10 junho 2009

Saudades da Mariah

Nunca conheci a Mariah. Lia-lhe o blogue, todos os dias, e os postes enormes até ao fim. Gostava de saber a vida dela, como lhe corriam os dias, das pessoas que encontrava, das coisas que fazia, dos livros que ela lia, as músicas que ouvia. A Mariah falava das suas amigas, das aulas de ginástica, das noites dançantes, dos homens que a queriam e dos que ela rejeitava. A Mariah gostava de marketing, como eu, e gostava de aprender. Fazia cursos de tudo e mais alguma coisa. Andava a ter aulas de guitarra, pouco tempo antes de terminar o blogue, e levava as músicas que queria aprender ao professor, que lhas ensinava, e já ia tocando de ouvido. A Mariah lia livros a metro e contava sempre se tinha gostado, e porquê. Gostava de um autor português, um homem relativamente novo (já me esqueci do nome dele, não faz parte das minhas leituras), e um dia pediu-lhe um autógrafo e depois mandou-lhe alguns emails, aos quais ele respondeu e ela inchou de orgulho (e, provavelmente, algo mais). Tenho saudades dos postes de um metro da Mariah, às vezes mais que um por dia, quer fossem muito alegres quer menos alegres. A Mariah era maquilhadora, e às vezes punha dicas de maquilhagem no blogue e comprava livros sobre o assunto, e ainda indicava sites de maquilhadores (algo que eu nem sabia que existia). A Mariah contava os cêntimos, mas tinha uma vida cheia, andava sempre numa azáfama e fazia imensas coisas. E tinha sempre uma listinha dos livros e CDs que queria comprar logo que tivesse mais algum dinheiro. A Mariah era uma mulher humilde, mas cheia de força e persistência, que nunca se deixava atrapalhar, e com a coragem de perseguir os seus sonhos. A Mariah era brasileira. Provavelmente o seu nome verdadeiro é Maria, mas sei que ela gostava que lho pronunciassem à inglesa, com aquele ah aberto no fim, tudo porque era grande fã da Mariah Carey. Li tanta prosa da Mariah que nunca acreditei que um dia chegasse ao fim, mesmo quando o fim se anunciou. A Mariah deixou de escrever porque mudou de casa, de terra, de trabalho, de vida. E eu, que já tinha visto tantos bloggers anunciar fins e depois regressar à escrita, nunca me convenci que a Mariah, viciada na escrita, deixasse um espaço tão grande vazio para não mais regressar. Já passaram anos, e de vez em quando encontro uma Mariah pela blogosfera, e logo vou espiolhar-lhe o blogue na esperança vã de que seja a mesma Mariah a quem sinto a falta. Não é, nunca é.

1 comentário:

  1. Entendo-te na perfeição porque já me aconteceu precisamente o mesmo com uma pessoa que a partir de Londres me enchia os olhos e o espírito com posts deliciosos. De um momento para o outro desapareceu. E este pequeno mundo blogosférico ficou muito mais vazio.

    ResponderEliminar