30 janeiro 2014

Eu fui à praxe

Podia dizer que eu fui à praxe e sobrevivi, mas não é verdade.
Eu vi a "minha" praxe ao longe das primeiras vezes, e achei aquilo uma brincadeira divertidíssima, e depois também quis entrar. Eu era para não me ter lá ido meter, mas isso foi antes de saber como era na minha faculdade.
E as primeiras coisas que eram anunciadas aos caloiros era que ali não se ia pintar a cara a ninguém, nem fazer a malta andar de fraldas ou parvoíces dessas. Isso era para as outras praxes. A minha praxe foi uma festa. Pronto, nem tanto, teve tardes em que foi uma seca - um ou dois veteranos a falar durante muito tempo, e algumas coisas eram interessantes e outras menos- mas também teve tardes e noites de morrer a rir. Tive aulas fantasma - em que um dos mais velhos nos apareceu a fazer de professor e nos deu uma lista de bibliografia que nunca mais acabava (o Pisconov, o famoso livro de matemática, era seguido do Piscodez, obviamente - para quem não era caloiro - inventado). Rimo-nos muito, muitas vezes, eu se calhar mais do que os outros. Fizemos casco-paper, latada (com latas, e sem mais adereços), noitadas, sessões solenes, cantorias, jantaradas, almoços nas cantinas e nas tascas da cidade, e sim, fomos felizes juntos. O pessoal do segundo ano estava proibido de praxar - para não haver excessos - e a praxe mais organizada, dia sim dia sim durante muitas semanas, estava entregue a alguns alunos do terceiro ano. Os veteranos apareciam para fazer número, mandar bocas, discursar, ensinar algumas coisas pois. Em público, quando se praxava primeiro fazia-se uma parede de capas pretas, para que os estranhos não assistissem . Ok, dentro do possível. Mas ninguém foi mandado comer porcarias, ou teve que rastejar pelo chão. E os "doutores" levavam-nos às aulas. E depois iam-nos buscar. :o)
Nunca me senti obrigada a ir à praxe, e tive pena dos dias em que não pude ir. Nunca me senti maltratada, ou humilhada. E parcialmente terá sido porque era caloira, e as caloiras eram tratadas com mais cuidado, ninguém nos punha um dedo em cima. Vantagens da faculdade estar cheinha de homens. Se calhar a parte mais chocante da minha praxe foi a quantidade de asneiras que dissemos... mas eu sou transmontana, e na minha terra usa-se uma linguagem ainda mais colorida do que a que ouvi na praxe.
Havia um grupo de três colegas que nunca foram à praxe. E usaram traje, e foram ao cortejo e à queima. E não, não eram iguais aos outros. Não é que não tivessem amigos. Ninguém os tratava mal. Davam-se bem com um número menor de pessoas, penso que era aí que residia a maior diferença. Demoraram mais tempo a criar laços. Bom ou mau, não sei, eu até me dava com eles, mas não era como com os outros, com que tinha rido e partilhado horas e horas a fazer as mesmas coisas. Nunca, nos anos todos em que convivemos quase diariamente, aqueles três se tornaram tão próximos como alguns outros que estiveram na praxe comigo. Provavelmente foram dos poucos alunos do meu curso que não tiveram explicações de desenho técnico com um "doutor" que adorava a cadeira e ajudou praticamente todos os caloiros a compreender a matéria.
A minha melhor amiga de sempre conheci-a na praxe. Ficávamos uma ao lado da outra, literalmente e figurativamente, e assim continuamos, tantos anos depois, mesmo que em países diferentes.

Se a praxe é uma coisa boa? Para mim foi. O que é certo é que desde sempre que ouço relatos de coisas terríveis que aconteceram em praxes, e felizmente nunca tive uma experiência que se assemelhasse. Nem ao que aparece nos jornais, nem ao que se vê nas ruas. Nunca me pintaram a cara. Nunca me puseram um dedo em cima. Nunca me tentaram obrigar a fazer nada. O medo que eu tinha à praxe passou quando vi a praxe ao vivo na minha faculdade, e transformou-se num prazer. Sim, eu gostei da praxe. E porquê? Porque sou masoquista. Porque foi divertida. Porque conheci quase toda a gente em alguns dias. Porque criei cumplicidades que na ausência da praxe não teriam acontecido. E por causa da praxe envolvi-me em imensas coisas que não tinham nada a ver com a praxe - mas que apenas se proporcionaram por ter conhecido aquela gente toda durante a praxe. E a minha praxe foi um espectáculo dos bons.

23 janeiro 2014

Há dias em que é divertido

Os dias em que há batatada aparecem sem avisar. Umas vezes começa de manhã, outras vezes à tarde e prolonga-se pelos dias seguintes. Há campeonatos de batatada que dão vontade de rir, quando não terminam com olhos negros e narizes a sangrar, são mais parecidos como uma batalha de bolas de neve. Outros terminam com narizes vermelhos, pernas partidas, e mangueiras em vez de veias a sangue a jorrar por todo o lado, como no kill bill. E tem dias em que o campeonato de batatada torna o dia uma perda de tempo, quando as batatas são poucas, pequeninas, moles e não dão para fazer nada com elas, mas ainda assim passam o dia todo a voar perto do meu nariz e ouvidos. Nesses dias era preferível que fossem plantar batatas, a ver se da próxima vez tinham um campeonato como deve ser.

Às vezes escrevo, e depois arrependo-me

Umas vezes fica em draft até dia de S. Nunca, outras vezes apago mesmo para não ceder nunca à tentação de publicar. Porque pode ser lixo, de um ponto de vista, porque pode ser demasiado pessoal, porque pode ser a história de outra pessoa, porque não vale a pena explicar a todo o mundo que o pai Natal não existe.

