguma coisa, acabo por usar como creme das mãos ou para os lábios. E sim, tenho mais que idade para usar creme dos olhos.

Maquilhagem. Possivelmente devia usar. Na prática, uso umas três vezes por ano, em ocasiões muito especiais. Não há pachorra. Nem para base, nem rímel, nem sombra, nem blush, nem uma data de coisas que nem sei o que são, como ou onde colocar. E aquela cena do enrolador de pestanas parece um instrumento de tortura. E não me parece que faça nada.

Beber? Funciono um bocado ao contrário da maioria dos mortais, bebo pouco. Decidi há anos deixar de beber por razões sociais, e desde então sou mais feliz. Mesmo. Não bebo espumante, mesmo que seja meia noite e passagem de ano, porque não gosto. Não bebo vinho tinto, e posso provar vinho branco mas gosto de poucos. Fico "alegre" se beber um único copo de uma bebida alcoólica e não sei o que é uma ressaca. Nem tenciono descobrir. Mas gosto de um cocktail de vez em quando, ou um copito de vinho do Porto em ocasiões especiais.

Os meus joelhos não doem, mesmo quando deviam. Ahah. Em compensação tenho que fazer desporto de vez em quando para não ter dores de costas, consequência do meu estilo de vida sedentário. Também há uns massagistas que resolvem esse problema, e é uma bela maneira de acabar com dores, receber uma massagem, mas a maior parte do tempo, um bocadinho de desporto et voilá, fico como nova. A não ser que faça outra rotura de ligamentos. Hum.

Preocupações de emigra. Vou ficar aqui até quando? 5 anos? 10? Até me reformar? Quando é que me irei reformar? E os miúdos? Vão ficar aqui? Até que ponto é que são portugueses? Quão portugueses é que são? Quão alemães são? A primeira vez que tive uma conversa demorada com o meu chefe, quando vim para cá, ele explicou-me que os nossos filhos não serão nunca portugueses, alemães, austríacos, etc., mas sim cidadãos do mundo. Quer me agrade quer não, hoje, passados 11 anos, acho que o homem tinha razão. Preocupação de mãe é agora, mas que referências é que estes miúdos têm, e com quem é que se irão identificar quando chegarem aos 20, 30 anos? Quem será, e quão grande será o grupo de gente da idade deles que terá tido as mesmas vivências de infância, se é que há mais alguém, para além dos irmãos. Eu posso falar sobre o dartacão, verão azul, gelados fizz limão, as manifs contra a pga, as 3 cadeiras no 12ºano, etc. etc., em pé de igualdade com  milhares de pessoas. E eles?

Lixo. O caixote do lixo indiscriminado só é esvaziado de 15 em 15 dias. Para obrigar a malta a reciclar. Desde que comecei a separar as embalagens, papel e lixo biológico o lixo indiscriminado deixou de ser uma preocupação tão grande - em quinze dias fazemos mais lixo do que o que cabe num caixote. Agora a preocupação é quem é que leva o saco das embalagens ao ecoponto?

Getting ou having your shit together são expressões que acho que nunca percebi completamente. Não sei bem se se referem à globalidade dos aspectos da vida de uma pessoa, ou se apenas a algumas vertentes, dependentes da situação. Penso que as duas coisas, dependendo do contexto. Mas não conheço ninguém que me pareça estar com a vida completamente sob controlo, ou livre de preocupações. Enquanto estamos vivos, há sempre alguma coisa que nos há-de escapar, ou algo por que ansiamos, ou algo que nos preocupa. E isso é bom, é sinal que vivemos, não apenas sobrevivemos.

4 comentários:

  1. Bom post!

    O cabelo sempre foi o meu centro de preocupações com a aparência, quase sempre o usei comprido, horas de vida perdidas a esticá-lo, a encaracolá-lo, sei lá mais o quê. Há pouco tempo cortei-o curto pelos ombros e agora é uma maravilha, leva uns minutos de secador, apanho-o e está bom. Ando a contemplar cortá-lo ainda mais curto...

    A maquilhagem estou como tu, não há pachorra, meto um bocado de rímel na passagem de ano e está bom. Já quis aprender, já tentei me interessar, nunca demorou muito a vontade.

    Beber também não gosto. Sangria é bom, um bocadinho de vinho branco também mas não gosto do ardor que o alcool deixa na garganta. E sinto sempre a barriga inchada quando bebo nalgum jantar especial. Not good.

