03 agosto 2015

OCD (isto está mesmo limpo?)

Ofereceram-me uma máquina fotográfica especial. Eu que estava habituadíssima às compactas, de levar no bolso ou na carteira, de repente passei a ter nas mãos uma máquina mais pesada, acompanhada de um sem fim de traquitanas. Ele é uma bateria extra, um paninho para limpeza, outra lente, uma tampinha para isto, uma tampinha para aquilo, uma mala malinha para meter a tralha toda. A minha coisa favorita é o barulho que faz quando dispara. E desfocar o background se eu quiser. O meu ódio de estimação começa a ser a limpeza desta máquina do demo. Tudo começou com a primeira vez que troquei a lente. Ah e tal, isto até é fácil, e assim fico com uma imagem melhor do edifício lá ao longe. É o ficas. O que obtive foi uma quantidade enorme de imagens com o que parecem micróbios a flutuar. Uma placa de petri com uma imagem de fundo. E o pior de tudo é que só reparei mais tarde - centenas de fotos possivelmente giras depois. E a partir daí começou a obsessão da limpeza. Como é que se limpa esta cena? Paninho de microfibra não chega. É na lente? É no sensor? É por dentro ou por fora? Descubro a sujidade à noite, limpo como posso, de dia verifico, após fotos de teste (céu azul, era bom, era), que ainda há ali qualquer coisa. Desmonto, limpo, monto, novos testes. Ainda há ali uma micropartícula a estragar tudo. Desmonto outra vez, limpo, acho que estou a ver uma micro coisa, sopro em desespero de causa, monto, volto a testar, maldigo a minha sorte e a minha visão apurada, vou à net. Primeiro pesquisar como é que se limpa uma máquina destas. Depois de uma página com os cinco modos de limpar uma máquina fotográfica destas, que aconselha cinco tipos de produtos diferentes (e todos caríssimos), dos quais "soprar" apenas é indicado como altamente desaconselhável, e possivelmente suicida, encontro outra página que conta as desventuras dos utilizadores da minha máquina e de sucessivos envios para a marca para limpeza, por preços que quase dava para comprar uma máquina nova. E eu a ver a minha vida a andar para trás em alta velocidade. Do género "mas porque é que eu não me lembrei que se calhar isto de mudar de lentes era má ideia" e "mas como é que eu não procurei primeiro como é que se limpa esta treta antes sequer de abrir a embalagem". Tortura. Tanto que decido procurar o manual. O MANUAL. Apesar do que ouço em contrário, não conheço engenheiro que se preze que leia o manual. É preciso estar muito aflito e já ter tentado tudo. Uma máquina bem feita não precisa de manual. Bem, esta precisava, quanto mais não fosse para descobrir como é que se limpa, que a bem ver, não é propriamente uma questão de engenharia. A porcaria do manual tem mais de 400 páginas - está-se mesmo a ver porque é que nunca leio manuais - deve ser por isso que hoje em dia eles já nem vêm embalados com os aparelhos. Felizmente a versão electrónica dá para pesquisar, pelo que rapidamente dei com a página das limpezas. A má notícia é que preciso uma geringonça que eu, obviamente, não tenho. A boa notícia é que ao menos não tenho que "investir" nos outros quatro produtos de limpeza do outro site. A notícia frustrante é que a máquina tem limpeza automática, mas talvez fosse tarde demais, talvez seja apenas propaganda.
Daqui para a worten - porque a fotosport não me atendeu o telefone - que é uma loja grande e vende todo o tipo de cenas eléctricas. Bem, todas não, se precisar de um transístor, uma resistência ou um díodo não me safo ali, mas para material de fotografia, acreditei que tivessem o básico. De repente um kit de limpeza passou a ser básico para tirar fotografias. Lá passo vergonha em frente ao empregado - que eu não tinha tempo para pesquisar a loja toda à procura de material de limpeza. Não sei como se chama o que eu preciso, mas é uma coisa para soprar ar para o sensor. E não, não pode ser ar comprimido, é uma coisa manual. O que me valeu é que ele não se riu. Eu devia estar com um ar mesmo desesperado. Lá trouxe então um "fole" - não estou a gozar, é mesmo assim que se chama.
Limpei a parte de dentro, de fora, soprei, agora devidamente, tudo quanto era vidro, voltei a montar tudo, limpeza automática, e tirei fotos. Ainda havia coisas na imagem. Outra limpeza, e agora sim, parecia estar tudo bem. Finalmente.
Entretanto com esta história toda fiquei paranóica. Cada vez que toco na máquina tenho que verificar se há fantasmas na imagem. Pior, quando descarrego para o computador, vou procurar mais fantasmas. E finalmente, o écrãn do meu computador também não é a coisa mais limpa que possam imaginar. De modo que eu já vejo micro sujidade em tudo quanto é superfície. Ando com um paninho atrás sempre que vou ver "as fotos". Começo a ter medo de tudo neste processo. Desde o início, tirar as fotos com a máquina (e verificar que não há nada a estragar a imagem), verificar se a imagem não se altera entre o antes de carregar no botão e o depois (sinal de sujidade dentro da máquina), até ao depois, a procura obsessiva por pontos, ou riscos, ou anomalias na imagem primeiro no LCD da máquina, depois no computador. E tentar não ficar paranóica quando nesta última fase encontrar um pontinho no mesmo local em todas as imagens - afinal, pode ser apenas sujidade do écrãn do PC.
Acho que vou voltar à minha máquina compacta. Ao menos essa resiste a tudo.


2 comentários:

  1. Bem mas pelo menos acabaste por tirar uma foto bem gira :)
    PS - Queres limpar a minha máquina também? :D

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    1. Nem pensar! Já estou suficientemente traumatizada! :S

      (obrigada)

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