15 outubro 2008

Andar à roda

Há uma data de anos atrás, quando eu era uma teenager inconsciente - quando ouvi pela primeira vez as palavras teenager inconsciente, momento que correspondeu à invenção da expressão teenager inconsciente no meu imaginário - ah, e a palavra imaginário também era usada a torto e a direito - há esse tempo todo, usavam-se as palavras farfalota pimpinela e via-se um concurso ao fim da tarde no canal 1. Isto no tempo em que só havia dois canais, pelo menos na minha casa, embora na casa anterior tivéssemos apanhado também um canal espanhol, onde víamos o Espinete do barrio Sésamo, apesar de não percebermos grande coisa (isto no tempo em que não conseguia ler as legendas dos filmes porque não tinha tempo para ler as palavras todas antes que desaparecessem).
Há uma eternidade, portanto.
Ora eu não sei porque é que via aquilo, nem porque é que tanta gente via aquilo, pelo menos entre os meus colegas, mas desconfio que era um fenómeno nacional, que atingia todos os que estivessem em casa entre as 7 e as 8 da tarde/noite. (E isto já foi alguns anos depois de eu jogar futebol no ciclo com os rapazes, com uma bola de ténis, em que no último intervalo, antes da última aula, durante o inverno já era de noite e era dificílimo ver sequer por onde a bola andava, quanto mais marcar um golo nas balizas que eram bancos de betão. A última aula era das 6 às 7. Da tarde/noite.) Nesse tempo, por causa desse programa e das palhaçadas do seu apresentador, houve muitas expressões que se tornaram populares, muitas frases que toda a gente repetia (digamos do género do "o papel? qual papel?" dos malcheirosos ;)) e que faziam rir, mesmo não tendo piada nenhuma, por força da repetição. No século passado as coisas eram diferentes, não havia internet em casa e computadores só no instituto da juventude (lembro-me de ter feito um "curso" de MS-DOS, sim, o sistema operativo, e como aproveitava sempre que tinha tempo livre para ir para a sala de computadores "experimentar", um dia ter-me surgido uma dúvida: porque é que só se podia criar um determinado número de directorias filhas umas das outras (e ainda eram bastantes, o caminho da última ocupava duas linhas no monitor), apesar de não ter criado ficheiros e a disquette de 5 e 1/4" não estar cheia. Quando perguntei isto na aula, o professor exclamou "ah! então foste tu!!!", mas respostas, nada...), naturalmente que sendo as oportunidades de entretenimento menos diversificadas, as pessoas acabassem por passar mais tempo em frente à televisão do que hoje em dia, e havendo poucos canais, teriam todas que estar a olhar para (quase) a mesma coisa.
Resumindo, e concluindo. Eu pensava que o pessoal via aquilo por causa das piadas do Herman. A sério. Tanto os mais novos como os mais velhos. (Mas eu também gostava de ver os três dukes quando tinha oito anos e nunca pensei que a Daisy tivesse alguma coisa de especial, pois o melhor daquilo era o carro cor de laranja em que se entrava pelas janelas. Sou muito inocente portanto.) Até ontem. Confrontado com o puzzle do tema "título", cuja resposta seria "O Fio da Navalha" (e que adivinhei mal apareceu o N, pois já tinha lido o livro, apesar de os concorrentes continuarem a mandar tiros ao lado durante algum tempo), fiquei à espera que terminassem o puzzle para ouvir o que seria dito sobre o tal livro, até porque acho que seria uma leitura óptima para este momento (e sim, claro que foi um livro que gostei). Mas mal termina, o meu miúdo muda de canal. E porquê? Porque o puzzle tinha acabado, o resto não interessa. Hoje em dia é assim. O que importa não é a conversa, não são as piadas, não são as brincadeiras. Se o programa é um concurso, o que interessa é o jogo. Guardem as piadas para os programas de piadas.


(e sim, este post podia ter sido dividido em muitos posts mais pequenos. mas não temos tempo.)

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