10 novembro 2009

Ai... o Porto

O Porto já não é o que era. E, ao mesmo tempo, ainda o é.
Andei no "metro" pela primeira vez. Começou logo bem, tinha perguntado a uma senhora o caminho e ela não me largou enquanto não me ajudou a comprar o bilhete certo para o sítio onde eu queria ir. E ainda me explicou, tintim por tintim, como é que funcionava, quando é que aquilo andava debaixo da terra, e onde é que teria que estar atenta. Uma simpatia - e eu nem tinha perguntado nada. São estas coisas que dificilmente se encontram noutros sítios e que apaixonam uma pessoa logo à chegada.
Depois, a viagem. Logo num dia em que tinha apanhado por cá dois alemães a discutir porque um deles estava à conversa ao telemóvel num transporte público, em tom de voz completamente normal, e o outro se sentiu muito incomodado pelo barulho. No "metro" as pessoas falam ao telemóvel de maneira a que toda a gente ouça. E falam umas com as outras, vá lá, alto. Combinam o jantar - quem é que leva o quê, o que é que se vai comer, quem faz o arroz. (- Vai ser arroz de ervilhas! - Não, arroz de legumes! - Então fazes tu! - Pois faço!) E eu fico com água na boca, a pensar nas castanhas e na jeropiga, e até no arroz, de ervilhas ou de legumes, tanto me dá. (E o homem do arroz de legumes a insistir: "Eu sei fazer tudo! Só a massa de pizza é que o não-sei-quantos faz melhor que eu, mas é só porque trabalhou numa pizaria!)
O casal de gente "forte", a contar um ao outro como se sentiam injustiçados por comentários maldosos. Fortes, mas trabalhadores. Fortes sim, esforçados e empenhados, e a fazer pela vida, que quando a coisa fica preta gente assim vai buscar as forças todas e enfrenta o que vier de peito aberto sem se queixar. Cantando e rindo. Bem, não os ouvi cantar, mas a boa disposição não lhes faltava.
A chuva. Tudo cinzento. Os vendedores de rua, com guarda-chuvas grandes ("É a 5! É a 5, menina!"), que saudades dos providenciais vendedores que aparecem quando mais se precisa deles. Cá já apanhei muitas molhas, por falta de guarda-chuva e de vendedores de rua.
Santa Catarina quase vazia, pedintes e sem abrigo os únicos que ainda por ali resistiam. (E a senhora que veio falar comigo e me partiu a alma aos bocadinhos. E o rapaz novo encostado a uma parede, com um papelão escrito em mau português, que dizia ser alemão e querer ficar em Portugal, mas precisava de 40 euros para o passaporte.) E no fim, os Aliados - cinzentos, molhados, desconfortáveis, um belo ponto de encontro.

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