19 junho 2015

Um momento de quase perfeição

Há dias em que está tudo bem. Dias em que não custa acordar cedo, o corpo coopera, a temperatura é a certa mesmo que estejam 30 graus e esteja a trabalhar sem ar condicionado. Há dias em que o espírito da minha vida me acompanha de manhã até à noite, e me envolve num abraço apertado todo o dia. Há dias em que está tudo certo, as pessoas, as conversas, a comida, a roupa, os sapatos, o ambiente. Há dias em que até o que corre menos bem é maravilhoso, em que uns saltos agulha enfiados na calçada são apenas um motivo para sorrir. Dias em que estou aqui quase só para ajudar, e ao mesmo tempo recebo tão mais do que aquilo que dou. Há dias em que me lembro de todas as coisas que fazem parte de mim, e essas coisas estão todas à minha volta, por um dia. Há dias em que me lembro onde pertenço, onde sou gente, onde me conhecem e onde me reconheço. Há dias em que me lembro como é bom encontrar pessoas que conhecem os meus semelhantes mais próximos. Há coisas nesta lista que para o comum dos mortais fazem parte do dia a dia. Há outros que já não têm oportunidade de ter dias assim. (Nunca me hei-de esquecer daquele taxista em Munique que fugiu de Sarajevo durante a guerra e me contava que nunca mais poderia voltar ao seu país natal, de onde tinha escapado há uns vinte anos.)
Há dias maravilhosos, dias disto tudo. Dias em que se conseguem encaixar milhentas pequenas coisas que fazem parte das melhores partes de mim. Tão bons que se tornam melhores ainda por acordar cedo e deitar tarde, só para durarem mais.

farol, mar

08 junho 2015

Estou a passar demasiado tempo no ginásio

Acabam-se-me os podcasts. Ou troco o ginásio por outra coisa, ou passo a treinar apenas 15 minutos (dois homens a morder o cão, uma mixórdia, e as curtas dos momentos da manhã), ou então tenho que encontrar podcasts novos. Já experimentei o tubo de ensaio, que não sendo dos meus favoritos, sempre me dá mais uns três minutos e meio. No desespero, descobri que há podcasts de conselhos fiscais (TSF), sobre "a" economia, e imensas coisas de igrejas. Não encontrei os podcasts das aulas de português ou história, embora não tenha procurado muito, acho que não faço parte do público alvo. No fundo sou um nichinho de mercado, eu só queria coisas que me fizessem rir, e disso há pouco. Uns quinze minutos por dia. Cinco dias por semana. Fraquinho, fraquinho.


02 junho 2015

Quatro em um, e um bónus

No último dia de Maio, pela primeira vez, tomei o pequeno-almoço ao ar livre deste ano. O Verão tardou em chegar. Verão, como quem diz, que o Verão aqui, como o conheço, é uma alternância entre dias de 30 graus e sol seguidos de dias de 13 graus e chuva. A Primavera costuma ser mais quente e menos molhada, mas este ano recusou-se a dar um ar da sua graça.

Há vinte anos atrás, mais coisa menos coisa, achava que a CEE era das melhores ideias que os europeus tinham tido. E estava convencida que iriam continuar a trabalhar para que um dia a Europa fosse una. Uma moeda, um sistema fiscal, um sistema de saúde, um modo de vida. Sem fronteiras, sem invejas, sem acusações, um sistema de ajuda mútua. Uns podiam exportar a água que tinham em excesso, em Julho, época das inundações, para os outros que no mesmo mês sofriam com a seca e incêndios. Por assim dizer. Hoje em dia fala-se em saída da Grécia, que entrou antes de nós, e na saída da Grã-Bretanha, membro desde 1973.

Comi as primeiras cerejas do ano, vindas de Espanha. Maravilhosas. E os primeiros morangos do campo aqui perto de casa, os melhores que há, porque são colhidos maduros, e vendidos no mesmo dia. Adoro esta época do ano pelo mesmo motivo que gosto de bolos: é a época das coisas doces. Fruta madura de todo o género. Gelados de fruta fresca, salada de frutas, batidos.

Tudo muda. Aqueles que eram os meus chocolates (bombons) preferidos deixaram de o ser. Só os comia uma vez por ano, pelo meu aniversário, quando um amigo mos oferecia. São de uma loja artesanal que me fica completamente fora de mão, pelo que nunca lá entrei, embora saiba precisamente onde fica. Entretanto descobri uma outra lojinha de chocolate no centro da cidade, que me fica em caminho de muitas outras coisas, e que tem fila em qualquer altura do ano. Os bombons são excelentes, e têm um sabor mais forte, porque menos açucarados, Feliz ou infelizmente, também não é sítio por onde passe frequentemente, nem coisa de que me lembre todos os dias, porque senão  passava a rebolar em vez de andar. Mas um dia não são dias, e em doses moderadas, com certeza que não há nada que faça mal.

Para rematar, em jeito de bónus porque tenho andado de fugida. Se se encontrarem de férias, ou sem nada para ler, levem o crime num quarto fechado. É um bom policial norueguês, passado uns anos depois da segunda guerra, empolgante e envolvente. Só tem o defeito, para mim, de se esforçar demasiado em manter quase todas as pontas soltas por demasiado tempo, e no final, acabar por se perceber um pouco cedo demais exactamente como é que aquilo aconteceu. Catorze valores. Quinze, vá, porque a capa é bonita e vem com um pacote de chá.