22 janeiro 2013

Cor de rosinha

A praguejar baixinho porque certas e determinadas lojas (C&A, H&M, S.Oliver e Esprit, pelo menos) só têm calças slim fit para menina. Tão slim, que às vezes mal passam nas pernas da miúda, que é uma magricela. Tão terrivelmente apertadas, fashion, e femininas, que me vejo obrigada a comprar calças "de rapaz". Na secção das meninas, nem no Inverno têm calças quentinhas, com forro, que dêm mais espaço para as meias calças (e as pernas, caramba, as pernas!). Quanto às partes de cima, é só parvoíce atrás de parvoíce. Mensagens como "just buy me flowers", "i <3 shopping", "ballet princess", e já vi bem pior que isto embora não me recorde exactamente da terminologia usada para aqui reproduzir. Algumas dessas mensagens impressas em t-shirts envergonhar-me-iam como mãe, e aposto que qualquer pessoa que saiba inglês e as leia na camisola de uma miúda que nem na escola anda perceberia como tudo isto é bizarro. Ninguém me manda comprar nas lojas mainstream, é certo, e se lá comprar há também os básicos (uma única cor) e a roupa de menino (porque eu é que decido, como compradora, se é de menino ou de menina), mas de cada vez que entro numa loja destas pergunto-me como é que em pleno século XXI ainda nos deixamos manipular, encaixar em gavetas completamente artificiais, como é que deixamos perpetuar estas espectativas e formatação de género desde a mais tenra idade. A minha menina pode não ser maria-rapaz. Mas também não cabe no estereotipo da "menina" tola, cor de rosa e fofinha em todas as ocasiões. É incrível que, em Munique, haja mulheres jovens com filhos que sejam acusadas de serem más mães,sofram do preconceito retrógrado que puxa as mulheres para baixo, porque cometeram o horrível pecado de trabalharem e deixarem os filhos nos infantários. Pecado esse não atenuado pelo facto de o trabalho ser em part-time, em muitos casos. Em pleno século XXI, há que critique uma médica que trabalha como médica e deixa os filhos na creche para poder ser médica. Mesmo que isso signifique deitar anos e anos de estudos e trabalho ao lixo, mesmo que isso signifique a infelicidade da mãe, e, consequentemente, a dos filhos. Eu sei que a roupa não é nada. Que as Barbies, os brinquedos "de menina" e "de menino" não são nada. Que há escolas onde as crianças até são incentivadas a experimentar tudo, bonecos, comboios, legos, livros, cozinhas, trabalhos manuais de todo o tipo, mesmo que depois os adultos que lá entram tenham atitudes antiquadas, sexistas e altamente reprováveis. Mas isto tudo junto tem que ser combatido. Eu não quero que a minha filha daqui a uns anos tenha que ouvir que o lugar dela é em casa, ou que algum dia lhe passe pela cabeça perder a sua independência ou não chegar a alcançar essa independência e tudo o que lhe está subjacente. É pena não haver mais gente a pensar na liberdade das suas filhas. E a agir no interesse dessa liberdade.

3 comentários:

  1. eu tive uma vizinha que quando punha a roupa da filha pequena a secar no estendal era só coisinhas cor de rosa. tudo rosa.
    Gostei do teu ponto de vista, nunca tinha pensado como até na roupa podemos moldar a personalidade e a vida futura dos nossos filhos

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  2. Já não posso ver cor de rosa à frente...
    Mas o que me lixa mesmo são as calças à senhora, que prendem os movimentos e são absolutamente desconfortáveis para a miúda. Podem estar bem para uma mulher de 20 ou 30 anos (ou mais), mas não estão para uma miúda de 4 ou 5.
    (e as mensagens fúteis das camisolas, minha nossa, não há paciência mesmo)

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  3. Não é só aí em Munique... aqui em Viena é a mesma coisa: se fores mãe e quiseres ser (continuar a ser) qualquer outra coisa além disso, é equivalente a seres má mãe (porque não passas tempo com os teus filhos, pq são as educadoras de infância que educam os teus filhos, porque para que é que queres filhos se n queres tomar conta deles, blablabla). Mas depois aos 18 anos é "oh menino, faz-te lá à vida e vai trabalhar e viver para onde quiseres que eu quero o teu quarto para transformar em sala de ginástica!" É o 8 ou o 80, eu n percebo.

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