10 janeiro 2014

Até me assustei

Comecei o ano com tanta energia positiva, e energia, em geral, que quando me apercebi foi como se me tivesse ultrapassado a mim própria.

08 janeiro 2014

Oficialmente, velha. Na terceira idade. Ou meia-idade vá. Mental, que é ainda pior.

No primeiro dia do ano, uma amiga minha, emigrada por outras paragens, postou uma foto do nascer do sol no livro-caras. Ela faz isso frequentemente, pelo que eu comentei algo como "deitaste-te tarde". Acho que a ofendi, pela resposta (a vida não é só trabalhar). Mas isso não foi o pior. O pior é que eu estava a brincar, a ser irónica. Estava plenamente convencida que todas aquelas fotos de nasceres-do-sol tinham sido tiradas por uma pessoa madrugadora. Que se levantava cedo e ia fazer ioga para a praia, correr no calçadão, treinar para o ginásio. De cada vez que aparecia uma foto daquelas eu só pensava para comigo, ainda bem que não tenho que me levantar assim tão cedo. Não houve uma única vez que eu pensasse, olha, foi para a borga e deitou-se depois de o sol nascer. Tomara eu ter energia para ficar a pé depois das duas da manhã, quanto mais para sair e ficar a pé até o dia raiar.
Se por um lado me parece que isto é um indício claro que estou a ficar velha, por outro lado, pode ser exactamente o seu contrário. A minha criança interior também não pensa em ficar a pé até a manhã chegar, a noite é para dormir sob pena de ficar rabugenta ou não conseguir acordar a horas no dia seguinte. Tem dias que nem o despertador me consegue arrancar do sono. Eu só conseguiria tirar uma foto do nascer do sol se deixasse a máquina programada para o fazer sozinha.

Começa bem

Está um tempo maravilhoso. 13 graus, sol todo o dia, francamente maravilhoso, lindo, uma belíssima maneira de começar o ano. E depois, boas notícias logo a abrir - geniais - seguidas de notícias ainda melhores, desgraças para outros lados (simpatizo, mas ainda bem que não me calhou a mim), e um campeonato de estaladas a que só assisti de camarote. As estaladas eram em sentido figurado, e incluíram jogo de apostas, também em sentido figurado, e no fim, com um bocadinho de sorte, acaba tudo em bem e toda a gente fica a ganhar. Até lá vou-me rindo da minha sorte e dando uma mãozinha no que puder aos menos afortunados.

07 janeiro 2014

Não sei se foi de a Merkel ter partido a bacia ou por ter morrido o Eusébio

O avião da TAP chegou a horas, mas as malas estiveram 45 minutos para sair. O supermercado estava aberto, mas produtos frescos, nem vê-los. Estão todos de luto e não avisaram?

05 janeiro 2014

A luz dos dias

Choveu com força toda a noite, de manhã mais miudinha, de tarde dormi uma soneca ao sol, vi as nuvens, e tive pena de não ter arte para a fotografia. Pois que nestes dias vi o sol, nuvens, nevoeiro, chuva e céu nublado, mas sempre com uma luz diurna forte e maravilhosa. Para recordar apenas nas gavetas da minha memória, dias lindos, de todas as formas.

04 janeiro 2014

Não era em Maio?

Está a trovejar. Em Janeiro. Eu bem tinha dito que estava calor. (Quinze graus em Janeiro é calor. )

Maioridade

Vim à terra e não me apeteceu andar às compras. Não como dantes. Não preciso de roupa mesmo que seja confeccionada em Portugal,  não tenho vontade de experimentar sapatos mesmo que me desse jeito substituir um par preto que já não anda a cem por cento. Deve ser isto, ser finalmente adulta. Isto e sentir-me bem e não ter vontade de fugir quando vou na rua com a minha mãe e encontramos colegas dela, apreciar a terra pequena onde não há nem fazem falta autocarros para ir de uma ponta à outra. Quinze minutos a pé a andar bem não custam nada, mesmo que depois dos segundos ou terceiros quinze minutos haja músculos que se queixem por não estarem habituados a tanto andar. Nunca se sai de casa só uma vez, é tudo tão perto que cada vez que se pensa "preciso disto" vai-se logo tratar do assunto pondo, literalmente,  os pés ao caminho.
Ganhei um novo apreço pelo comércio tradicional, onde pergunto onde estão as coisas e logo as encontro sem ter que dar mil voltas (e o pvp tabelado e os descontos que os lojistas fazem quase sempre), onde se leva algo para casa a ver se serve e no dia seguinte se passa outra vez a pagar ou devolver. A confiança nas pessoas,  no comércio,  já nem me lembrava que é assim.

03 janeiro 2014

A minha enorme capacidade de concentração

Enquanto estou a fazer coisas no computador, não me apercebo de mais nada à minha volta. Quando paro, pedem-me uma moedinha. Não tenho disso, meto a mão ao bolso e saem de lá um cão, um estrumfe, e sete anões. Juro que não estavam lá há uns minutos. O meu bolso deve ser mágico.

01 janeiro 2014

De 2013

levo a surpresa do poder de um simples obrigado. Por duas vezes, um obrigada entusiasmado a pessoas que estavam simplesmente a fazer o seu trabalho, e das duas vezes, as duas senhoras a quem se dirigiu, ficaram comovidíssimas. Minhas queridas, não foi nada. O prazer foi todo meu. Depois disto fico a pensar mas que vidas são estas, em que um pequeno acto de simpatia causa um efeito tão grande.