03 abril 2014

Doutor Infante

Ia ao médico do costume, pensava eu. Cheguei lá, e aparece-me um rapazote com idade para ser o meu irmão mais novo, a dizer que o meu médico se ia reformar, e como lá para o fim do ano ele - o rapazito - iria tomar conta do consultório, ia aproveitando para dar umas consultas e se dar a conhecer aos pacientes. Fiquei em choque. Então, mas eu ia àquele médico porque tinha idade para ser meu avô (vá, entre pai e avô). Eu gostava daquele consultório porque estava cheio de velhotes, daqueles que apareciam religiosamente todos os dias pela fresquinha para fazer análises. Eu estava convencida que o motivo pelo qual aquele consultório não fechava era a confiança que os velhotes tinham no senhor doutor avozinho, com anos de experiência e sabedoria da que não vem nos livros, que os ouvia e respondia às suas dúvidas, e que só estava aberto de manhã, porque de tarde os velhotes não precisam de consultas, as tardes são para cafés e bolos. Agora o consultório funciona ao dobro da velocidade, até que o médico mais velho se reforme, no fim do ano. A sala de espera está às moscas, até as análises devem ser despachadas ao dobro da velocidade. O rapaz, filho de outro médico, idade para ser meu irmão mais novo, vai ser um bom médico, com certeza. O que mais lhe vai custar vai ser ganhar a confiança dos velhotes.

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