25 setembro 2009

Um brilho nos olhos

A minha parte favorita nas pessoas, quase todas as pessoas (ia escrever todas mas nunca se sabe, não gosto de absolutismos, nem mesmo os meus), é o brilhozinho que trazem nos olhos. O entusiasmo que lhes causa seja o que for (e aqui lembro-me de uma ou duas coisas tenebrosas que aparecem nas notícias e pergunto-me se essa gente também traria esse brilho nos olhos, e foi por isso que não generalizei completamente). Desde o entusiasta do origami, que aborrece os outros quando se excede nas explicações do quão complicado pode ser fazer um Gandalf de papel (sem um único corte!) mas depois mostra fotografias de objectos extraordinários feitos com uma folha de papel e ainda oferece um morcego preto ao amigo, ao fanático por máquinas de café, extraordinariamente útil quando a nossa avaria, porque é provavelmente a única pessoa num raio de 500km que sabe procurar o problema, onde comprar as partes que avariaram, e trazer a comatosa máquina de volta à vida.
Quando conhemos alguém por vezes damo-nos ao trabalho de perguntar quais são os seus hobbies - e ainda assim frequentemente não fazemos a mínima ideia daquilo que faz vibrar pessoas com quem convivemos diariamente mesmo que por anos a fio. Aquele tipo que se senta a poucos metros de nós e trabalhou num jornal aos 18 anos, e desenha órgãos humanos a carvão (ia dizer a lápis, eheh), o que será que lhe traz um sorriso até à alma? E aqueloutro, o mestre dos projectos inovadores, que escreveu um livro sobre tapetes só porque um dia lhe deu para estudar o assunto nos tempos livres, que construiu uma máquina de pintar quadros e depois se virou para a pintura monocromática usando uma técnica com centenas de anos de que ninguém se lembra. O que será que faz brilhar os olhos daquela mulher que se veste de forma estranha e tem um sorriso triste como se carregasse o mundo nos ombros, o que será que lhe alivia o peso, ainda que momentaneamente.
Haverá algo mais contagiante que uma alma a sorrir, espelhada no brilho dos olhos de cada um de nós?

1 comentário:

  1. Por vezes vou no metro a inventar vidas para toda aquelas pessoas que viajm comigo... O que vai dar e uma pergunta semelhante à que fazes: o que é que as move?

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