Nos meus montes, verdes e amarelos ao perto, azuis ao longe, confundindo-se com o céu. Solitários, orgulhosos, rasgados por estradas novas e geradores eólicos porque ali não mora ninguém, e por isso pode-se estragar a paisagem, tira-se a foto para o outro lado e depois manda-se lá para fora a ver se vêm turistas (parvos).
Divirjo. Na estrada antiga a ponte velha ainda serve, bonita, e as bermas estão pejadas de castanheiros, os ouriços verdes, as castanhas a crescer e amadurecer. Quase não passam carros. Estradinhas de terra batida seguem por montes acima, vão dar ao cume, onde me lembro de brincar em miúda. E dos campeonatos de asa delta, hoje em dia já ninguém faz asa delta, onde pessoas esquisitas se mandavam dali abaixo numas geringonças estranhas e depois iam parar ao meio do nada. Se bem que ali quase tudo seria o meio do nada, e como tal, dificilmente conseguiriam ir parar a lugar algum.
Tenho muita sorte.
Apesar das fotos que correm o mundo, os meus montes continuam suficientemente vazios para o meu gosto. Aquela vista agora é de muita gente, mas aquele ar continua a ser de muito poucos. Gosto disso. Os meus montes não se dão com o turismo de massas - o turismo de massas não se dá com eles. Uma piscina só entretém por um ou dois dias, a paisagem não é como a televisão, apenas está ali, não passa nada. Mesmo nada. Ao fundo as barragens não se mexem, a água parada. Nos caminhos de terra batida também não passa ninguém.
À despedida, passo por dois velhotes na estrada. Acenam-me. Aceno-lhes também e sorrio, provavelmente ganharam o dia, ao ver passar alguém. E eu também.
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