21 julho 2015

Munique ao fim da tarde


Está um onda de calor impossível. Vinte e dois graus de mínimas à noite, trinta e vários durante o dia. Um sol quente, dias para passar dentro de água fria, ou de locais climatizados. Ouço mães às compras para os filhos, fartos de lojas, argumentar que não se vão despachar porque está muito calor fora de portas. Onde houver ar condicionado, está ligado no máximo.
Dias de gelados, muitos gelados, e batidos, e garrafas de água. Pessoas que sofrem insolações, desidratação, colapsam a meio do dia. Cenários estranhos no centro da Europa.
E em dias assim, mais um insólito. Passar por uma ponte e ver oito músicos pendurados. Sentados, empoleirados, a tocar trompetes e saxofones. Vestidos de preto. Ao fim do dia, trinta e dois graus, há quem se lembre de se vestir de preto e empoleirar-se ao sol numa ponte de metal a tocar umas musiquinhas. Só para a produção fotográfica, está bom de ver. Podia ter atravessado a ponte para tirar a foto do mesmo ângulo do fotógrafo deles, mas não me apeteceu. O insólito, para mim, era o conjunto todo. Contra-luz, uma banda de metais, um fotógrafo, um assistente, umas pessoas a passar. Fotografei com o telemóvel, não queria perfeição. Tomei todo o tempo que precisei à espera que os carros não atrapalhassem a foto. Uns minutos a clicar, sem ver nada no écran, a sorrir e a rir-me para dentro da minha figurinha, e da deles. E contente, por ter tempo para isto. Há coisas curiosas nesta cidade, mas nem todos os dias tenho uns minutos para as apreciar.

18 julho 2015

O tempo não dá para tudo


Às vezes tenho vinte e quatro horas num dos meus sítios. Ir, estar, voltar. Uma correria. E enquanto vou e volto, aproveito os minutos todos, não me escapa um segundo que seja. Quase nem durmo, nessas alturas. Uma hora para isto, uma hora para aquilo, meia hora para aqueloutro. Uns minutos para ver uma coisa que nunca tinha visto. Um almoço naquele sítio que já está lá há tanto tempo mas nunca tinha tido oportunidade de conhecer. Apanhar sol, sentir a brisa do mar. Comer um fizz limão. Experimentar uma gelataria nova, mesmo que que já seja o segundo gelado em poucas horas. Trocar de sapatos e de roupa porque quando se vive assim intensamente, uma muda de roupa não chega para um dia. E depois, à noite ainda dá para beber um copo. Mesmo que depois não se durma, afinal, está na hora de abalar outra vez.
Num destes dias, aprendi que às vezes têm que se limpar as lentes.