    Preocupações de emigra, um bocadinho, também. Mas por enquanto apenas a do "por quanto tempo mais é que vamos ficar aqui? Para onde vamos a seguir?". Não havendo filhos as dúvidas existenciais devem ser bem menores.

    Tenho sempre um bocado de dificuldade de viver no presente, vivo sempre na antecipação de qualquer coisa, sofro por antecipação, só estou bem é a planear coisas, viagens, candidaturas de emprego, candidaturas a doutoramentos, etc, etc. Isso é a única coisa que me preocupa e que mudava em mim se pudesse.

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  2. Nem me digas nada, neste momento da nossa vida mais do que nunca!

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  3. Eu sou como os teus filhos, só que já sou adulta - cresci em 2 países (parte da infância passada entre os 2, escola entre os 2) e, na realidade, é como o senhor disse - sentimos que pertencemos ao mundo - "the world is our oyster" .
    Quando se cresce com o tipo de estímulos que diferentes culturas nos transmitem ficamos mais ricos, percebemos melhor as diferenças, torna-mo-nos pessoas mais receptivas e compreensivas com as diferenças culturais, julgamos menos, envolve-mo-nos mais com os outros e sentimos menos medo das mudanças. Mesmo estando emigrado, por norma, encontramos imensas pessoas na mesma situação que nós, quer sejam portugueses ou não - a própria afinidade que criamos com os filhos de emigrantes de outros países também é excelente pois abre portas, dão ensinamentos que vão muito além do que a escola ensina. Eu tenho amigos de infância com proveniência tão diversificada que é de espantar como nos englobávamos tão bem - acho que o segredo foi que aprendemos desde cedo a respeitar. Respeitar a cultura, as opções e as diferenças.
    Depois, a nível linguístico também temos mais-valias pois quem estrutura o pensamento desde cedo com 2 línguas, ou mais, pensa na linguagem de outra forma e a aprendizagem de outras línguas tende a ser mais fácil.
    Hoje sinto afinidades quer com Portugal (país onde nasci, passei alguns anos e onde estou, por agora) e o país onde cresci, fiz amigos, vivi alguns anos e do qual já não queria sair. Se me tivessem deixado escolher eu não teria regressado para Portugal, mas não tive escolha.

    A parte "má" é sentir que nunca se está completo (pelo menos senti-me assim durante algum tempo) - sentia saudades da família e dos amigos de Portugal quando lá estava, quando regressava sentia saudades dos amigos e de casa.
    Mas também isso passou - todas as vivências somam-se na pessoa que eu sou.
    Não sou nem melhor, nem pior que os outros. Simplesmente tive uma vivência diferente, que me moldou mas não sinto que isso tenha trazido entraves na minha vida, muito pelo contrário - p.ex. se calhar os teus filhos vão ter afinidade em algumas coisas com os portugueses e outras tantas situações com os miúdos alemães. Coisas que outros nem fazem ideia do que é.
    Eu acho que, tirando algumas questões mais tradicionais e próprias dos países, enquanto pessoas somos todos muito parecidos - conseguimos sempre ter alguma coisa em comum com outras pessoas - que seja um gosto, uma atividade, um filme, uma tradição - podemos até não partilhar a mesma experiência exatamente igual mas conseguimos, por exemplo, perceber que para alguns o Pai Natal chega no dia 6.dez, para outros no dia 6.dez e para outros só chega no Dia dos Reis e que, apesar de não se partilhar exatamente a mesma experiência, há uma grande afinidade nestas situações e conseguimos partilhar uma mesma tradição apesar de esta não ser exatamente igual (acho que o texto está confuso mas é a melhor forma que consigo explicar isto das afinidades).

    Quanto às outras coisas sou assustadoramente parecida contigo, apesar de já ter feito alguns progressos no campo da beleza - comprei o "instrumento de tortura" - para quem tem as pestanas grandes é uma maravilha pois aquilo molda mesmo a pestana para cima e deixamos de ter as pestanas a obstruir a visão (foi isso que me disseram, apesar daquilo meter medo, a verdade é que funciona).

    As preocupações... o que seria de mim sem preocupações? Acho que parte da descrição de mim como pessoa passa por preocupações e antecipação. Se tenho X projecto tenho sempre que ter 2 planos - se resultar e o "plano B" para quando falha. Já muitas vezes criticada por ser assim mas a verdade é que quando algo me corre mal eu não entro em pânico, não bloqueio, nem fico "à nora" pois já sei o que tenho que fazer para solucionar a situação ou qual a alternativa mais viável a seguir...

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