08 agosto 2009

É (f) lixado. Com F grande.

Não se faz. Deixam-me assim um vídeo num blog, e eu que até tinha tempo, para variar, fui ver, e sai-me isto:

Tive uma amiga que morava ali, ao pé da ponte da Arrábida. Morava por cima de um café e tinha imensos bichos em casa, dizia ela que era por causa do café. Passei uma noite ali, a estudar com ela, e depois safei-me no exame, por causa daquela ajuda preciosa. A minha amiga era o máximo. Uma força da natureza, pulmões de aço, uma força que nunca mais acabava, mesmo quando a vida lhe corria mal. E uma gargalhada enorme, cheia de vida, contagiante, extraordinária.
Vivi uma data de anos no Porto e nunca vi os barcos rabelos no rio. Dizem que fazem uma corrida todos os anos no S.João. Também nunca fui ao S.João. Mas fui várias vezes ao S.Pedro da Afurada com um amigo, e tive que me abrigar do fogo de artifício, pois havia pedaços a cair do céu ali mesmo, no meio das pessoas. E uma vez atravessei o rio num barquito, éramos dois mais o dono do barco e estava sol, e depois fomos passear. E uma vez entrei por ali numas tasquinhas que tinham pior aspecto que a taberna da aldeia onde vivi quando tinha 4 ou 5 anos, e não comi nada porque tudo me metia impressão. E ainda assim gostei da experiência.
Subi aos Clérigos algumas vezes, com companhias diferentes. E uma das vezes, acho que foi só uma, arrepiei alguém até ao âmago da alma, sem sequer lhe tocar.
Lembro-me da primeira vez que olhei para o Porto ao longe, à noite, de um andar alto num prédio de Gaia. E da primeira noite em que calcorreei aquelas ruas sozinha, de dois concertos de bandas que eu gostava seguidos, e depois ter decorado um número de telefone que recordei durante anos mas que nunca usei.
As viagens de eléctrico até à foz, as tardes de gazeta passadas no Homem do Leme, os velhotes que por ali andavam, o alcatrão na areia. E mais tarde, muito mais tarde, muitos almoços por aquelas esplanadas. E alguns cafés também, e passeios. Bom tempo, nevoeiro, chuva miudinha. Jogging aos sábados de manhã. Risos, amigos, conversas sérias em que decidíamos o que fazer do mundo.
As visitas das amigas, as noites na Ribeira, fechar discotecas, perder-me no caminho para casa. A época de exames e decidirmos sair à uma da madrugada, porque a vida não era só estudar. Os passeios às caves do vinho do Porto. Santa Catarina, Cedofeita, as ruas de paralelos. E aquele restaurantezinho escondido numa rua minúscula, que só estava aberto para o almoço, com a sua meia dúzia de mesas sempre a abarrotar, que servia batatas fritas verdadeiras e comida deliciosa que era preparada por uma senhora e a sua mãe.
E os amigos em casa de quem eu também me sentia em casa e em família. E os concertos no coliseu, e as primeiras idas ao cinema. Os autocarros no Bolhão, e os outros na Batalha. Ver Portugal jogar no Dragão. Ser convidada a deixar os restaurantes, por ser tarde, e depois a mesma cena à porta dos restaurantes. Festejar um aniversário num bar irlandês que eu gostava. A sensação de não se saber o que se andava a fazer, nem por onde se andava.

Fogo.

(E a praia da Madalena. E a de Leça. E outra mais a Norte que descobri sozinha e era a minha favorita. E a estação de S.Bento e a de Campanhã. Viagens de comboio até Espinho, ou Aveiro, ou Coimbra, ou Lisboa, ou o Algarve.)

O Mundo era muito diferente. Ou não, eu é que hoje em dia tenho outra perspectiva. Mas isto tudo por causa de três minutos de imagens. É obra.

2 comentários:

  1. Também tenho uma paixao dessas pelo Porto...

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  2. Que bem sabes dizer a cidade onde nasci e que amo de paixão...que saudades...e, ainda agora voltei de lá!!

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