23 novembro 2014

Já cheira a Natal

Tenho horror a multidões. Não gosto de espaços com muita gente, de filas, de encontrões, de me sentir apertada, não gosto ter muitos desconhecidos demasiado perto de mim.
Por causa disto, ando aqui a brincar com uma ideia para as prendas de Natal. Podia comprar tudo na net, e evitar as lojas, o centro da cidade, os shoppings, as confusões. Seria simples, só que não tenho vontade nenhuma de o fazer. Nem sei bem porquê, mas não me apetece estar com o computador à frente a escolher coisas, esperar que venham, rezar para que o carteiro não fuja a toda a velocidade com a minha encomenda antes de eu ter tempo para lhe abrir a porta. (O carteiro toca sempre nas alturas mais inconvenientes.)
Há alguns Natais atrás, já nem sei bem quantos, deliciei-me a fazer algumas compras em vésperas do Natal, à última da hora, na minha terra. A paz, o sossego, as lojas quase vazias. O descanso. Sinto-me tão tentada a deixar tudo para os últimos dias, e dar uma ajudinha ao comércio tradicional... Não fora a minha ansiedade para deixar tudo e mais alguma coisa pronta antes do dia D, era mesmo isso que eu faria. Eu quero mesmo ir para casa, comer rabanadas da minha mãe, fazer bolos com as minhas irmãs, sair a meio do dia só com um casaco dos 0-10 graus, e passar no supermercado, nas lojas de roupa (meias para o pai, check), na loja de bijuteria (coisas para as amigas, check), na loja de prendas, daquelas que deixaram de existir noutros lugares (resto da malta, check), e talvez na loja de doces e enchidos tradicionais (quem faltar, check). E se precisar de alguma coisa - lojas das manas (pijamas - check); loja dos manos (atoalhados - check); loja da miúda que andou comigo na escola (roupa para a minha menina, check); loja da amiga da mãe (meias/boxers/camisolas para o meu rapagão, check), e por falar em mãe, estabelecimento comercial fabuloso para senhoras, da outra miúda que andou comigo na escola, check.
Tanta vontade de fazer isto. Dois dias e meio para o fazer. Compras nas calmas, mesmo antes do Natal, a pé. Sem pressa para ir embora, sem stress de estacionamento, dando-me ao luxo de passar brevemente em casa para pousar sacos se quiser. As pessoas a conversarem comigo porque me conhecem, e não apenas um quanto é, verde, código, verde. A minha piolha a ser estragada com mimos pelos meus conterrâneos.
Quanto mais penso nisto, mais certo me parece. E, se antigamente era impossível arranjar papel de embrulho e fitas giros na minha terra, hoje em dia é facílimo. O senhor que nos vendia bloquinhos e borrachinhas e canetas de cheiro abandonou a outra metade do seu negócio e agora vende todo o tipo de material de arts&crafts. Até os embrulhos vão ser giros, se seguir este plano.
Gosto tanto desta ideia.

21 novembro 2014

O youtube e os direitos de autor

Bem sei que volta e meia volto à carga, e é mesmo assim, o youtube persegue a minha vida, quer eu queira quer não. Ora são vídeos que não consigo ver, ora são vídeos que as televisões colocam no ar. Agora uma nova questão que já devia ter suscitado longos e apaixonados debates. Sabemos que quando alguém coloca no youtube um vídeo ou música do qual não detém o direito de autor, o youtube bloqueia o vídeo por questões legais. Por vezes chega ao extremo de o próprio autor ter colocado o vídeo nessa plataforma e ainda assim o youtube bloquear o acesso.
Mas a questão que coloco é da perspectiva oposta. Dada a quantidade de programas de televisão que parasitam o youtube, pois simplesmente se limitam a emitir vídeos dele retirados - não sei por que meio, porque os termos de utilização do youtube não permitem a cópia para o computador privado - com uns artistas da estação a comentar os tais vídeos, não há ninguém que se sinta também atingido no seu direito de autor? E o youtube, também não se queixa?

Fiz uma breve pesquisa sobre o assunto, e encontrei um exemplo caricato. Uns rapazes fizeram um vídeo - música e imagem originais - e colocaram no youtube. Alguém do programa do Jay Leno foi lá buscar o tal vídeo, que depois foi transmitido, sem autorização dos autores, durante o programa. Depois disso, o vídeo original passou a ser bloqueado pelo youtube, porque, no entender deles, o copyright tinha passado a pertencer à NBC. (Mais pormenores da história em An open letter to Jay Leno. O vídeo da polémica está aqui.)

Estou como o outro, mas como é que é possível?!

A resposta, em parte, está num algoritmo que corre automaticamente e inicialmente retirou este tal vídeo pelas questões citadas acima. No entanto, a utilização de vídeos por estações de televisão cai no uso comercial, provavelmente licenciada pelo youtube. Ainda assim, é no mínimo irónico, um controlo tão apertado do direito de autor da indústria do entretenimento, versus a utilização de material produzido pelo anónimo utilizador-autor. E, depois de uma olhadela cuidadosa aos termos e condições, mais um pormenor interessante.

"The above licenses granted by you in Content terminate when you remove or delete your Content from the Website"

Portanto, a eliminação do conteúdo leva ao fim da autorização dada ao youtube para utilizar e licenciar a terceiros o vosso conteúdo. O que, no caso dos programas de televisão, me faz colocar mais uma questão - o que é que acontece aos programas cuja emissão é repetida, quando utilizam vídeos colocados por terceiros no youtube, que entretanto os apagaram?

03 novembro 2014

Da organização

Há uns tempos, candidatei-me a um trabalho* que envolvia excelentes capacidades de organização. Enquanto avaliava os prós e os contras da candidatura, do trabalho, e dos requisitos, fui falar com alguém que já tinha estado na posição que eu almejava. Ah, e tal, é preciso uma grande capacidade de organização, saber onde como e quem vai estar num determinado sítio a falar de um determinado assunto, ou a escrever sobre ele, e tal. Enquanto o homem falava, eu ouvia, pensava na minha vida, e ainda lhe disse, se ele soubesse da missa a metade não enfatizaria tanto a tal capacidade de organização, para ele um palavrão, para mim, uma espécie de amigo. Ou amiga.
Por outros motivos que não vêm ao caso nesta história, decidi que aquilo não era para mim naquele momento, e segui a minha vida com outros projectos e outros desafios. Diverti-me a fazer outras coisas no trabalho, e deixei os grandes desafios organizatórios para a vida privada - digamos que os meus calendários anuais são um tratado. Agora, que tenho uma tarefa gigante entre mãos, lembro-me do homem e das suas advertências. Até gostava de lhe explicar o que é que para mim é relativamente complicado, tirar meças com ele, só para ver a cara dele.


(*perdoem a liberdade literária da expressão, a história toda dava um livro)