20 maio 2010

A aventura da carta de mota III
O exame

No dia do exame tive que conduzir a mota até à DGV mais próxima (acho eu que era a DGV, mas se calhar tem outro nome...) que ainda fica a uns quilómetros. Mais um passeio na estrada nacional, desta vez mais longe que eu já tinha ido, e, pela primeira vez, com chuva a cair. Alguma vez tinha que acontecer. Por cima do meu equipamento normal lá pus um impermeável gigantesco, mais para não ficar com frio pois as minhas roupas de motard são à prova de água. No caminho aconteceu-me logo o primeiro susto: ao virar para uma ponte, em que a visibilidade era reduzida por haver muitas árvores, aparece-me um carro em direcção contrária mas que vinha em metade da minha faixa... a sorte é que eu vinha bastante enconstada à direita, senão tinha-me acertado e eu nem teria tempo de reagir. O maluco do condutor tinha o corpo do lado do passageiro, pareceu-me que estaria a tirar uma sandes do porta-luvas ou algo semelhante...
Quando chegámos à cidade lá fui dar o passeio da praxe, ruas residenciais, ruas movimentadas, cruzamentos, rotundas, subidas, descidas. E os malfadados oitos. No início do passeio em ruas planas ou pouco inclinadas, no fim numa subida acentuada. Foi um desastre. À primeira tentativa caí. À segunda - que eu não desisto facilmente, quando estava a terminar a curva aproximei-me demais do passeio, acelerei com a intençao de não cair, e quando dei por ela tinha subido o passeio, fui contra um muro, parti a mota e caí no chão. Não me aleijei, mas fiquei com a confiança bastante abalada. A mota ficou sem o pisca de um lado e um dos apoios dos pés também partiu, quase nem dava para meter as mudanças. Tive que levar a mota a uma oficina por que da maneira que estava nem sequer poderia fazer o exame. Acabei por não almoçar decentemente, e fiquei sentada no passeio enquanto me arranjavam a mota, a deitar contas à vida e a pensar como é que isto podia ser, que miséria, a única coisa que eu não consigo fazer e que me vai fazer chumbar no exame. E ia dizendo para os meus botões que a única hipótese que tinha de me safar seria se, por algum milagre, o examinador me mandasse fazer os oitos numa rua sem inclinação...
Sentada naquele passeio com um olhar miserável, a atrair olhares de pena de quem passava e pessoas a perguntar se tinha caído da mota (sim caí, mas não me aleijei), lá me acalmei, e convenci-me que não era o fim do mundo e que se não passasse desta teria que treinar mais, pois mais tarde ou mais cedo havia de ser capaz de fazer os oitos na perfeição, fosse onde fosse.
Quando a mota já estava pronta lá fui para o local do exame, comi uma tosta à pressa (belo almoço!) e fui à chamada. Todos os candidatos que estavam à espera tinham como equipamento... um capacete. Ainda mandaram umas bocas por eu estar completamente equipada, mas eu ri-me e disse que se caísse ao menos não me ia magoar (e pensei, com as vezes que eu já caí da mota, se não fossem as protecções já tinha partido alguma coisa e desistido disto para todo o sempre).
O meu exame ia ser o segundo, e por isso pude ir ter ao ponto de encontro, que era fora da cidade, na mota, nas calmas. Foi um passeio bom, deu para andar um bocado mais depressa que o costume (70-80km/h é uma velocidade genial ;)), e enquanto rodava naquela estrada pensava que aquilo era o motivo pelo qual eu queria tirar a carta de mota. Acalmei, deixei de me preocupar com o resultado do exame, e decidi desfrutar o passeio, tanto aquele como o de regresso, quando o examinador estivesse atrás de mim a julgar todos os meus movimentos em cima da burra. (ah, ouvi esta na oficina e achei tanta graça...)

Quando o examinador chegou ao ponto de encontro com o outro rapaz em cima da mota (vinha todo contente, sabia que só podia ter passado), o homem olha para mim, com calças, casaco, botas, luvas e capacete, e olha para o rapaz, e diz-lhe, eu admiro um candidato que vem para o exame assim vestido. (Ganhei logo ali uns pontos, pareceu-me.) E depois começa a contar alguns dos seus próprios acidentes de mota, sem equipamento, com muita tolice à mistura, e a sorte de lhes ter sobrevivido, embora às vezes com marcas para a vida, e eu ali a pensar no que é que me fui meter, ainda me espeto contra qualquer coisa e me arrependo desta ideia louca para o resto da minha vida...
O exame começou com umas perguntinhas sobre a mota - como é que se faz o pisca, como é que se ligam os máximos, o que indicam as luzes e os instrumentos no painel da mota. Foi a parte fácil. Depois lá me sentei, liguei a mota, e conduzi de volta à cidade (fantástica, esta parte) a uns 80km/h para o homem não morrer de tédio e com cuidado para não ir demasiado encostada à esquerda e com muita atenção ao tráfego. Em chegando à cidade mandou-me virar à esquerda, à direita, entrar em diversas rotundas e sair das várias maneiras possíveis, tive que parar nas passadeiras e safar-me de umas confusões de trânsito normais para quem está habituado a conduzir um automóvel. Depois de muito passeio em cidade, o examinador lá me manda para uma zona residencial, uma rua larga, mas inclinada e diz-me "agora faça aí os oitos". E eu só pensei pronto, é agora que me lixo, não tenho hipótese, será que vale a pena sequer tentar... Estava mesmo nervosa, mas lá me decidi a tentar, consegui fazer uns oitos, o homem ficou satisfeito e mandou-me continuar e eu nem conseguia acreditar que tinha conseguido, estava toda a tremer... mas a mota essa, ia segura. :) Suponho que já ter tido feito umas viragens à esquerda e à direita mais apertadas em subidas antes dos oitos tenha ajudado a o examinador não me ter mandado fazer oitos num sítio mais difícil. A verdade é que eu consigo dominar a mota a baixas velocidades e situações mais complicadas, mas os oitos em subida dão cabo de mim, é trauma de ter caído tantas vezes.
Depois disto ainda dei mais uns passeios, muitas curvas à esquerda, à direita, subidas, descidas, e depois regressámos ao parque da DGV. O examinador desejou-me felicidades, eu interpretei isso como um "passou" e considerei-o uma prenda de anos. O instrutor de condução também deve ter ficado todo contente, já que assim não tem que me dar mais aulas e não lhe volto a partir a mota. :D

Mais uma vez, acho que tive uma sorte do catano, e depois do que me aconteceu só sei que vou ter muito cuidadinho. Tive que trazer a mota de volta à escola de condução, mais uns quilómetros em estrada nacional e debaixo de chuva, e apreciei tanto o passeio, mais uma vez, que só decidi não comprar uma mota nova muito cara. É que se voltar a cair não quero ficar muito triste por causa da mota... Por agora o plano é esperar pela carta definitiva, arranjar uma motinha para principiantes e praticar muito, de preferência com a companhia de motards com muita experiência.

6 comentários:

  1. Na.... é um bocado longe para uma novata. :)

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  2. Rita, não me digas que queres uma boleia?!
    Tsss tsss tsss, que duas.
    ;-)

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  3. Se ela ma desse...eu sou uma boa pendura, diz o meu pai!

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  4. Vocês só me fazem rir! :D
    Ó Rita, eu dou, mas tu confias? :P (prometo que tenho muito cuidadinho...)

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