17 março 2015

A baixa já não é o que era

Vou à baixa - a St.a Catarina cá do burgo - poucas vezes. Contam-se pelos dedos das mãos as visitas anuais. Não é porque fique longe e fora de mão, é porque a baixa é estranha. Para começar é sítio de turistas. Nota-se, a malta por ali tem um ar diferente, um vagar no passo, um olhar curioso. Os locais passam a correr, por necessidade da vida do dia a dia. Outros utilizam-na para se manifestar. Há sempre qualquer razão para protestar, megafone na mão, meia dúzia de pessoas que querem chamar a atenção, meia dúzia de polícias a olhar. Passo ao lado, não tenho tempo, a maior parte das vezes nem percebo o porquê destas manifs.
 Vou poucas vezes à baixa. Antes do Natal, quando tenho que tratar de burocracias ou ir ao médico. Quando posso, aproveito para dar umas voltas. Estranho sempre. Há anos que aqui moro, sinto que devia conhecer a baixa como a palma da mão. Saber de cor as lojas todas entre a Karlsplatz e a Marienplatz, dos dois lados da rua, transversais incluídas. Não sei. Não por falta de interesse, curiosidade ou atenção. A baixa de Munique é como uma cobra, troca de pele frequentemente. Ao longo dos anos apareceram e desapareceram as minhas lojas favoritas. Cada porta que trespassei tantas vezes com gosto, mais tarde ou mais cedo acaba por dar lugar a uma loja nova que não me interessa. Uma ou outra excepção, rara. De cada vez que preciso de uma coisa daquelas que só há na baixa, quando lá vou, descubro que já não há. Aquela loja onde podia ir comprar uma fatiota de emergência, com preços em conta, que não tinha 500 filiais pelo país? Desapareceu. A outra onde comprei a minha melhor escova de sempre, que perdi numa mudança, deixou de vender escovas de cabelo. O meu sítio favorito para pechinchas? Agora é uma loja de electrodomésticos.
Estranhamente, a única coisa que parece aguentar o teste do tempo é a restauração. Em alguns casos, incompreensivelmente.
Peço uma boleia. Que me venham buscar ali à beira da farmácia, onde há um parque de estacionamento. Havia um parque de estacionamento, da última vez que ali passei. Agora é uma porta enorme fechada, e uma pequena loja de arte ao lado (fraquinha, muito fraquinha). Não há referências. Depois destes anos todos, descubro finalmente onde fica a porta do Lenbachhaus. E um monumento que nunca tinha visto - só lá está há mais de sessenta anos.

10 março 2015

É só futebol - mas a vida também é assim

Lá porque normalmente não dou porrada, não quer dizer que não saiba dar. Lá por habitualmente não encostar em velocidade, não quer dizer que não alinhe num bom encosto. Lá porque não costumo bloquear o caminho ao adversário, não é porque não seja capaz de o fazer. E bem.
Pode ser só um jogo. Pode ser a menos que feijões. Mas eu vou até onde vocês quiserem ir.
(Mas cuidado, malta, não vale a pena irmos todos parar ao hospital. Já bem bastam as unhas negras e os hematomas semanais.)

(E os dias em que estamos completamente em sintonia? Passe - golo, passe - golo, canto bem apontado - golo. Há duplas incríveis. Sabe tão bem jogar assim.)