09 outubro 2008

Hábitos

Quando eu era miúda e ficava sozinha* em casa aproveitava esses minutos para fazer todas as "asneiras" que podia. Desde lutas de água, em que despejavamos água por cima umas das outras, ou no chão da cozinha para depois patinarmos em cima dele, batalhas de morangos (ah, bons tempos), fazer tendas de cobertores e cadeiras, e, uma das brincadeiras favoritas, passear pela casa em cima do aquecedor a óleo, que tinha rodinhas. Tudo coisas proibidissimas. O meu pai, que costumava chegar antes da minha mãe ou ao mesmo tempo, de cada vez que chegava a casa, tocava sempre à campainha, usando um toque característico. Para mim, era o momento de arrumar tudo a alta velocidade (principalmente se fosse o aquecedor a óleo) ou fazer de conta que estava a limpar a cozinha.
Só há algum tempo é que me apercebi do que provavelmente estaria por detrás deste toque à campainha do meu pai. E isto, porque faço o mesmo com o meu filho. Quando eu não estou em casa, assumo que ele vai aproveitar para fazer todas as coisas que não pode, ou que estão restritas. Muito provavelmente vai aproveitar par jogar na playstation apesar de ser proibido durante a semana. E eu prefiro fazer de conta que não sei, e desde que ele faça os trabalhos de casa nem me importo. Mas toco à campainha. Quando abro a porta, são horas de fazer outras coisas. A campainha assinala o fim do que quer que ele estivesse a fazer, sem "só mais um minuto" ou "deixa-me só acabar este jogo". E ainda lhe dá o gostinho de pensar que esteve a fazer alguma coisa proibida.


*sozinha = sem os pais, mas não necessariamente só

1 comentário:

  1. Grande truque!
    Acho que vou passar a fazer o mesmo.
    Nós tínhamos uma grande liberdade de experimentar em casa. Por alguma razão, os meus pais não se chateavam muito.
    Transformávamos a mesa da sala de jantar em submarino (dava para abrir pelo meio, por onde nós entrávamos...) ou nave espacial, fazíamos um salão de cabeleireiro na sala (coitado do meu pai no dia em que lhe "lavámos" o cabelo à hora do almoço, e ele teve de tomar um duche a sério antes de voltar para o trabalho).
    Devia lembrar-me mais vezes da minha infância, a ver se melhoro a dos meus filhos...

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