08 dezembro 2007

Conversas privadas (em público)

Não é que eu seja uma cusca. Um bocadinho, vá lá. Mas num transporte público, qualquer conversa que se tenha em tom audível será necessariamente ouvida pelas pessoas que estejam nas imediações, a não ser que tenham alguma coisa enfiada nos ouvidos.
Nos últimos meses até nem tenho andado muito de transportes públicos. Tanto que começo a pensar que, se continuo assim, não vale a pena renovar o meu bilhete anual (pague 9 meses e meio, ande 12), pessoal e intransmissível, que me permite andar pela cidade inteira durante todo o dia e toda a noite, enquanto houver comboios, metro, autocarro, ou eléctrico. E com o meu nome impresso, para que, caso me esqueça do bilhete em casa e seja fiscalizada (nem me lembro quando foi a última vez, talvez tenha sido há um ano ou mais) pague apenas 5 euros de multa em vez dos normais 40. Uma maravilha, patrocinada pelo pagamento adiantado - eles ficam com os juros, eu posso andar sem grandes sobressaltos mesmo que apareça um batalhão de casaco comprido (e feio) azul, pronto para apanhar os penetras. Apanham sempre alguém.
Dizia eu que nos transportes públicos se ouvem as conversas dos companheiros de viagem, mesmo que não se queira. Da mesma maneira que se sentem os cheiros da comida que o pessoal come - tomara que não me chegassem ao nariz, principalmente quando é cheiro a McDonalds à hora do pequeno almoço. Ou couves cozidas (como é que será que se consegue arranjar cheiro forte a couves cozidas?) às 5 e meia da tarde. Pois há uns dias, vinham uns adolescentes no mesmo metro que eu, literalmente a um metro (se tanto) de mim, na galhofa, armados em bons. Sim, eles são os maiores, todos sabemos. O que não sabem é que é pela boca que morre o peixe, e que por solidariedade com todos os miúdos da idade deles, deviam manter a dita fechada. Ou pelo menos falar mais baixo. É que assim não se denunciavam mutuamente.
Vinham os miúdos a explicar como são muito mais inteligentes que os seus próprios pais. Como, em vez de dormir, tinham por hábito esconder o gameboy debaixo dos cobertores quando os pais apareciam para ver se eles estavam a descansar. E eu a pensar cá para comigo, não acredito que os pais destes miúdos não se apercebam. Podem escolher não ver o que se passa, mas serem tão facilmente enganados? Nunca esconderam um livro dos seus próprios pais? Nunca puseram uma toalha a tapar a frincha por baixo da porta enquanto se dedicavam a actividades nocturnas (ler, por exemplo)? Mas, acima de tudo, não estranham os miúdos não estarem 100% acordados (ou 80%, no caso dos mais dorminhocos) de manhã? Eles lá sabem. O meu miúdo é que não achou graça nenhuma quando o apanhei a esconder o jogo na hora em que devia estar a ler. E para o convencer que anda por aí uma conspiração contra ele, contei-lhe da história do metro. Se ele apanha os outros miúdos, estão feitos.

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