28 novembro 2011

Sem cabeça

Um gajo passa o fim de semana a ler a Economist, a absorver as entrelinhas e a panicar com o fim do euro. Com tanta desgraca anunciada, vai trabalhar vestida com a primeira coisa que veio 'a mao, que por ironia do destino e' uma t-shirt com um grande smiley amarelo sorridente a piscar o olho, e calcas de ganga so' porque nao teve pachorra para procurar algo de jeito durante 5 minutos. Para completar o look? sapatilhas, Nike, giras, velhas (mas bem conservadas), de verao, azuis. E sem pensar muito, porque ha' tanto que fazer e o mais provavel e' ficar fechada sozinha entre quatro paredes a maior parte do dia. E depois, enquanto acalmava do panico do fim de semana (o fim do euro! o fim do euro! o fim da livre circulacao como a conhecemos! o fim da melhor coisa que a europa nos deu!), uma emergencia oficial, e tive que ir a correr apagar o fogo no que ja' me parecia uma m**** de t-shirt de andar por casa e jeans rafados (os meus favoritos!) e sapatilhas que nunca deveriam ter cruzado a porta do trabalho, explicar ao chefe o problema e apontar a solucao (raios para a preguiça matinal, porcaria da t-shirt tinha que estar no cimo da pilha das t-shirts lavadas), resolver o problema e voltar a enfiar-me entre quatro paredes.
E quando comecava finalmente a acalmar do panico (o fim do euro!), a pensar que se calhar os americanos estavam era a exagerar, que apesar do falhanco da emissao de divida alema na semana passada, da italia, da grecia, e dos sucessivos ataques dos mercados a esta aquela e aqueloutra niquice e mais a que se lembrarem a seguir, que caramba, o euro (o euro!) iria sobreviver, porque o euro e' a melhor coisa que veio com a uniao europeia (tanta coisa boa que veio por arrasto com euro), isto.
Vou ali correr em circulos como uma galinha tonta, porque se o euro acaba eu nao sei o que fazer. Bem sei que nao e' o fim do mundo, nem nada que se pareça. Mas sem euro, que raio de coisa e' esta uniao europeia?

24 novembro 2011

É o catano... (mais um post da série "o Louco no autocarro")

A mim apetece-me fazer greve hoje mesmo. Não trabalho em Portugal e não me cortaram os "subsídios" (que nunca tive desde que vim para cá). As prendas de Natal saem do orçamento dos meses de Novembro e Dezembro, a não ser que me antecipe nas compras, o que acontece menos vezes do que gostaria. As lojas estão a abarrotar de gente desde início de Novembro, fenómeno que este ano se antecipou por um mês, pelo que deduzo que por aqui a crise é uma coisa que só acontece aos outros e que serve como desculpa para desancar, principalmente, os gregos. Ainda me lembro das letras garrafais com que se anunciava no verão haver 10000 empregos por preencher na cidade de Munique. As mesmas que usam agora para anunciar, uma e outra vez, que os gregos são calaceiros.
Cresci a ouvi dizer "quem está mal muda-se", e sempre detestei essa expressão. Se quem está mal se mudar, todos perdem. Perde quem se muda, porque vá para onde for irá ficar sempre, eventualmente, mal, e passará a vida a mudar-se, porque nada é perfeito. Perde quem fica, pois apesar de aparentemente ficar a ganhar com a partida do chato, perde a oportunidade de evoluir e melhorar. Ainda assim, ouve-se demasiadas vezes dizer que quem está mal é que deve mudar.
Aqui não é dia de greve. No meu trabalho ninguém está a fazer greve por motivo nenhum. E ainda assim, apetecia-me fazer greve, para protestar. Porque depois de me queixar 5 vezes (só contando as queixas oficiais), estou convencida que ninguém vai fazer nada. Porque acho que tenho razão (tenho a certeza que tenho razão), e porque se deixam passar isto, deixarão passar outras coisas igualmente graves. Felizmente há outra maneira de protestar, que adopta a máxima "se não os podes vencer junta-te a eles". A ideia é juntar-me a eles com mais meia dúzia de pessoas para depois usar a força da maioria - a democracia é uma coisa fantástica.
Mas enquanto espero e não, como forma de protesto, só me apetece fazer greve.

