Sou daquelas pessoas que nunca deita um papel ao chão nem que tenha que andar quilómetros com ele no bolso, e que recicla o lixo porque tem que ser, e porque deve ser, mas nem sequer sou particularmente sensível à mensagem "verde" porque tenho a sensação que me andam a esconder metade da história. E metade (pelo menos) da poluição. Irritam-me as iniciativas do género pague lá este saco igualzinho ao que na caixa ao lado é de borla (hipermercados continente), porque acho que há sítios bem mais importantes onde se devia actuar - como na embalagem excessiva das coisas. E não me parece que o princípio do utilizador-pagador ajude alguma coisa, porque desculpabiliza quem paga (se pago o que poluo, então não há razão para me incomodar com a minha poluição, pelo menos enquanto puder pagá-la). Irritam-me as campanhas com criancinhas (não só as da reciclagem, as outras também) e pessoal vestido de uma cor estranha (experimentem sair de casa vestidos de amarelo da cabeça aos pés).
Explicada a minha (in)sensibilidade aos assuntos verdes posso ir directa ao assunto. Este sítio-programa-vídeo. A história das coisas pôs-me a pensar em coisas mais importantes do que a reciclagem, o lixo e o desperdício. Para onde vai a tralha toda que compramos quando deixa de ter utilidade. O que se faz aos objectos que já ninguém quer (nós não queremos), mesmo que estejam em óptimas condições. Porque é que é supostamente proibido emprestar os DVDs que vimos uma vez e nos quais já não temos interesse. Porque é que não se emprestam livros, porque é que as bibliotecas estão vazias. Porque é que as coisas são cada vez mais baratas. Como é que há 10 anos comprava t-shirts por mil paus, e agora as posso comprar por cinco euros. Porque é que cedemos aos miúdos que querem tudo e mais alguma coisa. E porque é que nós próprios temos tralhas a mais. Porque é que não compramos mais em segunda mão, pedimos emprestado, emprestamos. E para quê?
Calhou mal ter visto isto na altura do Natal. Tirou-me um bocado da alegria que tinha em comprar as prendas para a família. E tirou-me o prazer de comprar coisas para mim. Agora (por agora?) não consigo fazer compras por impulso. Continuo a comprar certas coisas em segunda mão (os jogos electrónicos no ebay). Penso duas vezes antes de comprar coisas novas (são mesmo necessárias? posso arranjar em segunda mão?). E quero emprestar tudo o que tenho (mas também nunca tive problemas em emprestar). Não quero deixar um rasto de lixo. Mas também não quero deixar de viver a vida normalmente. Estou lixada.
(inspirado pela Luna)
Enfim, há a inflacçao, mas mil paus e cinco euros é a mesma coisa...
ResponderEliminarRita: é isso mesmo! Não achas estranho que, apesar da inflação, a camisola custe o mesmo que há dez anos atrás?
ResponderEliminarAcho!
ResponderEliminarÉ incrível, como pensas nos mesmos assuntos e problemas que eu. Gosto disso. gosto de saber que não estou sozinha contra o consumismo e contra a publicidade ao verde. Parece que somos da mesma escola/geração/fornada (e somos mesmo!). O problema é que mesmo com muitas pessoas (sim há muita gente a querer mudar isto) com a visão e a convicção que é preciso mudar, há muitas pessoas cujo trabalho diário é precisamente arranjar novas formas de nos fazer consumir ainda mais (designers, gestores, economistas, markting people). Por isso não vai ser fácil mudar, mas o que vale é o esforço de cada um nesta saga. Eu deixei de comer carne há 10 anos, precisamente para mostrar (não só mas tb) como estava de desacordo com a forma como nos obrigam (com a publicidade) a consumir mais do que é preciso. Fui capaz de mudar mas o preço que tenho de pagar é alto: deixei de viver a vida normalmente (quer dizer continua a ser normal, mas não como a maioria das pessoas).
ResponderEliminarmãe dos chiribitis: nem me fales em carne. Eu não consigo ser vegetariana, embora tenha reduzido o consumo de carne, mas ontem tive que tirar a pele a um frango (long story) e fiquei agoniada a pensar na morte (e na vida!) do pobre bichinho. Se calhar as gordurinhas nas coxas e no peito são da vida sedentária - toda a vida numa caixa de aviário - e se calhar algumas marcas vermelhas seriam de uma morte desumana... Se começo a pensar muito estou mesmo tramada...
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