18 novembro 2011

O louco no autocarro II

Enquanto a blogosfera, facebook, e internet em geral se incendeiam por causa de um video sobre cultura geral, eu que ate acho o debate interessantissimo e um bom sinal - caramba, parece que finalmente se comecou a entender que nem tudo o que parece e', e que ha' cada vez mais gente que usa a cabeca para pensar - ocupo-me com um tema que me incomoda mais. Agora passo as horas vagas (minutos, que eu nao tenho assim tanto tempo livre), a investigar a dignidade no trabalho. Algo que os americanos chamariam de assedio, mas que na europa se chama dignidade. Algo que nos EUA bastaria uma pequena chamada de atencao para ser corrigido, e que por aqui... enfim... Acho que vou esgotar o meu credito de queixas oficiais neste tema, mas nao me calo. E se uma queixa (ja' vao em quatro) nao resolver o problema, agarrar-me-ei ao lema "se nao consegues vence-los junta-te a eles" e farei os possiveis por dar cabo do sistema por dentro. Podem-me chamar ignorante tanto quanto quiserem, nao perdem pela demora. Posso ser a unica maluquinha que se queixa, nao porque ninguem esteja de acordo comigo, mas porque mais ninguem tem tomates, mas alguem tem que o fazer e esta nao vou deixar passar.

14 novembro 2011

Surpresa

Este ano estive em Madrid. Entre tapas e passeios, acabei por passar na Porta do Sol, onde se manifestavam centenas de pessoas. Note-se que isto foi meses depois dos protestos dos indignados, numa altura em que havia dezenas de mini grupos que protestavam contra as mais variadas coisas. Tanta gente, e tao variados os protestos que nem dava para perceber bem o que e' que levava tanta gente ali. Cada grupo tinha montada a sua tenda ou barraca, uns usavam fotos, outros grafitis, outros estavam simplesmente ali. De todas as tendas, havia uma que se destacava. Tinha uma zona de donativos, outra zona para outra coisa qualquer, e la dentro estavam meia duzia de pessoas que pareciam bem organizadas, embora nao tivessem muito que fazer (mas isso, tambem nas outras barracas). Acreditem ou nao, era a tenda dos anarquistas. Clara, objectiva, directa. Organizada.

11 novembro 2011

O louco no autocarro I

A propósito da notícia de hoje "grupo de feministas fecha rua de prostituição" (na Suíça).

Já era tempo de as mulheres perceberem que é estúpido "protestar" tirando a roupa. Se chama a atenção? Sim. No entanto chama a atenção para o facto de estarem de mamas ao léu, e não para o que quer que estejam a tentar fazer. Não lhes passará pela cabeça que haja quem continue a fazer seja o que for (usar peles de animais, prostituição,...) que as levou a tirar a roupa, só para que continue a haver protestos destes?
E, já agora, que "feminismo" é este que, para combater a objectificação da mulher, a objectifica?

Se não conseguires identificar o louco no autocarro é porque o louco és tu. Serei eu a louca?

07 novembro 2011

Desanimada

Depois de ler este artigo, defendi violentamente os gregos. Que devem ser um povo trabalhador (como o nosso), que tem gente que trabalha arduamente, que e' mal governado por elites que só estão interessadas em si próprias. Achei indecente que chamem preguiçosos aos gregos, imoral que chamem "salvar os gregos" a emprestar-lhes dinheiro a juros de usura, ridículo que algum povo se ache dono dos gregos e que fale deles como se fossem escoria.
Ate que um grego me fez o relato da situação. Que afinal os gregos estão prontos para que os alemães venham por ordem na casa, que uns funcionários públicos bávaros venham e tomem conta do pais. Que 70% dos gregos são preguiçosos, mas que os trabalhadores das empresas privadas trabalham muito e são de louvar. (Pelos vistos 30% ou menos dos gregos trabalham para o sector privado).
Quase desisti ali mesmo, naquele instante. Se nem um grego defende os gregos...
Mas pensando melhor, se calhar aquele era um dos gregos que levou a Grécia aonde hoje ela esta.